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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Diferenças entre os lares do Brasil e da Espanha


Hoje vamos falar das casas dos espanhóis, mais especificamente da capital, Madri, e seus arredores. São minhas observações pessoais, por isso já peço desculpas antecipadamente, pois não dá para generalizar. Certamente o que digo aqui não se aplica a todas as regiões nem a todos os lares, trata-se apenas a minha experiência pessoal, mas não deixa de ser instrutivo.



Particularmente, eu gosto bastante das construções mais antigas porque lembram minha infância. A foto acima foi tirada no bairro La Elipa, onde morei quando era pequena (inclusive já brinquei nesse emblemático dragão). Os edifícios desse bairro apresentam a tipologia correspondente às construções de "protección oficial" — ou seja, de preço limitado parcialmente subvencionado pela administração pública — do período de 1960-1970. 

Constituem blocos de uma altura limitada a 4 ou 5 andares com fachada de tijolo à vista e sacada com guarda corpo de ferro e os típicos toldos verdes nas janelas que ajudam a sobreviver ao abrasador verão madrilenho. Uma coisa curiosa é que esses apartamentos mais antigos não tinham elevador, mas como na Espanha a população idosa vem aumentando a cada ano, recentemente têm sido construído elevadores externos ao prédio, com entrada pela sacada, para facilitar a mobilidade dos moradores. Outro problema desses prédios mais antigos é que a maioria não tem garagens, consequentemente há uma disputa constante pelas vagas de estacionamento na rua e muitas pessoas acabam estacionando de forma irregular.

Cabe mencionar que lá então não se vê esse mar de grades, cercas elétricas e concertinas que vemos por aqui, esse tipo de preocupação se restringe mais aos bairros horizontais compostos por casas e situados nos arredores de Madri. Nos últimos três anos, estivemos morando em Belém do Pará, e uma coisa que me incomodava bastante era a quantidade absurda de grades e cercas nas casas, que as deixava com aparência de presídio, mas infelizmente o medo da violência faz parte da nossa realidade.

Para enfrentar o inverno, que é bastante rigoroso, a maioria dos apartamentos é dotada de calefatores ou radiadores a gás de parede, como o que aparece na foto. Nos banheiros, usam-se radiadores ou estufas de resistência portáteis para evitar o choque térmico ao sair do banho quente.

Como eu disse, a maioria dos madrilenhos vive em apartamentos, e aqueles que preferem morar numa casa, precisam mudar-se para urbanizações nos arredores de Madri, ou na região serrana. Isso proporciona qualidade de vida, mas tem um custo alto, a perda de tempo nos engarrafamentos em horários de pico nos deslocamentos entre a casa e o trabalho e o aumento de despesas com aquecimento, pois o frio extremo da região serrana exige um maior investimento em pisos aquecidos, lareiras, e isolamento térmico.

Mas voltando ao banheiro, na Espanha não se joga o papel higiênico nas papeleiras, somente em banheiros públicos, mas não nos residenciais.  Lá os encanamentos são preparados para receber o papel e não entopem como aqui, por isso o papel é jogado no vaso. Por tanto, se você vir uma papeleira no banheiro, saiba que ela serve para jogar qualquer tipo de lixo, menos papel higiênico. O chuveiro também é diferente do nosso, eles chamam de ducha, não é fixo, é dotado de uma mangueira e fica pendurado num gancho, de onde é possível retirá-lo e usá-lo como os nossos chuveirinhos.

Os banheiros de antigamente sempre tinham a banheira com a ducha, mas hoje em dia é comum usar somente o chuveiro com box, por uma questão de sustentabilidade, já que a banheira consome muita água.  

Agora vamos passar para a cozinha. Na Espanha, praticamente ninguém lava a louça à mão, isso é feito pelo lava-louças, é um utensílio comum, assim como a geladeira, o preço dos eletrodomésticos em geral é mais acessível. Pessoalmente, sempre tive curiosidade de saber o que é ambientalmente mais sustentável: lavar a louça à mão ou na máquina? Na Espanha há muita escassez de água. 

Eu nunca vi um botijão de gás ou mesmo um fogão a gás por lá, as cozinhas são equipadas com fogão elétrico de mesa coberto com vitrocerâmica. Outra coisa que você não vai encontrar por lá é a nossa típica panela de pressão com a válvula com pino. Quando veio ao Brasil, o meu cunhado olhava para a minha panela de pressão como se se tratasse de uma bomba (o botijão de gás então... uma ogiva nuclear!). Realmente a nossa cozinha parece muito rudimentar e perigosa perto da deles, mas também é uma questão de costume e cultura, pouco a pouco nos adaptaremos às novas tendências.




Como os cômodos dos apartamentos são bastante reduzidos, e atualmente os jovens demoram bastante em sair de casa devido ao alto índice de desemprego ou ao alto custo de vida, o espaço precisa ser muito bem aproveitado. Assim, é comum que, ao cair da noite, ocorra uma verdadeira transformação nos ambientes e uma sala de estar vire um dormitório, a mesa vire um aparador, e assim por diante. Há sofá-cama, armário-cama, mesa-cama, mesas que duplicam de tamanho, aparadores que viram mesas, tudo se adapta e se transforma, um verdadeiro exemplo de criatividade e funcionalidade.



Outra coisa curiosa é que não se passa pano no chão para limpar a casa. Lá não se usa rodo e pano, mas sim fregona, o esfregão com balde e espremedor. Ah, sim, um costume extremamente louvável é o de separar o lixo reciclável do orgânico, todos fazem isso. E ninguém joga restos de remédio no lixo caseiro, as pessoas os entregam nos pontos de coleta que ficam nas farmácias. O mesmo ocorre com as pilhas e outros lixos específicos. Também há pontos de coleta de eletrodomésticos e roupas e calçados para doação.

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