Soube agora há pouco, pelas redes sociais, da triste
notícia da morte do escritor espanhol Carlos Ruiz Zafón. Há pouco tempo, para ser mais precisa em
abril deste ano, terminei de ler sua célebre série composta por quatro volumes, O Cemitério dos livros
esquecidos, em espanhol.
Sou uma leitora assídua, quase voraz. Ler é,
para mim, uma das atividades mais prazerosas. Quando estou lendo sinto como se atravessasse um portal para outra dimensão.
Sempre fui resistente aos best-sellers, campeões de
vendas, encaro-os com certa desconfiança, não sou muito chegada a unanimidades,
sei que é uma postura preconceituosa e que posso estar perdendo com isso, mas
prefiro ouvir minha intuição.
O primeiro livro que li de Zafón foi A Sombra do Vento, que é
justamente o primeiro livro da série mencionada no início desta postagem.
Chegou às minhas mãos através de minha irmã, em uma das viagens que fiz à
Espanha, como um presente usado — o que eu valorizo como um gesto de desapego, você
só dá algo de que você gosta para alguém de quem você gosta — e deve ter dito
algo do tipo "espero que você goste", ou talvez sejam minhas
impressões melancólicas adulterando minhas lembranças.
A Sombra do Vento... título curioso, meio piegas... para
alguém implicante e meio cética. Ora, todo o mundo sabe que a sombra não tem
vento, mas não deixa de soar poético e sombrio. Sem mais delongas, o fato é que
quando comecei a ler o tal livro aconteceu aquele "match", para quem
gosta de estrangeirismos da moda, ou aquela "fisgada" ou
"flechada". Em outras palavras, o livro me prendeu ao ponto de fazer-me procrastinar algumas obrigações...
Mas, por quê? Por que a leitura era tão envolvente?
Meus favoritos sempre foram os clássicos, e eu torcia o
nariz para os mais vendidos, um sentimento conservador, de resistência, mas porque
raios aquele produto campeão de vendas me prendeu daquele jeito?!
Dizia Fernando Pessoa: "O poeta é um fingidor. Finge
tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente".
O escritor de ficção é basicamente um contador de histórias; mas, para que a história
consiga envolver o leitor, é preciso que ela seja verossímil, que o leitor a
sinta como verdadeira, para que ele entre na pele da personagem e viva sua
trama. Em sua Arte Poética, Aristóteles fala do conceito de "catarse"
como a purificação das almas através de uma grande descarga de sentimentos e
emoções provocada pela visualização de obras teatrais, como a tragédia. Quando
o público captava tais emoções e as tomava para si, era capaz de livrar-se das próprias e alcançar essa
sensação de purificação, de redenção.
O que eu quero dizer é que Zafón consegue fazer isso com seus
relatos, consegue colocar-nos na pele dos personagens para que experimentemos seus
dramas, suas emoções nuas e cruas, para expiar as nossas, deixando a alma mais
leve. Mas nada disso seria possível se o autor não transmitisse verdade em suas
palavras, se ele próprio não acreditasse no que diz, se não vertesse um pouco
de si mesmo nas páginas que escreve, se fosse apenas um fingidor... acho que é
essa a resposta para o êxito de seus livros.
Já li duas vezes esse livro, quem sabe seja um bom momento
para lê-lo uma terceira, desta vez em português.
Então, talvez alcançar essa "comunhão de almas"
seja o verdadeiro sucesso de um livro.
Vá em paz, Zafón! Sua obra é reflexo de sua alma.
Vá em paz, Zafón! Sua obra é reflexo de sua alma.
Concordo totalmente. Se o autor escreve verdades, seu texto será autêntico, e poderá ser denso, prender o leitor, levá-lo consigo por mundos vastos, por lugares desconhecidos...
ResponderExcluirObrigada por visitar meu blog! ;-)
ResponderExcluir100% E ACORDO
ResponderExcluirO MELHOR LIVRO QUE JA LI