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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

"Ajó" ou "gugu dadá"?


Recentemente quando estive na Espanha para conhecer minha sobrinha de apenas quatro meses, durante uma conversa com minha irmã — agora já não me lembro se em meio a fraldas, banho ou passeio —, enquanto minha sobrinha dava seus primeiros balbucios e nós nos derretíamos, chegamos ao “papo-cabeça” sobre as onomatopeias que representam o som dos bebês e percebemos como variam de um idioma a outro. Na Espanha, para representar o balbucio dos bebês em balõezinhos de revistas e semelhantes, usa-se “ajó”, “ajo” ou “agú”; no Brasil, a onomatopeia mais frequente é o “gugu dadá”.

Eis a entrada no dicionário da RAE:
ajo3
Tb. ajó.
1. interj. U. para acariciar y estimular a los niños para que empiecen a hablar.

Ambas concordamos que a onomatopeia brasileira, gugu dadá, é bem mais fofa. O fato é que na hora eu pensei “isso dá um artigo para o blog” e cá estou, tentando desenvolver o assunto…
Afinal, quem resiste a essas coisinhas superfofas, rechonchudas e sorridentes quando começam a emitir seus primeiros sons? Mas, cá entre nós, alguém já viu alguma vez um bebezinho dizer “ajó” ou “gugu dadá”?

Acho que isso está mais para os adultos, afinal, quando falamos com os bebés, em meio a piruetas e caretas, ficamos como bobos: “aua” (água), “nham-nham” ou “papá” (comer), “uau-uau” (cachorro), “piu-piu” (passarinho), “brum-brum” (carro), “miau-miau”, etc. Isso quando os pais não viram verdadeiros abobados “neném qué totolate?”, chega a ser cômico, para não dizer patético. Pobres bebês!

Pesquisando na rede encontrei um vídeo divertido, da Agência Publicis Conseil para a Guigoz com o título “Let’s Talk Baby”, que brinca com a linguagem dos bebês. Os sons emitidos pelos pequenos viram frases bem-boladas que conseguem um efeito cômico. A mensagem da é: “Você precisa entender os bebês para entender suas necessidades”.

Fonte: youtube

Tradução dos diálogos do vídeo:
hands on the wheel please = Mãos ao volante, por favor

both hands = ambas as mãos

If we crash, it´s on your head = Se batermos, está sobre sua cabeça (sua responsabilidade)

Guys, you´re really freaking me out here = Pessoal, vocês realmente estão me deixando doido aqui.

Seriously, I´m gonna have nightmares = Sério, vou ter pesadelos

Somebody, help me, please = Alguém me ajude, por favor

It´s a duck, Dad = É um pato, pai

Pathetik = Patético

Mom this is funny… but I have to… To late, sorry = Mãe, isso é divertido… mas eu tenho… Tarde demais, desculpe.

You think she understand us? = Você acha que ela nos entende?

Doubt it! = Duvido!

Go on, say something = Vai, diz alguma coisa

I´m na airhead = Eu sou um cabeça oca

I could do this all day = Eu poderia fazer isso o dia todo

You have to understand babies to understand their needs = Você tem que entender os bebês para entender suas necessidades.

Ao navegar pela internet, descobri, também, o método Dunstan, ou Dunstan Baby Language, que ensina os pais a reconhecerem as necessidades básicas de seu bebê recém-nascido, graças a uma linguagem universal baseada em reflexos naturais que todos os seres humanos possuem, independentemente de raça ou de idioma. Pena que descobri isso um pouco tarde, pois meus filhinhos já cresceram e agora o que eu preciso é interpretar as gírias dos adolescentes.

Esse sistema foi descoberto por uma australiana chamada Priscilla Dunstan, que observou como seu bebê emitia determinados sons antes de começar a chorar. Segundo ela, os bebês emitem cinco sons concretos que revelam necessidades básicas como comer ou dormir, ou o desconforto da criança por algum motivo (calor ou frio, gases, fralda suja, etc.):

Fonte: http://www.webconsultas.com
Neh ou na = significa que está com fome. 
UO ou au = quando está com sono ou cansado. 
Je = (o jota é sempre muito suave) desconforto por algum motivo (postura, temperatura, fralda suja, etc.).
Eh o ej = quando precisa arrotar.
Eairh ou eairj (as últimas duas letras se prolongam) = significa que está com gases ou dores abdominais.

Eu já havia finalizado esta entrada quando minha irmã me enviou um link para o artigo "¿Por qué los bebés dicen 'ajo'?", publicado no site www.todopapas.com.

Segundo essa publicação, na fase pré-linguística, o arrulho, universal e comum a todas as línguas, o som predominante é vocálico. Embora seja diferente da pronunciação de um adulto, é possível reconhecer uma mistura de a e e que resulta num . Posteriormente, aprecia-se a primeira consoante, resultante da combinação dos fonemas /k/, /g/ e /x/, o que produz uma espécie de j. [Observação: em espanhol, o fonema jota é classificado como fricativa velar surda /X/, simplificando, semelhante ao erre carioca aspirado de porta /poXta/].

A próxima etapa é a do balbucio. Aparece aproximadamente aos 5 ou 6 meses. Ao longo desta fase, a criança começa a descobrir que pode emitir sons e não demora a unir os fonemas que é capaz de produzir. Assim, quando junta a vogal com a consoante, surge o característico "ajo" /aXo/ dos bebês. Ao tomar consciência de sua nova habilidade, o bebê tentará reproduzir tudo o que ouve, aperfeiçoando sua vocalização e formando as primeiras sílabas isoladas "aje", "ago", "agu"...

Para ver o artigo na íntegra, clique aqui.

Para ver as vozes e onomatopeias de animais em espanhol, clique aqui.

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