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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Dúvidas linguísticas relacionadas à grafia de zika, chikungunya, dengue e Aedes aegypti

Uma boa parte dos leitores do blog já deve ter recebido algum pedido para escrever, traduzir ou revisar um texto relacionado à doença zika e aos modos de prevenção. Eu mesma já recebi alguns pedidos de tradução ao espanhol e então surgiram várias dúvidas, é um vocábulo feminino ou masculino? Escreve-se com maiúscula ou minúscula?...

Então hoje veremos algumas questões linguísticas relacionadas a esse tema.

Para início de conversa, há uma polêmica sobre a pronúncia do nome do mosquito “Aedes aegypti”. Vocês devem ter percebido que alguns jornalistas pronunciam “édis” e outros “aédis”. Muitos acreditam, por influência das aulas de latim, que “ae” se pronuncia /e/, tal como ocorre em rosa, rosae /rose/. E alegam que por isso dizemos /egypti/ e não /aegypti/. Mas o caso de Aedes é muito particular. Na verdade, não se trata da velha palavra latina aedes, que significa casa, templo.

O vocábulo, na verdade, é formado com elementos gregos: o prefixo de negação ”a” e o adjetivo ”edús”, que significa agradável, doce. Assim “aedes” significa desagradável, odioso. A pronúncia que separa “a-edes” destaca os elementos formadores, tanto que é comum colocar-se um trema na letra e: Aëdes. Por sua vez, “aegypti”, significa “do Egito” e escreve-se com inicial minúscula porque, na nomenclatura científica, o primeiro elemento deve ser escrito com inicial maiúscula, e o segundo, com minúscula: Aedes aegypti.

Outra polêmica é quanto ao vírus da zika. Em primeiro lugar, não devemos dizer “Zika vírus” isso só faz sentido em inglês; em português, dizemos “vírus da dengue”, “vírus do ebola”, “vírus da zika”, “vírus zika” ou simplesmente o zika.

É também por influência do inglês que se têm escrito o nome da doença em letra maiúscula. Em português, as doenças se escrevem com inicial minúscula: a gripe, a dengue, o câncer, a malária… Assim, a doença é a zika, e o vírus é o zika. (Muita calma nessa hora, logo falaremos da polêmica do uso do “c” em lugar do “k”).

Quanto ao chikungunya, o nome tem origem africana e significa “aqueles que se dobram”. Esse nome foi dado em decorrência de um dos sintomas da doença, a dor nas articulações, que faz com que o paciente fique curvado em virtude da dor. Vale a mesma regra, escreve-se com minúscula, masculino quando se refere ao vírus e feminino quando se refere à doença.

Ai, agora a polêmica sobre as formas aportuguesadas... Alguns dicionários portugueses como o Priberam e o Dicionário da Língua Portuguesa da PortoEditora, estão adotando a forma aportuguesada "zica", mas somente o último adotou a forma "chicungunha". Ainda há muita vacilação quanto as formas aportuguesadas, o jornal brasilero o Correio Brasiliense — usou, na mesma notícia, a forma aportuguesada “zica”, mas manteve “chikungunya”. 

Nesse sentido, limito-me a usar as formas utilizadas pelo Ministério da Saúde e pela OMS, já que é questão de saúde pública; além disso, esses nomes têm origem africana (Zica é uma floresta da Uganda e chikungunya procede do idioma maconde, falado no sudeste da Tanzânia e no norte de Moçambique), ou seja, estamos usando a forma original. Nem sempre a opção aportuguesada tem preferência, experimente procurar a palavra “uísque” na carta de um restaurante, por exemplo.

Convém lembrar também que, em português, na gíria, utiliza-se a palavra "zica" relacionada a um problema, a uma situação ruim, de azar ou de confusão 

Bom, agora que já falamos dos usos em português, vejamos algumas particularidades  do espanhol:
A Fundação do Espanhol Urgente — FUNDEU — recomenda escrever zika com inicial minúscula para referir-se à doença, mas com maiúscula para aludir ao vírus, à febre que produz e ao nome completo da doença: virus/fiebre/enfermedad del Zika.

Além disso, desaconselha escrever virus Zika, sem a preposição, por influência do inglês.
A Ortografia acadêmica estabelece que nas denominações de doenças que incluam nome próprio se mantenha a maiúscula (enfermedad de Parkinson, mal de Alzheimer…); mas acrescente que quando o nome próprio passa por si só a designar a doença, torna-se um nome comum, que deve se escrever com minúscula inicial e submeter-se às regras ortográficas do espanhol: Su padre tenía párkinson; Trabaja en una fundación para la investigación del alzhéimer.

Por outro lado, recomenda manter a grafia original com k, já que a Ortografía acadêmica também aponta a existência de numerosos empréstimos de diversas origens (bikini, kiwi, ukelele, kamikaze…).
Assim, a FUNDÉU afirma que é preferível escrever “la fiebre del Zika”, “casos de zika” ou “el zika” para referir-se à doença. Por outro lado, afirma que é preferível a forma castelhanizada “chikunguña”, mas mantendo o k.

Vejamos a tradução de alguns termos relacionados (português = espanhol):

A zica (doença) = el zica
A chikungunya (doença) = el chikungunya/chikunguña (mas la fiebre chikungunya/chikunguña)
A dengue (doença) = el dengue
Vírus da zica = virus del Zika (virus, sem acento, porque as paroxítonas terminadas em ‘n’ e ‘s’ não se acentuam em espanhol)
Mosquiteiro = mosquitera
Picada = picadura
Roupa comprida = ropa larga
Vestuário = ropa
Pulverizar com inseticida = rociar/impregnar con insecticida
Grávidas = embarazadas
Criadouros = criaderos
Manchas vermelhas = manchas rojas
Coceira = picazón, prurito
Mal-estar = malestar
Microcefalia = microcefalia (é uma palavra heterotônica, isto é, tem pronúncia diferente, em português a sílaba tônica é "li", Microcefalia; em espanhol, a sílaba tônica é "fa", Microcefalia)
Pronto-socorro = hospital de urgencias

Fontes:
http://dicionarioegramatica.com.br/tag/zica-virus/

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