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quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Meus 10 livros favoritos

Hoje vou falar dos meus dez livros da vida... Primeiramente devo dizer que foi uma tarefa muito difícil escolher apenas dez entre tantos livros incríveis que já li, então escolhi aqueles que me afetaram de forma mais pessoal e que ilustram bem meus gostos literários. Salvo as capas de O sol é para todos e El príncipe feliz y otros cuentos, as demais são ilustrativas, pois já não lembro quais edições li. Algumas leituras foram em papel; e outras, em leitor digital. Falarei um pouco de cada uma delas:

    1.    Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes
Se eu tivesse de escolher somente um livro entre todos, escolheria Dom Quixote, porque é uma obra tão abrangente que abarca praticamente todas as questões literárias e filosófico-existenciais. Em termos literários, é considerado o pai do romance moderno porque implementou a fórmula do realismo, a crítica social, além disso criou o romance polifônico, que interpreta a realidade a partir de várias perspectivas sobrepostas, combina vários gêneros, como o dramático, o conto, a fábula, a lenda, etc.; e, em termos existenciais, aborda questões, como a liberdade, a justiça e o amor. Além disso, é uma obra que reverbera em toda a produção literária universal. Cervantes conseguiu dominar o imaginário, aliar erudito e popular, realidade e ficção e condensar os ideais de justiça e liberdade na figura de um louco incauto, e é por isso que o livro é tão comovente, porque o protagonista acredita piamente em sua capacidade de mudar o mundo, ainda que tudo não passe de ilusão. 
E, como se tudo isso fosse pouco, é diversão garantida!



2.    El príncipe feliz y otros cuentos, de Oscar Wilde (tradução de Flora Casas)
Este livro é muito especial para mim, pois ele me introduziu na literatura adulta. Ganhei-o quando eu tinha cerca de dez anos como presente de minha mãe. Acostumada aos contos infantis de Christian Andersen e dos irmãos Grimm, quando li Oscar Wilde, experimentei sensações totalmente diferentes. Os contos de Wilde não tinham finais felizes, eles eram melancólicos e tristes, mas extremamente belos. Foi assim que nasceu meu fascínio pelo universo literário.
Assim como os contos de Oscar Wilde, O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, foi outro livro adulto disfarçado de literatura infantil, que marcou minha infância devido ao seu teor filosófico e poético. Desculpem meu deslize, admito que houve certa trapaça de minha parte ao enfiar mais um livro aqui... Mas convenhamos que ambos os príncipes são adoráveis...

     3.    O sol nasce para todos, de Harper Lee (tradução de Maria Aparecida Moraes Rego)
Peguei este livro emprestado na biblioteca pública de Foz do Iguaçu quando eu tinha uns 12 anos. Escolhi-o pela capa e pelo título, não fazia ideia de estar levando para casa um clássico da literatura mundial. Acho que o que mais me cativou nele foi o fato de a história ser narrada desde a perspectiva de uma criança. Este livro me fez refletir sobre algo que até então me era estranho, o racismo e a injustiça.


4.    Dom Casmurro, de Machado de Assis
Dom Casmurro é aquele livro que me conquistou pelo estilo irônico, crítico e pessimista do autor. Depois de ter lido algumas obras do ultrarromantismo brasileiro em que o amor é idealizado, como Senhora, de José de Alencar, ou A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, deleitei-me com a perspicácia de Machado, seu humor ácido, sua crítica social e as novidades estilísticas: o diálogo com o leitor, a descrição psicológica das personagens, a linguagem enxuta e a interpretação aberta que permite diversas interpretações, sem falar na imagem da mulher, livre do estereótipo da mocinha angelical e romântica.
5.    As Meninas, de Lygia Fagundes Telles
Este livro eu peguei emprestado na biblioteca de Itaituba, uma cidade do interior do Pará, onde vivemos durante dois anos. Peguei sem pretensão alguma, sem conhecer a autora, sem saber nada a respeito. Mal sabia eu que estava levando um cânone da literatura feminina brasileira para casa. E hoje me pergunto por que esta autora é relegada das faculdades de letras? Sem dúvida, uma grande injustiça. Merece destaque neste livro a forma como a narrativa é construída, a partir da perspectiva de três amigas, isto é, três focos narrativos que se alternam ao longo do livro e que nos ajudam a construir uma visão multifacetada da relação entre as personagens. Recurso semelhante, em minha opinião, ao utilizado por Mario Vargas Llosa em La ciudad y los perros, livro que também faz parte desta lista.  


6.    A Metamorfose, de Franz Kafka (tradução de Modesto Carone)
Este livro eu li na faculdade, durante o curso de letras. Apresentamos um trabalho sobre ele na disciplina de Literatura Ocidental. Fiquei obcecada pelo autor e acabei lendo outras obras suas, como O castelo, O Processo, O veredicto, Na colônia penal e Carta ao pai. Foi então que aprendi a analisar a obra de uma forma mais abrangente, a literatura como arte, os aspectos estéticos, culturais e sociais. A influência do momento histórico, a intertextualidade, a crítica literária, enfim, foi um divisor de águas entre a leitura meramente recreativa e a reflexiva. Não que a primeira seja inútil, mas a segunda nos permite ver além do senso comum.
Quanto à história em si, a transformação de um ser humano em inseto representa o absurdo e pressagia, ainda que inconscientemente, o horror que estava por vir, pouco tempo depois, nos campos de concentração, a desumanização do homem, o extermínio de seres humanos como se insetos fossem.


     7.    Los santos inocentes, de Miguel Delibes
Esta também foi uma leitura de faculdade, como parte do currículo de Literatura Hispânica. É uma obra contundente sobre a desigualdade social da Espanha rural da época franquista, pós-guerra civil. O autor denuncia de uma forma lírica a exploração e o abuso de poder dos proprietários das terras para com seus empregados, cujas vidas também lhes pertencem. O protagonista é um empregado com deficiência mental, extremamente simples e inocente, que nutre um sentimento de devoção pela ave de rapina da qual cuida, e que o acompanha nas caçadas de pombos com o patrão. O nome do livro se refere aos santos inocentes, os meninos assassinados a mando do rei Herodes, que pretendia matar Jesus entre eles. Assim são as personagens deste livro, inocentes sem livre arbítrio, até o momento em que se produz uma trágica reviravolta.

 8.    La ciudad y los perros, de Mario Vargas Llosa
Foi graças a este livro que me tornei fã do autor. Esta é mais uma dessas obras que conquista prêmios, ultrapassa fronteiras e se torna conhecida mundialmente e acaba sendo adaptada para o cinema. Quantos jovens já não fizeram parte ou desejaram fazer parte de um grupo para adquirir uma identidade, integrar-se e enfrentar juntos uma realidade adversa? Este livro conta a história de um grupo de alunos novatos de um colégio interno militar que se une para enfrentar as humilhações e castigos impostos pelos alunos veteranos. Assim como no livro As meninas, de Lygia Fagundes Telles, a narrativa é um ponto alto. Ela se dá através da alternância de monólogos interiores e de saltos abruptos entre o passado e o presente, o que torna a leitura mais desafiadora. Além disso, aborda questões que assolam não somente a sociedade peruana, mas grande parte dos países latino-americanos: a desigualdade social, o machismo e o preconceito racial para com os mestiços de índios e negros. Sem dúvida, é um ícone da literatura hispano-americana e mundial. Para saber mais, leia a resenha que publiquei aqui no blog http://www.tradutoradeespanhol.com.br/2015/11/bueno-como-hacetiempo-que-no-publico.html
      9.    As vinhas da ira, de John Steinbeck (tradução de Ernesto Vinhaes e Herbert Caro)
Esta é outra daquelas obras que deixam marcas... Também premiada, relata as dificuldades de uma família que, durante a grande depressão, se vê obrigada a abandonar a região do Oklahoma, castigada pela seca e que sofre com uma terrível tempestade de areia, para dirigir-se à Califórnia seduzidos pela promessa de trabalhos e bons salários. A obra relata a pobreza extrema das famílias de imigrantes, que além da miséria, sofrem discriminação por onde passam e que, para sobreviver, são obrigadas a submeter-se a todo tipo de humilhação e exploração. O final do livro é um dos mais comoventes que já li.


10. Los que vivimos, de Ayn Rand (tradução de Luis Kofman)
E para fechar com chave de ouro, esta lista que não se encerra aqui, pois ainda tenho muito que ler, um livro que infelizmente ainda não foi traduzido ao português, Los que vivimos, de Ayn Rand (em inglês, We the living). Li este livro no momento em que vivíamos a pré-eleição aqui no Brasil, em 2018. A história deste livro está ambientada na Rússia comunista, logo após a revolução proletária. Apesar de não ser uma obra autobiográfica, a autora sofreu na pele as amarguras do comunismo e conseguiu naturalizar-se americana após uma arriscada fuga da União Soviética. Minha família também sofreu na pele essas amarguras, meu pai fugiu da Alemanha Oriental; e minha mãe, de Cuba, junto com sua família. Assim, esta obra só veio confirmar minha convicção de que se trata de um regime nefasto, empenhado em eliminar todo individualismo em nome da coletividade, ou seja, sufocar todas as paixões e ilusões pessoais, em nome do Estado. Nas palavras da autora, “Viver para o Estado é um princípio mau e não pode levar a nada que não seja mau”. A protagonista é Kira, uma jovem determinada, ousada e apaixonada, capaz de trair seus princípios em nome do amor e da liberdade. Também dediquei uma postagem a este livro aqui no blog. http://www.tradutoradeespanhol.com.br/2018/01/acerca-del-libro-los-que-vivimos-de-ayn.html

Como a vida segue seu curso e eu continuo lendo, esta lista deve aumentar e, em algum dado momento, devo publicar uma nova lista com outros dez livros.

E você, caro leitor, gostou dessa lista? Gostaria de deixar alguma indicação ou de apresentar sua própria lista? Fique à vontade para deixar seus comentários, que os lerei com muito prazer.

2 comentários:

  1. Oi, Diana, tudo bem? Aqui é a Brenda, do Sobre Livros e Traduções!

    Muito obrigada pela visita e comentário. Adorei o seu blog e já estou seguindo no Instagram!

    Beijo,
    Brenda
    https://sobrelivrosetraducoes.com.br/

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    1. Que bom que você gostou, Brenda, eu também adorei o seu!
      Beijos

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