Theodoor Rombouts, El charlatán sacamuelas |
Recentemente li um artigo de um jornalista, do jornal espanhol
ABC, que comentava sobre os modismos relacionados aos nomes das profissões e
fazia um elogio aos dentistas que se anunciavam como tais nos classificados do
jornal, em lugar de usar os títulos de “odontólogos”
ou “estomatólogos” (do grego
"stoma", boca). Muitas pessoas acham que “estomatólogos” são os médicos do estômago e não dentistas.
E assim ele continuava o desabafo, dizendo que agora os “consejeros delegados” das empresas são
os “CEO”; que os “Jefes de Personal”
são os “Directores de Recursos Humanos”;
os “Jefes de Prensa”, “Directores de Comunicación”; e os “relaciones públicas”, “Directores de Relaciones Institucionales”.
Aqui no Brasil não é diferente, agora os treinadores são
"coach", os corretores são
os “agentes ou consultores imobiliários”. Tradutor
agora é “consultor de assuntos linguísticos”, pedagogo é “consultor de
avaliação em projetos educacionais”, organizador é “consultor de organização de
guarda-roupas ou personal organizier”,
feirante é “consultor de assuntos hortalísticos”, catador é “consultor de
reciclagem” e por aí vai...
Eu fico me perguntando se uma pessoa comum que precisa de um
serviço de tradução vai procurar no Google por um tradutor ou por um consultor
de assuntos linguísticos? Há outras profissões que são verdadeiros mistérios,
os "brokers", por exemplo; nos mercados financeiros, são
operadores individuais; no setor de transporte marítimo, intermedeiam fretamentos;
numa empresa ou indústria é o indivíduo que cuida das vendas, promoções,
marketing, pesquisa de mercado, crédito e cobrança, armazenamento e
distribuição, ou seja, é pau para toda obra. Outros que também são faz-tudo
são os que trabalham no "staff", ou seja, na equipe de apoio, principalmente em eventos, auxiliares que podem executar as mais diversas tarefas, tais como as instalação de som e iluminação, manutenção de equipamentos de informática, cadastramento de participantes, auxílio nas apresentações audiovisuais, cafezinhos, etc. .
Os estabelecimentos também não são mais os mesmos, o açougue
agora é “boutique de carne”; o famoso frango assado conhecido como televisão de
cachorro virou ”rotisserie”; o salão
de cabeleireiro virou “coiffeur”, e
os “bota-fora” agora são “outlets”...
Bom, é verdade que não se trata apenas de embelezar o nome das profissões para atribuir-lhes mais importância, o fato é que muitas profissões evoluíram e se aperfeiçoaram juntamente com os nomes, antigamente a moça que fazia as sobrancelhas se
limitava a arrancar os pelos com a pinça. Hoje as “designers de sobrancelha”
fazem um estudo de sua geometria facial, definindo o formato de sobrancelha
ideal para valorizar seu rosto, há cursos específicos para isso.
Assim como em português temos apelidos
pejorativos para os maus profissionais, por exemplo, para advogado, temos “chave
de cadeia”, em espanhol, também temos alguns nomes despectivos consagrados para algumas profissões:
Advogados = “picapleitos”
Funcionários e administradores = “chupatintas”
Médicos = “matasanos”
Dentistas = “sacamuelas”
Policiais = “maderos”
Psicólogos ou psiquiatras = “comecocos ou loqueros”
Urólogos = “tocapelotas”
Pedreiro = “tapabujeros”
Cirurgião = “sacapotras”
Trabalhador da pedreira = “picapedrero”
Clérigo que se mantém assistindo a enterros = “saltatumbas”.Antes que digam: não vai falar dos tradutores?
Não conheço um substantivo específico para o mau tradutor em espanhol, mas sim uma famigerada frase em italiano "traduttore, traditore" que significa literalmente "tradutor, traidor", que passa a ideia de tradutor como enganador.
Em espanhol exite também a expressão "trujamán" para referir-se ao ofício do tradutor, intérprete.
A palavra "trujamán" provém do árabe hispânico turguman, que designava um tipo de intérprete que atuava em transações comerciais principalmente na baixa Idade Média (séc. XIV a XV). Tratava-se de uma tradução de improviso com fins comerciais, portanto, suponho que envolvesse algumas artimanhas para superar os obstáculos econômicos e comerciais.
Pesquisando um pouco mais, vi que em "lunfardo" (gíria argentina e uruguaia) existe o termo "trucho" para referir-se a algo de péssima qualidade ou falsificado, que, por sua vez, se originaria do español arcaico "truchimán", que, por sua vez, deriva do árabe "turgumán", do qual já falamos acima, mas desta vez com o sentido despectivo de uma pessoa que assedia e seduz os extrangeiros para ludibriá-los.
Enfim, nenhuma profissão escapa aos preconceitos, assim como aos maus profissionais.
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