Bom dia, queridos leitores! Espero que tenham desfrutado das festas de fim de ano ao lado — ou ainda, em pensamento — de pessoas queridas e que comecem o ano com o pé direito e com muita esperança.
De minha parte, para começar bem o novo ano, nada como um post sobre literatura e tradução... minhas fraquezas, uma vez que não posso resistir a elas. Quem acompanha minhas publicações conhece minha fascinação pelo mundo dos livros. No entanto, como tradutora e amante das letras, quando leio um livro não posso abster-me de prestar atenção ao trabalho com o texto. E quando se trata de uma tradução, concentro-me na naturalidade, na fluidez, nos idiomatismos, nas referências culturais, etc. Para mim, a leitura, antes de mera distração, é também um exercício e um instrumento de reflexão.
Em se tratando de tradução literária, sou partidária das teorias que defendem que o bom tradutor é aquele que aparece o mínimo possível, que modestamente se apaga em nome do original, isto é, que tenta reproduzir para o leitor, da maneira mais fiel possível, a experiência que este teria se pudesse ler o original. Não é esta, por si só, uma tarefa suficientemente louvável? Discordo da ideia de que a diferença entre o original e a tradução seja mero preconceito. Existe, sim, uma relação de subordinação da tradução para com o original, por tanto, traduzir é uma tarefa servil, subserviente. Não vejo problema nenhum nisso, pelo contrário, aí reside sua grandeza.
De minha parte, para começar bem o novo ano, nada como um post sobre literatura e tradução... minhas fraquezas, uma vez que não posso resistir a elas. Quem acompanha minhas publicações conhece minha fascinação pelo mundo dos livros. No entanto, como tradutora e amante das letras, quando leio um livro não posso abster-me de prestar atenção ao trabalho com o texto. E quando se trata de uma tradução, concentro-me na naturalidade, na fluidez, nos idiomatismos, nas referências culturais, etc. Para mim, a leitura, antes de mera distração, é também um exercício e um instrumento de reflexão.
Em se tratando de tradução literária, sou partidária das teorias que defendem que o bom tradutor é aquele que aparece o mínimo possível, que modestamente se apaga em nome do original, isto é, que tenta reproduzir para o leitor, da maneira mais fiel possível, a experiência que este teria se pudesse ler o original. Não é esta, por si só, uma tarefa suficientemente louvável? Discordo da ideia de que a diferença entre o original e a tradução seja mero preconceito. Existe, sim, uma relação de subordinação da tradução para com o original, por tanto, traduzir é uma tarefa servil, subserviente. Não vejo problema nenhum nisso, pelo contrário, aí reside sua grandeza.
Discordo das teorias que defendem uma intervenção direta do
tradutor, introduzindo nos textos alguma passagem destoante, como um
anacronismo, uma gíria atual em um romance de outra época, por exemplo, de forma
deliberada, para que o leitor perceba que está lendo uma tradução. Em minha
opinião, essa é uma forma espúria de fazer-se visível.
Recentemente, ao ler o livro Misto-quente, de Charles Bukowski, tradução de Pedro Gonzaga, observei duas formas positivas e lícitas, a meu ver, de o tradutor fazer-se visível: por meio da apresetanção do livro e das notas do tradutor.
É claro que para isso é necessário o aval da editora. Merece reconhecimento a atitude da LP&M que abriu para o tradutor um espaço geralmente reservado ao próprio
autor, a outro escritor ou a um crítico literário: a apresentação. Parece-me
uma decisão inteligente, já que o tradutor tem uma visão ampla, mas ao mesmo
tempo singular da obra, resultado do contato íntimo e intenso com esta. De fato, a apresentação do livro em questão ficou muito boa: reveladora na medida certa sem estragar a surpresa
ou, como se diz por aí, sem spoiler. Essa sim é uma forma legítima de o tradutor
aparecer.
Outra participação louvável foi a inclusão de notas do tradutor
(n.t.). Embora alguns as vejam como um sinal da incapacidade de lidar com os
problemas de tradução no próprio texto, ou ainda, como um recurso invasivo ou
condescendente com o leitor, acredito que, em algumas situações, não só são admissíveis como também necessárias. No livro em questão, o tradutor incluiu
diversas notas sobre o futebol americano, personagens e fatos históricos ou culturais,
todas muito pertinentes. Neste caso, considero um recurso válido, uma vez que
enriquece a leitura e sacia a curiosidade do leitor.
Já no campo literário, em uma época em que impera a hipocrisia do politicamente correto, é libertador ler um desabafo honesto, despido de escrúpulos, de alguém que se sente desajustado e que expressa sua insatisfação com uma crueza que, embora possa incomodar em alguns momentos, também é capaz de despertar empatia e compaixão. Misto-quente é um romance de formação que questiona a influência do meio sobre o indivíduo. Relata a infância, a puberdade e o início da vida adulta de Henry Chinaski, um garoto alemão que aos três anos de idade se muda com a família para os bairros pobres de Los Angeles.
Por meio da ligação de lembranças e impressões, o narrador-protagonista reconstrói seu trágico desenvolvimento relatando os momentos que mais o marcaram: a sensação de ter sido adotado, a indiferença da mãe e o sadismo do pai, que o surrava pela mínima razão; as dificuldades financeiras e familiares por ocasião da grande depressão; o tormento e o sofrimento físico devido a um caso extremo de espinhas; a dificuldade de relacionar-se com ou outros e o bullying. Tudo isso vai matando a esperança do garoto, que mergulha cada vez mais no pessimismo e na degradação, buscando refúgio na bebida e extravasando sua frustração contra poucos que ainda o procuram.
A linguagem soez reflete as misérias das lembranças. O estilo direto e impudico do autor, livre de subertfúgios, rendeu-lhe o estigma de escritor de segunda linha, malgrado seu talento criativo. Alguns dizem que há muito de Bukowski em suas histórias e personagens. Pedro Gonzaga, o tradutor, em sua apresentação, contesta essa afirmação dizendo que "O forte caráter autobiográfico que pode, com certeza, ser encontrado ao longo de toda obra é somente o meio e nunca o fim.".
Nietzsche disse uma vez "Quem tem um porque pode suportar qualquer como". Mas e quem não o tem? Para este, a existência se torna insuportável, restando somente a desolação. A atitude de Chinaski desperta sentimentos antagônicos, se por um lado seu sofrimento invoca piedade; por outro lado, sua impassividade e indiferença causam repulsa.
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