Recentemente deparei com duas situações que me fizeram refletir sobre a ética na prática tradutória e sobre os limites da interferência do tradutor no texto original.
Sem entrar em detalhes, recebi uma solicitação de tradução acompanhada de uma sugestão por parte do gerente de projetos de substituir um termo por outro (por razões evidentemente políticas) alegando que o segundo lhe parecia mais honesto. Esse fato chamou minha atenção porque nunca tinha me acontecido algo assim.
O que fiz? Respondi gentilmente dizendo que não podia agir dessa forma porque o autor do texto não havia escolhido o termo ao acaso e que, ainda que o tradutor discordasse das escolhas do autor, deveria respeitá-las, do contrário, estaria agindo de forma desonesta.
Sem entrar em detalhes, recebi uma solicitação de tradução acompanhada de uma sugestão por parte do gerente de projetos de substituir um termo por outro (por razões evidentemente políticas) alegando que o segundo lhe parecia mais honesto. Esse fato chamou minha atenção porque nunca tinha me acontecido algo assim.
O que fiz? Respondi gentilmente dizendo que não podia agir dessa forma porque o autor do texto não havia escolhido o termo ao acaso e que, ainda que o tradutor discordasse das escolhas do autor, deveria respeitá-las, do contrário, estaria agindo de forma desonesta.
A outra situação que presenciei foi o uso de um termo politicamente
correto, mas impreciso no texto em questão. Empregou-se o termo "gênero" — um conceito sociológico que se refere a papéis sociais —, num formulário que requeria uma distinção biológica: “sexo”. Essa confusão de conceitos é
frequente devido ao medo de parecer preconceituoso, ou ainda, por acreditar que “gênero” seja mais elegante que "sexo". Neste caso, conversei com o cliente e, depois de explicar a diferença, ele consentiu a alteração.
Da mesma forma que em outras profissões, ocasionalmente
os tradutores podem enfrentar dilemas éticos em seu dia a dia.
Imagine um tradutor que receba uma solicitação de um partido político ao qual
se opõe firmemente, ou um texto que critique sua religião, ou ainda, que
promova práticas ilegais.
Além das questões morais ou legais descritas acima, pode ocorrer de o tradutor receber um texto perfeitamente legal, mas extremamente
desagradável, que fira sua sensibilidade, como um texto que relate crimes
bárbaros, tabus, etc. O que fazer nesses casos?
Antes de aceitar uma solicitação, é
importante perguntar do que se trata. No entanto, uma vez que você tenha aceitado o
pedido e se sinta desconfortável com o assunto abordado, seja por questões
morais, ou por outros motivos, manifeste-se imediatamente, recusando o trabalho
e expondo (ou não) suas razões.
Agora, se a discrepância não for tão grave a ponto de
fazê-lo rechaçar o trabalho — como nos exemplos que relatei no início do texto —, seja objetivo,
distancie-se do tema, e respeite as escolhas lexicais do autor. O bom tradutor
deve ser capaz de traduzir fielmente textos que expressem opiniões contrárias à
sua. Se você não for capaz de manter-se imparcial, recuse o trabalho.
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