Páginas

quinta-feira, 30 de março de 2017

Glossário de gestão de projetos de tradução


Antes de aceitar um projeto de tradução, é muito importante entender bem o conteúdo da mensagem. A área de gestão de projetos de tradução, assim como qualquer outra, tem sua própria terminologia especializada, cujo objetivo é padronizar e agilizar a comunicação entre gerentes de projetos e prestadores de serviços. Como não poderia deixar de ser, o inglês predomina nesse contexto. Por isso, ainda que você não fale o idioma, precisa conhecer ao menos algumas expressões e palavras-chave. Para ajudar nessa tarefa, apresentamos um pequeno glossário que todo profissional da área de tradução deveria conhecer.

Quero expressar um agradecimento especial a duas feras da área: Mitsue Siqueira e Bruno Fontes, que contribuíram com toda sua expertise e sem os quais este artigo não seria possível. Valeu!!!

ASAP (As Soon As Possible) = tão logo quanto possível, o quanto antes.
Blacklist = a lista negra é uma relação de palavras que nunca devem ser usadas em um texto.
CAT Tool / CAT (Computer Assisted Translation) = ferramentas de auxílio à tradução (ou tradução assistida por computador), como memoQ, Trados, Wordfast, OmegaT, Déjà Vu e outras.
CEO (Chief Executive Officer) = diretor executivo.
Cleanup = o processo de cleanup apaga o texto original e as tags da visualização, deixando a tradução “limpa”. O termo ficou famoso quando grande parte das traduções eram feitas no Word, com os textos de origem e destino separados por tags, como {0>Source<}0{>Target<0}. Atualmente, o cleanup se assemelha a um processo de conversão, em que a CAT Tool substitui o texto original pelo traduzido, gerando o arquivo final.
Coaching = treinamento direcionado, orientação profissional especializada.
Cotejo = comparação de segmentos dos textos original e traduzido que visa identificar as semelhanças e diferenças.
Deadline = prazo final, dia/hora de entrega da tradução.
Deliverable = consiste em todo o conteúdo a ser entregue no fim de um projeto. Por exemplo, o deliverable de projetos de tradução nas agências costuma ser o arquivo bilíngue na CAT Tool. Relatórios de ferramentas de QA, como o Xbench, também podem ser considerados deliverables de um projeto.
DNT list (Do Not Translate) = palavras que devem continuar no idioma de origem.
DTP (Desktop Publishing) = a editoração eletrônica consiste em editar textos e publicações por meio de software específico para edição avançada de imagens. Em tradução, programas comuns de DTP são o InDesign e o FrameMaker.
DTPer (Desktop Publisher) = profissional que trabalha com editoração eletrônica.
Editing = revisão minuciosa que envolve o cotejo do texto nos idiomas original e traduzido.
ENU = inglês dos Estados Unidos.
ENG = inglês da Inglaterra.
EOB (End of Business Day) = fim do expediente (18h).
EOD (End of Day) = fim do dia (23h59).
ESL = espanhol latino-americano.
ETA (Estimated Time of Arrival) = hora aproximada de chegada (de um arquivo, projeto etc.).
Expertise = habilidades e conhecimento adquiridos em determinada área por meio de estudo, experiência e prática.
TBC (To Be Confirmed) = a ser confirmado, confirmação em aberto, confirmação pendente.
Feedback = processo pelo qual um texto é analisado para determinar não apenas os pontos passíveis de melhoria, mas também destacar os pontos positivos.
Freela/Frila = gíria para freelancer, profissional autônomo.
FTP (File Transfer Protocol) = local de armazenamento online compartilhado onde é possível enviar ou receber arquivos.
Fuzzy match = frases com aproveitamento de palavras em relação à TM.
FYI = For You Information, para sua informação, para seu conhecimento.
G11N (Globalization) = abreviatura de globalização. Abrevia-se dessa forma porque há 11 letras entre as letras G e N.
Gestor de terminologia = software usado para carregar e gerenciar glossários e termbases em geral, como o Multiterm.
Hand-back = devolução do serviço, entrega da tradução.
High fuzzy = frases com aproveitamento de palavras muito alto em relação à TM.
IA = Inteligência Artificial
I18n (Internationalization) = abreviatura de internacionalização. Abrevia-se dessa forma porque há 18 letras entre as letras I e N.
Insight = ideia não convencional, solução inovadora para um problema.
Invoice = fatura, nota fiscal.
Internacionalização = processo de criação de um software ou aplicativo que visa disponibilizar o design do recurso e de seus códigos em vários idiomas. A internacionalização está relacionada ao desenvolvimento de aplicativos (codificação de caracteres, flexibilidade de formatação, símbolos, adaptabilidade do layout, etc.), simplificando a criação de várias edições linguísticas de um programa.
IT (Information Tecnology) = Tecnologia da Informação.
Job = trabalho, projeto, tarefa.
k = milhares. Exemplo, 20k é o mesmo que 20 mil palavras.
Know-how = conjunto de habilidades e conhecimentos aprendidos na prática.
L10N (Localization) = abreviatura de localização. Abrevia-se dessa forma porque há 10 letras entre as letras L e N.
Language skills = competências linguísticas, habilidades relacionadas ao idioma.
Layout = disposição de texto, gráficos e imagens em determinado espaço.
Localização = processo que, além da tradução, consiste na adaptação do conteúdo ao público-alvo. Envolve cultura, regionalismos, conversão de moedas e medidas, adoção de formas diferentes de escrita, adaptação de aspectos políticos, econômicos, legais e culturais do país. Em suma, localizar um produto significa adaptá-lo ao mercado de destino.
Low fuzzy = frases com aproveitamento de palavras muito baixo em relação à TM.
 (Linguistic Sign-Off) = verificação final de um texto que já passou pelas etapas de TEP. O foco do LSO está em acertar questões visuais (tabulações, quebras de linha, paginação etc.). Finda a etapa de LSO, supõe-se que o texto segue o formato adequado.
LSP (Language Services Provider) = prestador de serviços linguísticos. Os mais conhecidos no mercado são as agências de tradução, embora todo tradutor ou revisor possa se considerar um LSP.
Match/Matches = correspondências de um texto em relação à TM.
MT (Machine Translation) = mecanismo de tradução por máquina, como o Google Tradutor.
MTPE = Pós-edição de tradução automática.
Networking = rede de contatos e conexões que promovem interação e comunicação no ambiente profissional.
No match/0% match = segmento sem correspondência em relação à TM.
100% match = segmento exatamente igual a um segmento já traduzido na TM.
PE (Post-Editing) = tarefa de pós-edição de textos processados por um mecanismo de tradução por máquina.
PM (Project Manager) = gerente de projetos, profissional responsável por administrar as questões organizacionais de um projeto, como prazos e alocação de fornecedores.
PO (Purchase Order) = ordem de compra, ordem de serviço.
Post Mortem = tarefas desempenhadas após a conclusão do projeto para fins de preparação e atualização de versões futuras.
Proofing = leitura final apenas do texto traduzido para fins de verificação dos últimos detalhes, como questões de fluência.
PR = proofreading
PTB = português brasileiro.
Público-alvo = público ao qual se destina a tradução.
QA (Quality Assurance) = verificação da qualidade de um documento traduzido com base em critérios linguísticos predefinidos.
QAer = profissional responsável pelo processo de avaliação de textos.
QA Report = relatório que lista os problemas identificados por ferramentas especializadas na verificação final dos textos traduzidos, como o Xbench. Tais ferramentas detectam automaticamente vários erros, como falta de pontuação, numeração trocada e inconsistências entre os textos de origem e destino.
QQ (Quick Question) = pergunta rápida.
Query = consulta feita ao cliente ou ao revisor sobre a tradução de um projeto.
Query Sheet = planilha de dúvidas, pendências ou comentários feitos ao cliente ou ao revisor durante a tradução de um projeto.
Repetition = quantidade de trechos ou frases que se repetem em um texto.
Segmento/String = forma como as CAT Tools particionam a tradução. Em geral, a divisão é feita considerando os pontos-finais das frases, embora algumas permitam personalizar a divisão.
Skill = habilidades ou competências de um profissional.
Source = texto de origem.
Success Stories/Case = histórias de relações profissionais de sucesso, exemplos de resultados práticos positivos.
T = translation
T9N (Translation) = abreviatura de tradução. Abrevia-se dessa forma porque há 9 letras entre as letras T e N. A tradução consiste na transposição de um texto a outro idioma.
Tag = nas CAT Tools, as tags são marcas de formatação do texto (negrito, itálico, sobrescrito, cor, tamanho etc.). Inverter a ordem das tags ou excluir alguma delas pode causar problemas de formatação ao converter e gerar o arquivo final.
Tagline = pequena frase, semelhante a um slogan, que resume e comunica o propósito da marca de forma autêntica e inspiradora (Ex.: Nestlé faz bem).
Target = texto de destino.
TB (Term Base) = repositório de palavras com terminologia aprovada usado para fins de economia do tempo de pesquisa e digitação.
TEP (Translation, Editing, Proofing) = em linhas gerais, são os processos de tradução, revisão e leitura final de um texto.
TM (Translation Memory) = a memória de tradução é um repositório de todas as traduções feitas em um projeto. Programas como o Olifant são usados especificamente para gerenciar o conteúdo das memórias de tradução.
tmx = extensão mais popular das memórias de tradução exportadas. O formato tmx costuma funcionar em todas as CAT Tools.
VIP = Very Important Person.
Whitelist = ao contrário da lista negra, a lista branca (lista de permissões) é uma relação de palavras recomendadas e preferenciais.
WC (Word Count) = contagem das palavras de um projeto de tradução.
WWC (Weighted Word Count) = contagem das palavras de um projeto levando em conta a porcentagem de correspondência com o conteúdo da TM. O cálculo de WWC considera os diferentes tipos de “peso” (repetitions, 100% matches, no matches) para gerar um volume total do esforço de tradução.
Workshop = oficina ou curso intensivo de pouca duração.


Clique na figura para aumentá-la

Com a colaboração de:

elartedetraducir.wordpress.com
www.traduwiki.net.br

terça-feira, 28 de março de 2017

Millôr tradutor

Por ocasião dos cinco anos sem Millôr Fernandes, vamos celebrar sua criatividade, autenticidade e bom humor, apreciando um pequeno fragmento seu sobre a arte de traduzir, de uma entrevista para a Revista Senhor, em 1962.

«Com a experiência que tenho, hoje, em vários ramos de atividade cultural, considero a tradução a mais difícil das empreitadas intelectuais. É mais difícil mesmo do que criar originais, embora, claro, não tão importante. E tanto isso é verdade que, no que me diz respeito, continuo a achar aceitáveis alguns contos e outros trabalhos meus de vinte anos atrás; mas não teria coragem de assinar nenhuma das minhas traduções da mesma época. Só hoje sou, do ponto de vista cultural e profissional, suficientemente amadurecido para traduzir. As traduções quase sem exceção (e não falo só do Brasil), têm tanto a ver com o original quanto uma filha tem a ver com o pai ou um filho a ver com a mãe. Lembram, no todo, de onde saíram, mas, pra começo de conversa, adquirem como que um outro sexo. No Brasil, especialmente (o problema econômico é básico), entre o ir e o vir da tradução perde-se o humor, a graça, o talento, a poesia, o pensamento, e, mais que tudo, o estilo do autor.

Fica dito – não se pode traduzir sem ter uma filosofia a respeito do assunto. Não se pode traduzir sem ter o mais absoluto respeito pelo original e, paradoxalmente, sem o atrevimento ocasional de desrespeitar a letra do original exatamente para lhe captar melhor o espírito. Não se pode traduzir sem o mais amplo conhecimento da língua traduzida mas, acima de tudo, sem o fácil domínio da língua para a qual se traduz. Não se pode traduzir sem cultura e, também, contraditoriamente, não se pode traduzir quando se é um erudito, profissional utilíssimo pelas informações que nos presta – o que seria de nós sem os eruditos em Shakespeare? – mas cuja tendência fatal é empalhar a borboleta. Não se pode traduzir sem intuição. Não se pode traduzir sem ser escritor, com estilo próprio, originalidade sua, senso profissional. Não se pode traduzir sem dignidade.»


Escritor, desenhista, dramaturgo, humorista, considerado um dos maiores frasistas brasileiros, colaborou em diversos veículos com suas observações críticas e irreverentes sobre a vida, relacionamentos, política e sociedade. Como não podia ser diferente, como tradutor, Millôr também defendia algumas convicções polêmicas “Ao traduzir, é preciso ter todo rigor e nenhum respeito pelo original”. Claro que não devemos interpretar essa declaração ao pé da letra, o que ele defendia era que traduzir bem é obter o melhor resultado possível na língua de chegada, o resultado mais inteligível e inteligente, encarando o idioma de partida como de fato é: idioma de partida.

Outra questão polêmica é que Millôr era autodidata e tinha a convicção de que, para realizar uma boa tradução, não era necessário dominar plenamente o idioma de partida nem conhecer com profundidade o contexto em que o autor havia escrito. Para ele, o essencial era conhecer bem o próprio idioma e elaborar em português uma versão pessoal e interpretativa do texto estrangeiro, negando, a existência de “expressões intraduzíveis”.

Confesso que me sinto “quadrada” diante de tanta ousadia. Em se tratando de tradução literária, sou bem mais “careta”, acho que o texto original e o idioma de partida são a baliza que não devemos perder de vista, e encaro nossa missão de uma forma mais “serviçal” no sentido de que nosso papel é permitir que o autor chegue até os leitores que não leem em sua língua. Esse é meu lado racional falando, mas como boa geminiana, meu lado emocional se encanta com imagem da borboleta voando livremente... εïз

Polêmicas à parte, não deixo de admirar e de me inspirar na coragem e perspicácia de Millôr, mas convenhamos que ele não era nenhum inconsequente, apesar de suas frases polêmicas, observamos no trecho da entrevista que ele acredita, sim, no respeito ao original, no amplo conhecimento da cultura e da língua traduzida e no domínio da língua para a qual se traduz, enfim, é um "rebelde ajuizado" ;-)

Para saber mais, leia “Millôr tradutor”, texto de Gabriel Perissê, publicado na 79ª edição da Revista Língua Portuguesa e disponível em Camaleó, plataforma colaborativa de publicação e disponibilização de conteúdos. 

quinta-feira, 16 de março de 2017

Por que aprender espanhol

Quando pensei em escrever este texto, procurei inspiração num texto de Ítalo Calvino chamado Por que ler os clássicos, no qual o autor habilmente consegue despertar a atenção do leitor com a simples justificativa de que ler os clássicos é melhor do que não ler...

Seguindo essa linha, eu podia simplesmente dizer que falar duas línguas é melhor que falar uma só, mas por quê?

Quando aprendi o português, não aprendi somente um código, um conjunto de palavras e combinações, aprendi a ver o mundo a partir dos olhos de um brasileiro, conheci um mundo novo repleto de aventuras e desventuras: navegações, desbravamentos, miscigenações, revoltas que culminaram num povo autêntico e único. Aprendi a viver, a pensar, a sonhar como um brasileiro. Conheci um universo de músicas, ritmos, textos, sabores, sotaques, folclore, paisagens, arte. Enfim: só ganhei! (veja também: Como aprendi o português).

E o mais incrível foi que, aprendendo sobre a língua portuguesa, aprendi mais sobre a língua espanhola; aprendendo sobre o Brasil, aprendi mais sobre a Espanha; e aprendendo sobre os brasileiros, aprendi mais sobre os espanhóis, tudo isso porque só conhecemos a nós mesmos através dos outros, é a relação com o outro que nos define.

Mas não é minha intenção fazer filosofia, minha intenção é convidá-los a ampliarem seus mundos. O Brasil está rodeado de países hispano-falantes dos quais sabemos muito pouco; fazemos fronteira com dez países e vivemos isolados em nosso mundinho. Como podemos almejar uma liderança regional ignorando nossos vizinhos? Uma das principais habilidades do líder é ser um bom comunicador, mas como ter uma boa comunicação com nossos vizinhos se não estamos interessados em aprender sua língua?

Não é a lei da educação que tem que mudar, é a nossa atitude.

Quando cheguei ao Brasil tive medo, saí de minha zona de conforto. Fui “jogada” na quinta série sem saber falar português. Eu tinha somente nove anos e me senti mais perdida que cachorro quando cai do caminhão de mudança, mas aos poucos fui me arriscando, estabelecendo contato, vencendo meus preconceitos, fui me integrando, fui me envolvendo e quando vi... Pronto! Eu queria ser brasileira! E o tempo foi passando, e o meu sonho de ser zoóloga e de poder me comunicar com os animais acabou substituído pela profissão de tradutora e pelo desafio de me comunicar com os homens ;-)

A propósito, sabe aquela expressão de “perdido como cachorro que cai do caminhão de mudança”? Pois na Espanha se diz “perdido como un turco en la neblina?” a origem dessa expressão é na verdade uma deturpação. Na Espanha, durante muito tempo, a bebedeira foi vinculada aos turcos, acusados de infiéis e de não serem tocados pela água benta, daí que o vinho sem adição de água fosse chamado de vino turco. Com o tempo, a expressão  tener una turca passou a ser sinônimo de estar bêbado; e por extensão, turca, passou a significar bebedeira. Então, imagine um bêbado perdido na neblina...

Você sabia disso? Não? E sabia que o Brasil pertenceu durante sessenta anos (1580-1640) à Coroa espanhola, unida à de Portugal no reinado do rei Felipe II? Pois é, a presença do hispano no Brasil é bem maior do que podemos imaginar...

Vivemos num mundo globalizado onde língua é cultura, cultura é conhecimento, conhecimento é poder, e poder é liberdade.

Mas se meus argumentos não são bons o suficiente, vamos às cifras:

  • Em 2015, quase 470 milhões de pessoas tinham o espanhol como língua materna. Por sua vez, o grupo de usuários potenciais de espanhol no mundo (grupo de domínio nativo, grupo de competência limitada e o grupo de aprendizes de língua estrangeira) chegava a quase 559 milhões.
  • O espanhol é o segundo idioma de comunicação internacional.
  • É a segunda língua materna do mundo por número de falantes, atrás do chinês mandarim.
  • Mais de 21 milhões de alunos estudam espanhol como língua estrangeira.
  • Nos Estados Unidos, 41 milhões de pessoas falam espanhol de forma nativa e 11,6 milhões são bilíngues.
  • Em países como o Brasil, onde não há muitos profissionais que falam mais de um idioma, o domínio de outra língua pode aumentar consideravelmente as chances de emprego e até mesmo o salário.

Isso sem falar no acesso ao vasto e inestimável acervo artístico e cultural hispano-americano.

Então, respondendo à pergunta que abriu este texto: Por que aprender espanhol?

“Por que não encontro nenhuma boa razão para não aprender!”




quarta-feira, 15 de março de 2017

Palabra rara: «galimatías»

Parodia del lenguaje caballeresco que oscurecía el mensaje

¿Qué significa galimatías?

Galimatías es un término actualmente poco usado para referirse a un discurso o escrito que, debido a la confusión de las ideas, resulta muy embrollado. También se usa como sinónimo de lío, desorden, jaleo.

Originariamente, recibimos esta palabra de la lengua francesa, que a su vez la tomó del griego κατ Ματθαον (kata Mathaion), cuyo significado es «según Mateo».

De ahí no es difícil deducir que la expresión hace referencia a la forma de expresarse de un hombre llamado Mateo, pero ¿qué Mateo?

Mateo Levi fue uno de los doce apóstoles que acompañaron a Jesucristo, pero también es famoso su evangelio, donde describe de forma confusa la genealogía de modo que, si el lector pierde el hilo, puede liarse y no entender situaciones y personajes. De ahí el origen de la expresión ‘galimatías’ para describir ese tipo de sinsentidos.

Ejemplo (biblegateway):

2 Abraham fue el padre de Isaac;
Isaac, padre de Jacob;
Jacob, padre de Judá y de sus hermanos;
3 Judá, padre de Fares y de Zera, cuya madre fue Tamar;
Fares, padre de Jezrón;
Jezrón, padre de Aram;
4 Aram, padre de Aminadab;
Aminadab, padre de Naasón;
Naasón, padre de Salmón;
5 Salmón, padre de Booz, cuya madre fue Rajab;
Booz, padre de Obed, cuya madre fue Rut;
Obed, padre de Isaí;
6 e Isaí, padre del rey David.
David fue el padre de Salomón, cuya madre había sido la esposa de Urías;
7 Salomón, padre de Roboán;
Roboán, padre de Abías;
Abías, padre de Asá;

Aunque según la Wikipedia hay otras explicaciones posibles para el origen de este término, lo cierto es que se usa cuando alguien se expresa de forma complicada o como sinónimo de desorden.

Los traductores, como mediadores culturales, debemos repeler galimatías, ya que nuestro objetivo es promover la comunicación de forma clara y precisa. Siempre y cuando esta no sea proposital, sobre todo en el texto literario, en que la escritura intrincada y rebuscada muchas veces refleja el estilo del autor, en esos casos, debemos respetar la manera particular como el escritor se expresa. (¡Muchas gracias al amable lector Marcos Mendes por recordármelo!).


terça-feira, 14 de março de 2017

¿Suscripción, subscripción o suscrición?


Cuando una misma palabra dispone de dos grafías aceptables, se recomienda emplear la forma reducida, así en los siguientes pares, debemos preferir la primera forma: oscuro y obscuro, remplazable y reemplazable, posgrado y postgrado, sustantivo y substantivo, prestreno y preestreno, antincendios y antiincendios, restablecer y reestablecer, multidiomas y multiidiomas, antimigración y antiimigración, etc.

Sin embargo, hay dos excepciones a esta regla que fueron adoptadas por los hablantes como formas preferidas: septiembre y psicología.

Pero ¡ojo!, esta regla no sirve cuando hay diferencias semánticas entre una y otra forma como sucede en el caso de antirracional y antiirracional. Mientras la primera forma (anti- + racional) designa lo que es contrario a la razón, la segunda forma (anti- + irracional) designa lo contrario, así como no son lo mismo semilegal (semi- + legal) y semiilegal (semi- + ilegal) ni semiconsciente (semi + consciente) y semiinconsciente (semi + inconsciente).

Cuidado aun para no simplificar equivocadamente algunas palabras. No existen, por ejemplo, las formas inscrición (inscripción), instrutor (instructor), suscrición (suscripción) ni ostrucción (obstrucción), en caso de dudas, se debe siempre consultar el diccionario, y cuando haya dos o más formas aceptables, elegir la más empleada.

En cuanto al caso de suscriptor, subscriptor y suscritor como se indica en el fragmento del Diccionario panhispánico de dudas transcrito a continuación, las academias de la lengua prefieren suscriptor a subscriptor, y suscritor no se emplea.

suscribir(se). 1. 'Firmar [un escrito]', 'compartir [la opinión] de alguien' y, como pronominal, 'abonarse a algo'. Esta voz y todas las de su familia léxica pueden escribirse de dos formas: conservando el grupo consonántico etimológico –bs– (subscribir, subscripción, subscriptor) o simplificando el grupo en –s– (suscribir, suscripción, suscriptor). Se recomiendan las grafías simplificadas, por ser más acordes con la articulación real de estas palabras y las más extendidas en el uso actual.

2. Solo es irregular en el participio, que tiene dos formas: suscrito o suscripto. La forma usada en la mayor parte del mundo hispánico es suscrito, pero en algunas zonas de América sigue en pleno uso la grafía etimológica suscripto: «El acuerdo, suscripto en Madrid, dejaba sin efecto la zona de exclusión militar en torno al archipiélago» (Escudero Malvinas [Arg. 1996]). Los sustantivos derivados suscriptor y suscripción conservan la –p– en todo el ámbito hispánico.

Aprovechando el hilo, dejo una observación sobre un error que viene apareciendo últimamente en la prensa respecto a la política «Antimigración de Trump» cuando la grafía correcta es «antiinmigración» ya que lo que el mandatario pretende es controlar el ingreso de inmigrantes a su país. Se escribe así «antiinmigración» en una única palabra, sin guión ni espacio entre el prefijo y la palabra que modifica.

Para ver un vídeo de Alberto Bustos del Blog de Lengua acerca de la diferencia entre migración, inmigración y emigración, pinche aquí.

Fundéu
DLE
El libro del español correcto, Instituto Cervantes

segunda-feira, 6 de março de 2017

La importancia de una tercera lengua a la hora de traducir

Básicamente el proceso de traducción consiste en expresar en una lengua un mensaje que se ha expresado antes en otra. Para eso, el traductor debe interpretar el mensaje en la lengua de origen y tratar de reproducirlo en la lengua meta.

Dicho de este modo parece algo sencillo, pero una vez que nos ponemos a traducir, nos damos cuentas de las innumerables trampas y especificidades que implica: regionalismos, léxico especializado, humor, sentido figurado, ortotipografía, siglas, acrónimos, medidas, sintaxis, jerga, neologismos, extranjerismos, por mencionar algunas.

Al encontrarnos con un problema de traducción, a veces no damos abasto con solo dos lenguas de referencia, es decir, no logramos encontrar un correspondiente en la lengua meta para el mensaje original. En estos casos, una estrategia útil es la «triangulación» —nombre que escuché por primera vez de la boca de un profesor del posgrado de traducción de español—, estrategia que consiste en contrastar tres lenguas de referencia para solucionar un problema de traducción. Aunque no he logrado encontrar teoría traductológica al respecto, en mi opinión no le resta valor en absoluto.

Así en lugar de realizar una búsqueda unidireccional «lengua de origen > lengua meta», realizamos una búsqueda multidireccional, ampliando nuestro espectro de búsqueda:


Para ser más pragmática, mencionaré un ejemplo: el otro día, mientras traducía un documento de carácter organizacional del portugués al español me encontré con una palabra que de inmediato me causó extrañeza, el contexto era más o menos así «com vista a endereçar as transformações conjunturais…». Al buscar «endereçar» en diccionario monolingüe y bilingüe, cuyos resultados coindicen en ambas lenguas: «atribuir una dirección» o «dirigir, enviar», me di cuenta de que ninguna de esas acepciones se encajaba en este contexto. Entonces sospeché que debía tratarse de una de esas jergas comunes del mundo corporativo, que en general se originan del inglés.

Por tanto, introduje en el campo de búsqueda de Google, «endereçar jargão» y efectivamente la búsqueda me devolvió varios resultados que abordaban esta jerga proveniente del inglés «to adress» o «to adressing» que significa «abordar» o «hacer frente» a determinado asunto. Y luego pude confirmarlo al buscar del inglés al español en diccionarios bilingües, foros, y lanzando en el traductor automático oraciones como «Addressing the Tax Challenges of the Digital Economy», para la cual el traductor sugirió «Abordar/Hacer frente a los desafíos fiscales de la economía digital». De ese modo, aunque no domino el inglés, la triangulación sirvió para encontrar pistas y luego confirmarlas mediante búsqueda contextualizada y búsqueda por traducciones del inglés al español y viceversa.

Por supuesto que esta estrategia no es infalible y que lo ideal sería que el traductor dominara las tres lenguas para aplicarla, pero aun así resulta una estrategia complementaria útil a la hora de traducir.