Ao traduzir um texto para outra língua, devemos cuidar para
que não haja interferência de nossa língua materna, para que o resultado pareça
natural e o leitor não sinta aquele gostinho estranho de “tradutorês”. Uma boa tradução deve dar ao leitor a sensação de o texto ter sido escrito na
própria língua.
Hoje vamos ver um fenômeno que costuma causar bastante
interferência, principalmente, nas traduções do português para o espanhol: a
colocação dos pronomes retos (yo, tú, él, ella, nosotros, vosotros, ellos/ellas)
onde eles normalmente deveriam ser omitidos.
Primeiramente, você sabe o que são línguas pro-drop?
Segundo Chomsky, línguas pro-drop são as que aceitam a
omissão do pronome no papel de sujeito, isto é, a omissão dos pronomes retos.
Tanto o espanhol peninsular quanto o português brasileiro são línguas pro-drop,
ao contrário do inglês, por exemplo, em que a presença do pronome reto é
obrigatória.
Tenho uma namorada.
Tengo uma novia.
I have a girlfriend.
No entanto, no espanhol peninsular a omissão dos pronomes é
muito mais frequente que no português brasileiro. A explicação provável para
isso é que enquanto no espanhol as desinências verbais normalmente são
suficientes para evidenciar os agentes da ação verbal, em português, ocorrem
ambiguidades com os pronomes você/ele/ela, que apresentam idêntica conjugação,
do mesmo modo que as formas plurais vocês/eles/elas. Isso faz com que os
brasileiros explicitem os pronomes retos de forma abusiva e redundante em
contextos em que a normativa do espanhol determina sua omissão.
O espanhol é uma língua de sujeito não obrigatório (Vino
y nos dijo que no saliéramos a la calle); no entanto, isso não significa
que ele sempre possa ser omitido. A presença do pronome reto é obrigatória
quando se pretende enfatizar o sujeito ou para contrastar opiniões.
Exemplos:
Ella es la chica de quien te hablé.
Yo creo que eso está mal.
Nosotras somos madrileñas; ellos, barceloneses.
Nosotras somos madrileñas; ellos, barceloneses.
¿Quién ha manchado mi libro? – Yo. Lo siento.
Mi novia es más alta
que yo.
Também é obrigatório o uso do pronome reto diante de algumas
palavras como a, hasta, mismo, también, tampoco.
Exemplos:
Yo mismo no puedo dejar de morderme las
uñas.
Ellos también se sienten cansados de tanto caminar.
Tú tampoco tienes dinero, ¿no?
Outra observação importante:
Em espanhol, não se emprega pronome pessoal explícito para
referir-se a coisas.
He leído tus últimos informes. Enhorabuena: ellos son
claros y ofrecen numerosos datos.
No exemplo acima, o correto é omitir o pronome reto ou usar
o pronome demostrativo “estos” em
lugar do pronome reto “ellos”.
Entretanto, há ocasiões em que a coisa ou objeto é
modificado por um adjetivo, um aposto ou oração que permitem que o pronome reto
se torne explícito:
Compramos un sofá enorme: ocupaba él solito toda la
habitación.
Também se torna explícito o pronome reto para desfazer ambiguidades
provocadas pela indistinção das desinências verbais em alguns tempos: a 1ª e a
3ª pessoa do singular coincidem no pretérito imperfeito e no condicional, além
de coincidir em todos os tempos do subjuntivo, o que propicia o aparecimento das
formas yo y él (ou ella):
“Mal podía ella preconizar una huelga de hambre teniendo
el estómago lleno” (Palou Carne [Esp. 1975]).
Em muitas ocasiões, os pronomes retos com variação de gênero
aparecem para explicitar o sexo do referente:
“Un futuro esperanzado requiere cultivar el acuerdo, la
reciprocidad, también entre nosotras y ellos” (Alborch Malas [Esp.
2002]).
O pronome usted, por sua vez, aparece com muita frequência
para reforçar a cortesia ou desfazer a possível ambiguidade com uma terceira pessoa:
“Debe usted partir a París en seguida” (Mujica Escarabajo
[Arg. 1982]).
Vejamos a seguir como traduzir ao espanhol algumas frases com pronome reto
explícito:
A grande promessa da ciência para revolucionar a medicina
são as células-tronco, já que elas
podem se transformar em qualquer tipo de célula. Mas, apesar dos avanços, ainda
há um longo caminho pela frente para confirmar se elas são mesmo o futuro da medicina.
La gran promesa de la ciencia para revolucionar la
medicina son las células madre, ya que pueden convertirse en cualquier tipo de
célula. Pero, a pesar de los avances, aún hay un largo camino que recorrer para
confirmar si estas células son de
hecho el futuro de la medicina.
O bebê não se resume a uma carga genética, ele é resultado da combinação da carga
genética com os relacionamentos que ele
tem com as pessoas à sua volta.
El bebé no se resume a una carga genética, es
resultado de la combinación de la carga genética con las relaciones que tiene con
las personas que lo rodean.
Ana estudou cinema em Nova York, posteriormente, trabalhou
em um estúdio renomado. Em 2013, ela
recebeu um convite para participar de uma produção internacional e, em 2015, ela ganhou um prêmio em um festival de
cinema.
Ana estudió cine en Nueva York, más adelante,
trabajó en un renombrado estudio. En 2013, recibió una invitación a participar
en una producción internacional y, en 2015, fue premiada en un festival de cine.
Mas o estresse em si não é algo ruim, na verdade ele é
uma importante resposta do organismo para a manutenção da vida. Temos de
aprender, portando, como lidar com ele.
Pero el estrés en sí no es algo malo, en verdad,
es una importante respuesta del organismo para el mantenimiento de la vida. Por lo tanto, debemos aprender a manejarlo.
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