Uma boa parte dos leitores do blog já deve ter recebido algum pedido
para escrever, traduzir ou revisar um texto relacionado à doença zika e aos
modos de prevenção. Eu mesma já recebi alguns pedidos de tradução ao espanhol e
então surgiram várias dúvidas, é um vocábulo feminino ou masculino? Escreve-se com maiúscula ou
minúscula?...
Então hoje veremos algumas questões linguísticas relacionadas a esse tema.
Para início de conversa, há uma polêmica sobre a pronúncia do nome do mosquito “Aedes
aegypti”. Vocês devem ter percebido que alguns jornalistas pronunciam “édis” e
outros “aédis”. Muitos acreditam, por influência das aulas de latim, que “ae”
se pronuncia /e/, tal como ocorre em rosa, rosae /rose/. E alegam que por isso
dizemos /egypti/ e não /aegypti/. Mas o caso de Aedes é muito particular.
Na verdade, não se trata da velha palavra latina aedes, que significa casa,
templo.
O vocábulo, na verdade, é formado com elementos gregos: o
prefixo de negação ”a” e o adjetivo ”edús”, que significa agradável, doce. Assim “aedes” significa desagradável, odioso. A pronúncia que
separa “a-edes” destaca os elementos formadores, tanto que é comum colocar-se
um trema na letra e: Aëdes. Por sua vez, “aegypti”, significa
“do Egito” e escreve-se com inicial minúscula
porque, na nomenclatura científica, o
primeiro elemento deve ser escrito com inicial maiúscula, e o segundo, com
minúscula: Aedes aegypti.
Outra polêmica é quanto ao vírus da zika. Em primeiro lugar, não
devemos dizer “Zika vírus” isso só faz sentido em inglês; em português, dizemos
“vírus da dengue”, “vírus do ebola”, “vírus da zika”, “vírus zika” ou simplesmente o
zika.
É também por influência do inglês que se têm escrito o nome da doença
em letra maiúscula. Em português, as doenças se escrevem com inicial minúscula:
a gripe, a dengue, o câncer, a malária… Assim, a doença é a
zika, e o vírus é o zika. (Muita calma nessa
hora, logo falaremos da polêmica do uso do “c” em lugar do “k”).
Quanto ao chikungunya, o nome tem origem africana e significa “aqueles
que se dobram”. Esse nome foi dado em decorrência de um dos sintomas da doença, a dor
nas articulações, que faz com que o paciente fique curvado em virtude da dor.
Vale a mesma regra, escreve-se com minúscula, masculino quando se refere ao
vírus e feminino quando se refere à doença.
Ai, agora a polêmica sobre as formas aportuguesadas... Alguns
dicionários portugueses como o Priberam e o Dicionário da Língua Portuguesa da PortoEditora, estão adotando a forma aportuguesada "zica", mas somente o último adotou a forma "chicungunha". Ainda há muita vacilação quanto as formas aportuguesadas, o jornal brasilero o Correio Brasiliense — usou, na mesma notícia, a
forma aportuguesada “zica”, mas manteve “chikungunya”.
Nesse sentido, limito-me a usar as
formas utilizadas pelo Ministério da Saúde e pela OMS, já que é questão de
saúde pública; além disso, esses nomes têm origem africana (Zica é uma floresta
da Uganda e chikungunya procede do idioma maconde, falado no sudeste da
Tanzânia e no norte de Moçambique), ou seja, estamos usando a forma original.
Nem sempre a opção aportuguesada tem preferência, experimente procurar a
palavra “uísque” na carta de um restaurante, por exemplo.
Convém lembrar também que, em português, na gíria, utiliza-se a palavra "zica" relacionada a um problema, a uma situação ruim, de azar ou de confusão
Bom, agora que já
falamos dos usos em português, vejamos algumas particularidades do espanhol:
A Fundação do Espanhol Urgente — FUNDEU — recomenda escrever
zika com inicial minúscula para referir-se à doença, mas com maiúscula para
aludir ao vírus, à febre que produz e ao nome completo da doença: virus/fiebre/enfermedad
del Zika.
Além disso, desaconselha escrever virus Zika, sem
a preposição, por influência do inglês.
A Ortografia acadêmica estabelece que nas denominações
de doenças que incluam nome próprio se mantenha a maiúscula (enfermedad de
Parkinson, mal de Alzheimer…); mas acrescente que quando o nome
próprio passa por si só a designar a doença, torna-se um nome comum, que deve se
escrever com minúscula inicial e submeter-se às regras ortográficas do espanhol: Su
padre tenía párkinson; Trabaja en una fundación para la
investigación del alzhéimer.
Por outro lado, recomenda manter a grafia original com k, já
que a Ortografía acadêmica também aponta a existência de numerosos empréstimos de
diversas origens (bikini, kiwi, ukelele, kamikaze…).
Assim, a FUNDÉU afirma que é preferível escrever “la fiebre
del Zika”, “casos de zika” ou “el zika” para referir-se à doença. Por
outro lado, afirma que é preferível a forma castelhanizada “chikunguña”, mas
mantendo o k.
Vejamos a tradução de alguns termos relacionados (português
= espanhol):
A zica (doença) = el
zica
A chikungunya (doença) =
el chikungunya/chikunguña (mas la fiebre chikungunya/chikunguña)
A dengue (doença) = el
dengue
Vírus da zica = virus del
Zika (virus, sem acento, porque
as paroxítonas terminadas em ‘n’ e ‘s’ não se acentuam em espanhol)
Mosquiteiro = mosquitera
Picada = picadura
Roupa comprida = ropa
larga
Vestuário = ropa
Pulverizar com inseticida = rociar/impregnar con insecticida
Grávidas = embarazadas
Criadouros = criaderos
Manchas vermelhas = manchas
rojas
Coceira = picazón,
prurito
Mal-estar = malestar
Microcefalia = microcefalia (é uma palavra heterotônica, isto é, tem pronúncia diferente, em português a sílaba tônica é "li", Microcefalia; em espanhol, a sílaba tônica é "fa", Microcefalia)
Pronto-socorro = hospital
de urgencias
Fontes:
http://jovempan.uol.com.br/noticias/comportamento-educacao/pronuncia-e-etimologia-aedes-aegypti.html
http://dicionarioegramatica.com.br/tag/zica-virus/
Nenhum comentário:
Postar um comentário