Há muitos textos que falam sobre as qualidades de uma boa tradução,
eu mesma já publiquei vários aqui no
blog.
Basicamente, estas são as qualidades que uma boa tradução deve ter:
- fidelidade, fluência e naturalidade;
- precisão, coerência e correção gramatical;
- uniformidade e consistência terminológica;
- padronização de estilo.
Muito bem, conhecemos a nossa meta, mas, como chegar lá? O que se
considera um erro de tradução?
Sabemos aonde queremos chegar, mas precisamos de parâmetros que
possamos aplicar na prática para produzir um trabalho de qualidade.
Você já deve ter ouvido por aí que não existe uma tradução única,
perfeita, que a tradução é uma atividade subjetiva e que, por isso, é
impossível avaliá-la de forma objetiva. Assim, nenhuma tradução poderia considerar-se
errada. Diga isso para o revisor que rejeitou seu teste...
Obviamente isso não é verdade. Parafraseando o mestre Paulo
Henriques Britto, o fato de não termos certeza absoluta sobre alguma coisa não
significa que tenhamos incerteza absoluta. O fato de a tradução ser uma atividade
subjetiva não implica que ela não possa ser avaliada com certo grau de
objetividade. Isso não só é possível como é fundamental, do contrário não teríamos
como garantir um mínimo de fiabilidade.
Acreditar que não é possível avaliar a qualidade de uma tradução é
autossabotar-se, é impedir a si mesmo de avançar na carreira, é cair no
relativismo de que toda tradução é genuína e aceitável. A qualidade agrega
valor, enobrece.
Agora vamos tratar daquele intruso folgado que corrompe o nosso
texto: o erro.
Para isso contaremos com critérios objetivos, propostos pela
tradutóloga espanhola Amparo Hurtado Albir, que criou uma tabela de correção de
traduções. Eis uma versão levemente adaptada por duas professoras-tradutoras que
realizaram um estudo citado ao final deste texto:
INADEQUAÇÕES QUE AFETAM A COMPREENSÃO DO TEXTO ORIGINAL
CONTRASENSO (CS): Erro de tradução que consiste em atribuir um
SENTIDO CONTRÁRIO ao do texto original.
FALSO SENTIDO (FS): Consiste em atribuir um SENTIDO
DIFERENTE ao do texto original. Não diz a mesma coisa que o original por desconhecimento
linguístico e/ou extralinguístico.
SEM-SENTIDO (SS): Consiste em usar una FORMULAÇÃO DESPROVISTA
DE SENTIDO. Incompreensível, falta de clareza, compreensão deficiente.
NÃO MESMO SENTIDO (NMS): Consiste em APRECIAR INADEQUADAMENTE
UM MATIZ DO ORIGINAL (reduzir ou exagerar sua significação, introduzir ambiguidade,
erro dentro do mesmo campo semântico, etc.).
ADIÇÃO (AD): Consiste em INTRODUZIR ELEMENTOS de informação
desnecessários ou ausentes no original.
SUPRESSÃO (SUP): Consiste em NÃO TRADUZIR ELEMENTOS de informação
do texto original.
REFERÊNCIA CULTURAL MAL RESOLVIDA (CULT) INADEQUAÇÃO DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
(VL): Consiste em NÃO REPRODUZIR (OU REPRODUZIR INADEQUADAMENTE)
ELEMENTOS relativos à variação linguística, isto é, diferenças de uso e usuário:
tom (T), estilo (EST), dialeto (D), idioleto (ID).
2. INADEQUAÇÕES QUE AFETAM A EXPRESSÃO NA LÍNGUA DE CHEGADA
ORTOGRAFIA E PONTUAÇÃO (ORT) GRAMÁTICA (GR) LÉXICO (LEX):
Barbarismos, empréstimos, usos inadequados.
TEXTUAL (TEXT): Incoerência, falta de lógica, mau encadeamento
discursivo, uso indevido de conectores, etc.
REDAÇÃO (RED): Formulação defeituosa ou pouco clara, falta
de riqueza expressiva, pleonasmos, etc.
3. INADEQUAÇÕES PRAGMÁTICAS (PR)
Incoerentes com a finalidade da tradução (em relação ao tipo de solicitação,
ao destinatário a quem se dirige), o método escolhido, o gênero textual e suas
convenções, etc.
Fontes:
FÉRRIZ MARTÍNEZ, Carmen; SANS CLIMENT, Carles. Una propuesta
de intervención didáctica en la enseñanza de la traducción del portugués al
español: análisis de errores de traducción. MarcoELE: Revista de Didáctica, n.
11, p. 37-63, 2010. Disponível em: <http://marcoele.com/descargas/11/03.ferriz_sans.pdf>.
BRITTO, Paulo Henriques. A Tradução Literária. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
Outros textos sobre qualidade aqui no blog:
Controle de qualidade de textos traduzidos ou vertidos
Nenhum comentário:
Postar um comentário