Recentemente perdemos dois grandes nomes da literatura:
Harper Lee e Umberto Eco, ambos já octogenários, deixaram um legado que os
torna imortais, pois a literatura, como disse Artur Schlegel, é a imortalidade
da fala. Assim, suas palavras atravessarão diferentes gerações e culturas e o
mundo jamais os esquecerá.
Apesar do pouco contato que tive com as obras desses autores,
duas delas marcaram diferentes etapas de minha vida.
Quando eu tinha uns doze anos, li O Sol é Para Todos (1960), obra de estreia da escritora americana Harper
Lee. Peguei o livro emprestado na Biblioteca Pública porque o título me atraiu.
Acho que foi um de meus primeiros livros “adultos” e lembro bem como me afetou,
pois naquela época eu não tinha ideia de violência sexual nem de racismo, então
foi um choque de realidade para mim, mas de uma forma delicada, já que a história
é narrada através dos olhos de uma criança, que conta a história de seu pai, o
advogado Atticus Finch, defensor de um inocente homem negro acusado de estupro.
Essa obra foi suficiente para colocar a escritora entre os
grandes nomes da história literária dos Estados Unidos e rendeu-lhe o Prêmio
Pulitzer, em 1961. O romance vendeu mais de 30 milhões de cópias e a escritora
se retirou da vida pública e ficou até 2015 sem lançar um novo romance. No ano
passado, foi lançado Vá, coloque um vigia, que continua a história
do livro de estreia, mas com uma inesperada reviravolta na conduta do
idolatrado advogado, que aparece como um sujeito racista e preconceituoso. Fato que provocou revolta nos leitores, que após a mensagem esperançosa da
primeira obra, levaram um choque de realidade, ao perceber que não existem heróis
e que ninguém é perfeito ou bom o tempo todo.
Só fiquei sabendo dessa polêmica após a morte da autora e é
claro que esse fato despertou minha curiosidade. Essa senhorinha era mesmo uma
caixinha de surpresas! Pretendo ler esse livro em breve.
Quanto a Umberto Eco, tive contato com seus textos, muitos
anos mais tarde, na primeira década deste século, entre 2008 e 2011, aos trinta
e poucos anos, durante minha tardia, acidentada e extremamente almejada
formação superior. Cursei Letras Língua e Literatura Espanholas, na UFSC, e nas
aulas de Teoria da Tradução tive contato com alguns textos seus. Não conheci a face do autor de
romances como O Nome da Rosa, mas sim
sua face de semiólogo e pensador através de Quase
a Mesma Coisa, obra de referência para os estudos tradutológicos.
Esse livro é baseado numa série de palestras ministradas por
Eco em 1998, na Universidade de Toronto. Num tom de confidencialidade, Eco reflete
sobre as transformações que um texto sofre ao ser traduzido a outra língua, mas
sem ver essas mudanças como uma perda, pois ele acredita que estas são
necessárias, admite até mesmo que alguns de seus textos tenham melhorado ao ser
traduzidos, afirmação que suscitou muito debate entre escritores.
Através de sua experiência pessoal como tradutor e da
análise de traduções de obras de sua autoria, Eco discute questões pragmáticas
relacionadas à tradução e à reescritura. Sua visão é otimista, porque ele
aceita os limites da tradução e admite que esta nunca será mais do que quase a
mesma coisa, e o problema não seria tanto a ideia do “quase”, mas da
elasticidade que deve ter esse “quase”, estabelecer a flexibilidade, a extensão
desse quase, os limites dessa transformação. Dizer quase a mesma coisa, para Eco, é a noção
de tradução como negociação: traduzir implica cortar ou acrescentar alguma
coisa a partir de um original, e a negociação é a tentativa de compensar esses
cortes, ainda que não totalmente.
Enfim, dois grandes autores que vale a pena conhecer!
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