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Para quem traduz do português do Brasil ao espanhol, uma das
grandes dificuldades são os brasileirismos,
isto é, marcas lexicais, semânticas e até mesmo sintáticas que diferenciam o
português brasileiro do português lusitano e que traduzem um universo de mais
de 8 milhões de quilômetros quadrados, de mais de 500 anos de história, de
nossa natureza exuberante, a fauna, flora e geográfica, a miscigenação de
diversas raças na formação do povo brasileiro e os costumes e manifestações
culturais.
Neste artigo, vamos ater-nos aos brasileirismos mais
evidentes, os do âmbito lexical. Da convivência com as línguas indígenas, destacam-se
os tupinismos, brasileirismos que
derivam diretamente do tupi-guarani, seja mediante sufixos que funcionam como
adjetivos, qualificando o substantivo ao qual se ligam como, por exemplo, o
sufixo ‘-açu’ que significa grande, itaguaçu
(pedra grande), babaçu (palmeira
grande); ou o sufixo ‘-mirim’, que significa pequeno, abatimirim (arroz miúdo), Mojimirim, cajá-mirim, etc.
Observamos tupinismos também em toponímicos como ‘carioca’,
que significa casa do homem branco (caraíba + oca), Ipanema, Tijuca; em nomes e
sobrenomes, Araci, Jandaia; elementos da fauna e flora como cupim, mandioca,
abacaxi; na alimentação, em palavras como aaru
(espécie de bolo que os nhambiquaras preparam com tatu moqueado, triturado em
pilão e misturado com farinha de mandioca); em nomes de utensílios como moquém (grelha de varas para secar carne
ou peixe); em nomes de fenômenos da natureza como a pororoca (grande onda que
ocorre, em certas épocas, em rios muito volumosos, especialmente no Amazonas e
que destrói tudo que encontra à sua passagem, causando grande estrondo e
formando atrás de si ondas menores), deriva do tupi poro'roka, que
significa estrondo; igarapé pequena
corrente de água entre ilhas ou trechos de um rio ( ï'ara 'canoa' + 'pe
'caminho'), etc.
Ao lado das línguas indígenas e da língua portuguesa,
convivemos também, com africanismos
derivados de línguas africanas, principalmente as do grupo banto (quimbundo) e
sudanês (ioruba ou nagô), faladas por uma população escrava. A influência
africana na cultura nacional foi mais profunda que a indígena, provavelmente, devido
à convivência que existia entre brancos e negros, que trabalhavam no interior
das casas como cozinheiras, arrumadeiras, a presença da mãe-preta, a ama de
leite e das crianças no convívio diário nas casas grandes. Fato que não se deu
com o indígena.
Observamos influência africana no léxico brasileiro
principalmente na alimentação, religião, manifestações culturais, etc. buzo (búzio),
candomblê, caçula, mungunzá (canjica), cafuné (do quimbundo, uma língua da Angola, que originariamente significa "tomar a cabeça de alguém e torcê-la", mas que depois tomou o significado de coçar a cabeça de alguém com delicadeza, fazer um mimo, um carinho), etc. Além da influência no léxico, daqui resultaram várias influências no falar
brasileiro a que se podem atribuir os seguintes fenômenos de fonética: ensurdecimento
e queda do r final; redução de nd a n nos gerúndios;
queda ou vocalização do l final; alguns casos de epêntese (por
exemplo, fulô por flor ou quelaro por claro);
etc.
Há também casos em que a cultura indígena e a
afro-brasileira se fundem como é o caso do termo caruru, de origem indígena — ca-á-ruru
— que representa uma espécie da flora brasileira, enquanto a iguaria com ela
preparada e acrescida de outros ingredientes como o dendê, o camarão, entre
outros, pertence à culinária afro-brasileira.
Além da influência indígena e africana no léxico do português
brasileiro, temos também a influência de imigrantes italianos, espanhóis,
alemães, árabes e japoneses. E ainda das invasões holandesas e francesas após a
colonização portuguesa.
Há outros brasileirismos aparentes que não passam de formas dialetais portuguesas, oriundas das
regiões que forneceram os colonos para o Brasil, como os Açores e as
várias províncias portuguesas. O resultado foi prosa em vez de conversa ou salvar por saudar (ou
dar a salvação, como ainda se diz em algumas regiões de Portugal). A influência
açoriana é bem visível em Santa Catarina, por exemplo, em Florianópolis, no falar
peculiar do “manezinho da ilha” conhecido informalmente como “manezês” e em
diversas manifestações culturais como a renda de bilro; na literatura em quadrinhas
e o pão de Deus, na gastronomia e em danças e folguedos como o do boi mamão.
Como acontece em todas as línguas transportadas de sua
origem a outras paragens, o português brasileiro apresenta alguns termos
arcaicos e um vocabulário que já foi esquecido no país de origem e que aqui se
mantém vivo. São exemplos: reinar por
fazer travessuras; função por baile; faceiro no sentido
de peralta; aéreo no sentido de perplexo. Também palavras novas que
designam novos objetos, invenções, técnicas, etc, e que têm uma formação
distinta da que se verificou em Portugal. São exemplos ônibus por
oposição a autocarro, trem por oposição a comboio, bonde por
oposição a eléctrico ou aeromoça por oposição a assistente
de bordo.
E os brasileirismos semânticos, palavras que, sem perderem o
seu significado tradicional, enriqueceram-se com uma ou mais acepções novas no
Brasil. Por exemplo, virar também significa transformar-se
em e prosa é também utilizado com o sentido de loquaz, conversador.
Alguns regionalismos derivam de contato com os países
vizinhos como, por exemplo, “matambre”, forma sincopada de “matahambre”,
vocábulo corrente na região do Rio da Prata, definido como capa de carne que se
encontra entre o couro e as costelas do gado bovino. Ou vocábulos como peleia,
melena, macanudo, entrevero, presentes no dialeto gaúcho, influenciado principalmente
pelo castelhano, italiano e alemão.
Além da influência de outras línguas, o português brasileiro
vai criando e incorporando vocábulos próprios que traduzem nossa realidade
social, política, cultural, comportamental, regional, etc., como por exemplo, “motoqueiro”,
“frentista”, “boia-fria”, “edícula”, “favela”, “sertão”, “retirante”, “colarinho-branco”,
“ficha-limpa”, “blitz”, “bafômetro”, "vestibular", "medalhar" (ser premiado com medalha), etc. Alguns neologismos têm vida curta, enquanto outros acabam sendo recolhidos e reconhecidos pelos dicionários.
Como proceder ao traduzir um brasileirismo?
Como se trata de uma palavra peculiar e inerente ao português do Brasil, acredito que o tradutor não deva descaracterizá-lo, por isso, uma boa opção seria conservar o termo no original, acompanhado de uma breve explicação.
Como proceder ao traduzir um brasileirismo?
Como se trata de uma palavra peculiar e inerente ao português do Brasil, acredito que o tradutor não deva descaracterizá-lo, por isso, uma boa opção seria conservar o termo no original, acompanhado de uma breve explicação.
pt.wikipedia.org
culturaacoriana.blogspot.com
Brasileirismos e
regionalismos, de Ana Maria Pinto Pires de Oliveira
A presença de africanismos na língua portuguesa do Brasil,
de Ana Paula Puzzinato e Vanderci de Andrade Aguilera.
Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 3.0
www.ciberduvidas.iscte-iul.pthttp://www.dicionarioetimologico.com.br/cafune/
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