Filme "Palavras e Imagens" (Words and Pictures) "Vale um homem mais do que sua palavra, e uma mulher mais do que sua imagem?" |
Gostaria de recomendar este filme aos leitores do blog,
porque propõe um interessante debate sobre o que vale mais: a palavra ou
a imagem. Além disso, a história tem como pano de fundo o ambiente escolar e um romance conflitante entre um professor de literatura, Jack Markus (Clive Owen),
e uma professora de artes, Dina Delsanto (Juliette Binoche).
Primeiramente, vale dizer que gosto dos filmes de escola (A
sociedade dos Poetas Mortos; Escritores da Liberdade; O Sorriso de Monalisa; O
clube do Imperador; Como Estrelas na Terra – Taare Zameen Par; Meu Mestre, Minha Vida; Mentes Perigosas, El Estudiante, La Lengua de las Mariposas, etc.) porque já fui professora e também
já fui aluna, e considero o ambiente escolar extremamente desafiador e
fascinante; a forma como as relações sociais se desenvolvem, a interação entre
professores e alunos, o choque de gerações. O desafio de ganhar a confiança da
turma e de estabelecer uma relação de parceria e cumplicidade e de conseguir
atrair a atenção e o interesse do aluno. As ilusões e as frustrações; enfim,
essa relação conflituosa entre professores e alunos próxima à relação entre
pais e filhos. Mas vamos ao filme...
Jack Markus é um charmoso e eloquente professor de Língua e
Literatura. Quando ainda era muito jovem, publicou um livro que foi muito bem
recebido pela crítica e que lhe garantiu a contratação pela escola. Depois
disso, não conseguiu publicar mais nada, seu casamento fracassou e tem uma
relação conturbada e distante com o filho. Apesar de sua inteligência, age como
um idiota e entrega-se ao vício do álcool e a uma patética autodestruição e
autocompaixão, que o levam a cometer sucessivos desastres.
Dina Delsanto, por sua vez, é a nova conquista da escola, uma
atraente e envolvente professora de artes, famosa pintora que enfrenta um drama
pessoal: uma doença que limita progressivamente seus movimentos, e que lhe
causa muita dor e sofrimento, pois a impede de fazer aquilo de que ela mais gosta
— pintar. Dina é muito exigente, não tem complacência ao analisar o trabalho de
seus alunos, ela busca incessantemente a perfeição.
Após inúmeras saias-justas devidas à adição do professor de
Língua e Literatura ao álcool, o diretor o chama para uma conversa e lhe comunica
que o conselho, por motivos de economia, deseja fechar a revista literária
editada pelo professor. Numa tentativa de salvar a revista e o emprego, Jack
Markus propõe que a revista promova um embate “Palavras e Imagens” onde
ele desafiará Dina Delsanto e cada um advogará a favor de sua arte.
Está dada a largada para um intenso e apaixonado debate
entre o escritor que não consegue escrever e a pintora que não consegue pintar,
debate apimentado pelo estranhamento à primeira vista que aos poucos se
transforma em atração e admiração.
O ponto alto do filme é esse eterna tendência humana à polarização, à comparação; a contrastar
e a opor diametralmente coisas da mesma natureza que se complementam,
concentrando-se na divergência, reduzindo tudo a
uma visão preconceituosa e superficial das coisas, à mera medição de forças.
É possível sintetizar uma obra como Dom Quixote numa única tela ou é possível alcançar o mesmo efeito e a mesma emoção estética do quadro expressionista O Grito descrevendo-o com mil palavras?
Esse é o xis do filme. Tanto a palavra quanto a imagem já renderam diversos adágios e provérbios ao longo dos tempos:
É possível sintetizar uma obra como Dom Quixote numa única tela ou é possível alcançar o mesmo efeito e a mesma emoção estética do quadro expressionista O Grito descrevendo-o com mil palavras?
Esse é o xis do filme. Tanto a palavra quanto a imagem já renderam diversos adágios e provérbios ao longo dos tempos:
"Uma imagem vale mais que mil palavras". "Em terra de
cego quem tem um olho é rei". "É preciso ver para acreditar". "Para bom entendedor, meia palavra basta". "Palavras, leva-as o vento". "As
palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade" (Victor Hugo). "E uma
vez lançada, a palavra voa irrevogável" (Horácio). "Nenhum espelho reflete
melhor a imagem do homem do que suas palavras" (Juan Vives). "La
pluma es la lengua del alma; cuales fueren los conceptos que en ella se
engendraron, tales serán sus escritos" (Miguel de Cervantes).
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus...” (João 1:1).
Deixo aqui três produções artísticas sobre o tema do
retirante nordestino: um fragmento do texto “Morte e Vida Severina” obra-prima de
João Cabral de Melo Neto; "Os retirantes" (1944), tela de Cândido Portinari; e
por fim, uma produção audiovisual de “Morte e Vida Severina”, adaptada para os
quadrinhos pelo cartunista Miguel Falcão. Preservando o texto original, a animação
3D dá vida e movimento aos personagens deste auto de natal pernambucano,
publicado originalmente em 1956.
São necessárias palavras para descrever o quadro de Cândido Portinari?
São necessárias imagens para ilustrar o poema de João Cabral de Melo Neto?
E quanto à animação audiovisual do cartunista Miguel Falcão, alcançaríamos o mesmo efeito somente com o vídeo ou somente com o áudio?
Gostei muito do filme e da sua resenha, obrigada!
ResponderExcluirEu que agradeço suas palavras de incentivo! ;-)
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