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Como não dormi bem
esta noite, resolvi destilar um pouquinho da minha peçonha falando de algumas
coisas irritantes em termos linguísticos, não o são todas na mesma intensidade,
cada uma o é à sua maneira.
Uma coisa irritante, bem irritante mesmo, tipo grau 11 numa escala de 0 a 10, é esse papo de
que a gramática é um instrumento de opressão e de poder usado para subjugar o
povo. “Pelamadrugada”... é tudo o contrário; primeiro, a gramática não é o fim,
não se ensina gramática simplesmente para escrever bem, mas para ter acesso à
beleza da língua; segundo, a gramática e o domínio da língua nos tornam pessoas
mais autônomas, capazes de expressar-nos com clareza, de defender e refutar
ideias; terceiro, quem defende essa teoria o faz num português impecável,
quanta hipocrisia, não? Parei por aqui.
Outra coisa bem
irritante na escala da irritabilidade é essa tendência de impor a linguagem politicamente
correta, muitas vezes me parece uma atitude extremamente cínica, que em lugar
de promover justiça faz exatamente o contrário, mascara a realidade e provoca
ojeriza. No Brasil, por exemplo, a situação melhorou bastante, agora não há
mais favelas, mas sim comunidades; não há mais pobres, mas sim menos
favorecidos; não há mais negros, mas sim afrodescendentes; não há mais
viciados, mas sim dependentes químicos; não há mais aborto, mas sim interrupção
da gravidez; não há mais mentiras, mas sim inverdades, e por aí vai... É uma
bela forma de camuflar a realidade. As palavras ofendem? A realidade também.
Não me entendam mal,
uma coisa é dizer idoso em lugar de velho, educação nunca fez mal a ninguém,
mas há um certo exagero, esses dias custei a entender quando meu primo disse
que tinha um colega invidente, a ficha demorou a cair, tratava-se de um cego. Ops,
foi mal.
É muito irritante
também esse sexismo na linguagem, essa coisa enfadonha de professores e
professoras, alunos e alunas, brasileiros e brasileiras, trabalhadores e
trabalhadoras, ou pior ainda, transgredir a norma inserindo um símbolo de
arroba (alun@s) ou um x (alunxs) para dizer que o adjetivo se refere aos dois
gêneros. Gênero é uma categoria gramatical, sexo é outra coisa. Isso lembra aquele
caso cômico, se não fosse trágico, quando alguém que fez referência aos homo
sapiens e às mulheres sapiens em seu discurso populista.
Tem mais? Tem sim...
Essas fakes em matéria de linguagem, que são repetidos incansavelmente: “não se
deve usar dupla negativa”, “não se diz risco de morte e sim risco de vida”, “não
se usa vírgula antes de etc.”, “não se deve usar a expressão espaço de tempo”...
Quanta besteira! A língua não segue a
mesma lógica da matemática nem de outras disciplinas, ela tem seus próprios
recursos e mecanismos de coerência.
Também é irritante
essa ideia de que corrigir o outro é preconceito linguístico. Pior é deixar a pessoa sair falando feito cavernícola “O chefe pediu pra mim fazer um
relatório”. É obvio que você não vai chegar feito um árbitro de futebol,
apitando e mostrando o cartão vermelho, mas você pode, sutilmente, mostrar o
uso correto “ah, ele pediu para eu fazer um também”. Se houver uma
relação de confiança, fale francamente, em privado, garanto que seu amigo ficará
agradecido. Insultante é fingir-se de morto.
Pronto, por hoje é só.
Estou bem mais leve!
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