Primeiramente, quero dizer que esta é uma lista incompleta, certamente há muitos outros autores notáveis, mas a escolha é baseada no prestígio dos autores no meio literário e em meu limitado conhecimento. A maioria dos escritores aqui citados consta nos currículos dos cursos de Letras Língua Espanhola, ou seja são autores representativos para o estudo da literatura hispano-americana. Seus textos são cânones, isto é, modelos de produção escrita em língua espanhola.
A expressão literatura hispano-americana refere-se à literatura escrita em língua espanhola pelos
povos de México, América Central, América do Sul e as Caraíbas, por isso, não se incluem aqui autores brasileiros.
Sua história, que começou durante na época
dos conquistadores, no século XVI, pode ser dividida, sem grandes pormenores, em quatro períodos: o
colonial, que é um adendo das literaturas dos colonizadores; o patriótico, que
reflete os movimentos de independência iniciados no século XIX; o de consolidação, a partir de 1830, quando as formas neoclássicas do século XVIII deram passo ao romantismo, que dominou o panorama por quase meio século e o auge, durante
a etapa de consolidação nacional que seguiu ao período anterior até que atingiu
sua maturidade a partir da década de 1910, com o modernismo, afastando-se de um
cânone literário especificamente europeu e chegando a ocupar um significativo
local dentro da literatura universal.
É habitual considerar que o momento de maior auge da literatura
hispano-americana surge com o denominado boom, fenômeno
literário e editorial que surgiu entre 1960 e 1970, quando o trabalho de um
grupo de escritores relativamente jovens da América Hispânica (o colombiano
Gabriel García Márquez, o peruano Mario Vargas Llosa; o argentino Julio
Cortázar e o mexicano Carlos Fuentes, entre outros) foi amplamente distribuído
pelo mundo todo.
Esses escritores desafiaram e superaram os
convencionalismos estabelecidos na literatura de seus países através de obras
experimentais, de afã totalizador, além de um marcado caráter político, devido à
situação geral da América Latina naqueles anos.
Espero que esta lista os instigue a conhecer os textos desses autores, afinal, a literatura é um excelente meio para mergulhar na cultura e na língua estrangeiras!
ARGENTINA
Jorge Luis
Borges (1899-1986)
Nascido em Buenos Aires,
é um dos escritores mais importantes da Argentina e uma das figuras de destaque
da literatura contemporânea do século XX. Cultivou diversos gêneros literários,
centrando-se no ensaio, a narrativa e a poesia, demonstrando um perfeito domínio
da língua castelhana. Em toda sua subjaz uma mensagem existencialista, quase
filosófica. Criou um mundo fantástico, metafísico e totalmente subjetivo. Sua
obra, exigente com o leitor e de não fácil compreensão, despertou a admiração
de numerosos escritores e críticos literários do mundo todo. Entre suas
principais obras, encontram-se El Aleph, Ficciones,
El libro de Arena, Fervor de Buenos Aires e El idioma de los Argentinos.
Em sua narrativa, reúne
tanto a herança de Borges, Marechal e Macedonio Fernández como a de uma tradição
europeia na linha da literatura fantástica surrealista. Seus melhores contos se
encontram nos volumes Bestiario, Final del juego e Las
armas secretas. Viveu grande parte de sua vida em Paris, cidade que o
inspirou a escrever aquele que seria seu principal romance, Rayuela
(O jogo da amarelinha), considerada por muitos sua obra mestra, influenciou os
jovens narradores hispano-americanos. Fiel a seu caráter inovador, inclui um
breve capítulo no início da novela, no qual o autor ensina ao leitor as
diferentes maneiras de ler a obra. Alguns afirmam que essa forma de leitura
seria a criação do “link”, presente atualmente nos textos eletrônicos.
CHILE
Isabel Allende (1942)
Tornou-se um dos
maiores nomes da literatura latino-americana a partir da década de 1980, quando
estreou no campo da ficção. As novelas que misturam mitos com personagens
inusitados, combinando realidade e sobrenatural, alcançaram grande sucesso
entre o público e a crítica. Entre seus livros destacam-se: La
Casa de los Espíritus, De amor y de Sombra, Eva Luna, El Plan Infinito, Paula,
Afrodita, La Hija de la Fortuna e Retrato en Sepia.
Pablo Neruda (1904-1973)
É considerado um dos
melhores poetas do século XX. Publicou mais de trinta obras de poesia em vida,
de entre as quais, destaca-se Veinte
poemas de amor y una canción desesperada. Trata-se de uma recopilação de
poesias que cantam o amor e o desamor com um inconfundível toque de nostalgia.
Sua poesia é profundamente humana e oscila entre o romantismo doce e simples. Vê
na mulher amada uma transfiguração da paisagem de rios e colinas.
COLOMBIA
Considerado o pai do
movimento literário realismo mágico, é conhecido por sua técnica narrativa de
misturar, de forma perfeita, fatos do cotidiano com elementos de fantasia. Conhecido
mundialmente por sua obra Cien
años de soledad,
novela que narra a história da família Buendía e da fundação do povoado de
"Macondo" e que contém temáticas como a fatalidade, o amor e a morte.
Outras obras de destaque são Crónica
de una muerte Anunciada, El amor en los tiempos del cólera, La
Hojarasca e El
general en su laberinto. Recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1982.
MÉXICO
Carlos Fuentes (1928-2012)
Escritor, intelectual e diplomata mexicano,
um dos autores mais destacados de seu país y das letras hispano-americanas, autor de romances como La región más
transparente, La muerte de Artemio
Cruz, Aura e Terra Nostra e ensaios como La
nueva novela hispanoamericana, Cervantes o la crítica de la lectura, El
espejo enterrado, Geografía de la novela e La
gran novela latinoamericana, entre outros.
Recebeu, entre outros,
o Prêmio Rómulo
Gallegos, em 1977; o Cervantes, em
1987; e o Príncipe
de Asturias de las Letras, em
1994. E foi nomeado grande oficial da
Legião de Honra, em
2003 e cavalheiro grande cruz da Ordem de Isabel a Católica, em 2009. Foi nomeado membro honorário da Academia Mexicana da
Língua em agosto de
2001 e Doutor honoris causa por várias universidades, entre elas Harvard, Cambridge e Nacional de México.
Até o dia de seu
falecimento, foi considerado candidato principal para obter o Prêmio Nobel de
Literatura. O último latino-americano a receber este premio, o peruano Mario
Vargas Llosa, expressou seu desejo de que o próximo autor da língua a recebê-lo
fosse Carlos Fuentes. Este disse pouco tempo antes: "Cuando se lo dieron a García Márquez (1982) me lo dieron a mí, a mi generación,
a la novela latinoamericana que nosotros representamos en un momento dado. De
manera que yo me doy por premiado".
Juan Rulfo (1917-1986)
Com apenas duas
obras, Juan Rulfo consagrou-se
como mestre da literatura latino-americana contemporânea. Nos relatos de El
llano en llamas, aparecem as áridas terras de Jalisco,
onde "os mortos pesam mais que os vivos". Com uma língua prodigiosa, simples
e concisa, e de um ponto de vista impessoal, Rulfo faz desfilar em uma sucessão
de enquadramentos impressionistas, a ação é escassa, a realidade de umas gentes
à beira do desespero. O clima dos relatos é de alucinação, pois não há roupagem
alguma capaz de mascarar a miséria. Na novela Pedro
Páramo, utiliza idênticos
procedimentos para contar uma história que está presa pela fatalidade.
Octavio Paz (1914-1998)
Deu-se a conhecer
como poeta, em 1933, com Luna
silvestre. Publicou mais
tarde Entre la piedra y la flor, A la orilla del mundo, um livro de poemas em prosa, ¿Águila o sol?, Semillas para un himno e La estación violenta, livros que, em 1960, reúne em Libertad bajo palabra. A este primer ciclo poético seguem-se outros
dois: Salamandra e Ladera este. Após apresentar dois textos de poesia
óptica, Topoemas e Discos visuales, Paz compila em um quarto
ciclo sua última produção poética, Pasado
en claro (1975).
Em seus ensaios,
Octavio Paz exerce um magistério que, sem dúvida, é o mais influente na atual
literatura mexicana. Os temas de que trata são diversos: literários: Las peras del olmo, Cuadrivio; históricos: Conjunciones y disyunciones, La búsqueda del comienzo; de moral, política, arte, etc.: Puertas al campo, El mono gramático, Los hijos del limo; sem esquecer seu ensaio sobre a essência
do mexicano: El
laberinto de la soledad.
O conjunto desta produção tornou-o um fecundo ensaísta da literatura latino-americana.
PARAGUAI
Augusto Roa Bastos (1917-2005)
Seus relatos
breves El trueno entre las hojas, El baldío e Moriencia, descrevem magistralmente diversos
aspectos da vida paraguaia. Como romancista, Roa torna-se intérprete, em Hijo de hombre, da opressão do povo paraguaio, enquanto
em Yo el Supremo, reconstrói a figura do doutor Francia,
“Perpétuo Ditador do Paraguai”, em uma meditação sobre o poder. Somente por
esta novela, Roa já mereceria aparecer entre os grandes escritores latino-americanos
do século XX.
PERU
Mario Vargas Llosa (1936)
É um especialista
das técnicas narrativas e membro da literatura hispano-americana denominada
"boom". Se no contexto peruano, sua obra que se inicia com La ciudad y los perros, representa uma reorientação da temática do
indigenismo, ao mesmo tempo que representa uma abertura para novas formas de
escrever romances, La Casa Verde, Conversación
en La Catedral, no
contexto continental suas novelas supõem mudança, no entanto seguindo Faulkner e
Joyce. Além das obras citadas, Vargas Llosa é autor de um magnífico relato Los cachorros, bem como de outras novelas: Pantaleón y las visitadoras, La tía Julia y el escribidor e La guerra del fin del mundo, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em
2010.
URUGUAY
Genial contista
que dá expressão aos impulsos do inconsciente mediante uma estrutura ilógica em Fulano de tal, Libro sin tapa, La cara de Ana e La envenenada e, posteriormente, em Nadie encendía las lámparas e La casa inundada.
Juan Carlos Onetti (1909-1994)
Onetti é
considerado um dos poucos existencialistas em língua castelhana. Mario Vargas
Llosa, quem preparou um ensaio sobre Onetti, disse em uma entrevista que “é um
dos grandes escritores modernos, e não somente da América Latina”. “Não obteve o
reconhecimento que merece como um dos autores más originais e pessoais, que
introduziu principalmente a modernidade no mundo da literatura narrativa”. “Seu
mundo é um mundo antes pessimista, carregado de negatividade, isso faz que não chegue
a um público muito vasto”. Seu primeiro romance El pozo, foi considerada por Vargas Llosa como o início do
romance moderno na América Latina.
O romance Tierra de nadie obtém o segundo lugar
no concurso Ricardo Güiraldes. Nesse mesmo ano, publica Un sueño realizado, considerado
seu primeiro conto importante.
Nos anos seguintes,
publicará o romance Para esta
noche e uma série de contos, publicados no jornal La Nación,
entre os quais se destaca La
casa en la arena, por ser o que dá início ao mundo de sua cidade de
Santa María, que desenvolverá no romance La vida breve. Precisamente nessa cidade
mítica transcorrerá a ação da grande maioria de seus novos romances e contos.
Horacio Quiroga (1878-1937)
Contista,
dramaturgo e poeta uruguaio. Seus relatos breves, que frequentemente retratam a
natureza como inimiga do ser humano sob traços temíveis e horrorosos, valeram-lhe
a comparação com o escritor norte-americano Edgar Allan Poe. Sentiu-se atraído
por temas que abarcavam os aspectos mais estranhos da Natureza, frequentemente
marcado pelo horror, doença e sofrimento para os seres humanos. Muitos de seus
relatos pertencem a esta corrente, cuja obra mais emblemática é a coleção Cuentos de amor de locura y de muerte.
A vida de Quiroga, marcada pela tragédia, os acidentes de caça e os suicídios, culminou, por decisão própria, quando bebeu um copo de cianureto no Hospital de Clínicas de Buenos Aires, ao saber que sofria de câncer gástrico.
No marcador Contos traduzidos, aqui no blog, vocês podem ler a tradução ao português de alguns textos desses autores.