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quinta-feira, 24 de maio de 2018

Quanto vale seu trabalho?

Não vamos falar aqui simplesmente de valores monetários, de orçamento: quantos centavos por palavra custa uma tradução. Esqueçamos um pouco o dinheiro e vamos falar de valor num sentido mais amplo.

O que atribui valor a uma tradução?

Seria a produtividade, a capacidade de traduzir o maior número de palavras no mínimo intervalo de tempo?  

Não necessariamente, já que é possível traduzir mil palavras em uma hora e o resultado ser tão espantoso que nem o próprio São Jerônimo, com a ajuda de Lutero e Nostradamus, conseguiria decifrar.

Então seria o domínio das duas línguas?

O domínio das duas línguas é fundamental, sim, mas também não garante a qualidade da tradução. Assim como o fato de alguém dominar profundamente o português não garante que ele possa tornar-se um escritor. Para traduzir com qualidade, não basta o perfeito domínio de duas línguas, além de produzir um texto inteligível, é preciso o tal do “feeling”, no sentido de sensibilidade, intuição, capacidade de percepção: o resultado deve ser um texto fluido e natural, que reproduza os efeitos do texto original.

Enfim, para negociar um bom preço, é preciso oferecer valor. E isso envolve empenho, habilidade e especialização. O que foi questionado acima é fundamental: produtividade e domínio das duas línguas, mas não é o suficiente para garantir a qualidade. É prezando a qualidade que se agrega valor ao trabalho e se conquista o cliente.

E, para concluir, um pequeno texto para refletir sobre o binômio preço-valor:

Numa fábrica, um aparelho complexo se avaria. Vêm os melhores técnicos, trabalham dias inteiros, com toda a espécie de sofisticadas ferramentas, mas não conseguem fazê-lo funcionar. Finalmente, chega um velho com uma malinha. Tira de dentro dela um simples martelo, dá uma pequena pancada na engrenagem do aparelho e ele entra em funcionamento. O velho pede um milhão de dólares por seus serviços. Os fabricantes reclamam:
— Como é possível? O senhor tem a ousadia de pedir um milhão de dólares por uma única martelada!
— Não — responde o ancião —, a martelada custa um dólar. Os estudos que tive que fazer para poder dá-la com bons resultados custam um milhão.

Alejandro Jodorowsky, em seu livro A dança da realidade.

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