Você já leu "80 quilômetros submarinos" ¹ ou "233 graus Celsius"?
Não? Nunca ouviu falar?
E quanto a “20 mil léguas submarinas” ou “Fahrenheit 451”?
Ahhhhhhh... agora sim!
É claro que o título desta publicação foi apenas uma
estratégia para chamar a atenção para um assunto que desperta muitas dúvidas entre
os tradutores: a conversão de unidades de medida.
Recentemente li um artigo de um tradutor técnico que
relatava sua experiência ao trabalhar em um projeto volumoso de
tradução sobre perfuradoras de uma instalação petrolífera. Ele contou que
decidiu converter as unidades de medidas e que depois precisou desfazer a
conversão a pedido do cliente. O que, na opinião dele, revelou a desconfiança do cliente sobre a capacidade de o tradutor realizar esse tipo de
trabalho.
É verdade que qualquer conversão ou cálculo sempre correrá o
risco das consequências de um erro humano, como dizia nosso otimista Murphy:
“Se este homem tem algum modo de cometer um erro, ele o fará”. Também é verdade
que um erro
humano na conversão de medidas pode ter consequências graves, causando
prejuízos financeiros ou, até mesmo, colocando em risco a vida de pessoas.
A questão básica ao deparar com medidas ou moedas em um texto é: quando devemos convertê-las?
Em textos literários, normalmente não se convertem medidas
ou moedas, primeiro porque sua conversão é irrelevante para o enredo em si e,
segundo, para não descaracterizar a cor local da obra, isto é, para não
domesticar a obra estrangeira, eliminando suas peculiaridades culturais. A
título de curiosidade, o tradutor poderá adicionar uma nota. Mas as notas são
outra questão controversa, há quem goste e há quem não goste, como tudo nesta
vida.
No romance “Senhora”, de José de Alencar, por exemplo, Aurélia
oferece um dote de cem contos de réis para se casar com Fernando. O leitor não precisa
se preocupar com a cotação do euro, dólar, ou coisa que o valha, nem a quanto
corresponderia esse valor em nossa moeda atual, porque essa informação só é relevante ao próprio Fernando.
Mas também é verdade que há leitores muito curiosos como
esta que aqui escreve, que adoram escrutinar os mínimos detalhes, por isso, se você
quiser saber a quantos reais equivaleriam 100 contos de réis, basta fazer uma
conta bem simplesinha: transforme os réis em mil-réis, depois em cruzeiros, em
cruzeiros novos, em cruzados, em cruzados novos, em cruzeiro real e, por último em reais,
depois aplique o índice de reajuste da inflação e os juros da poupança e...
prontinho!
Em se tratando de conversão de medidas, a dúvida mais corrente é quanto aos textos
técnicos ou comerciais. Aí não adianta “poner la carreta delante de los
bueyes” (sim, neste caso a tradução do refrão é literal), o recomendável é
consultar o cliente para não perder tempo com retrabalho. Há
trabalhos que requerem a conversão e outros que não a requerem, isso dependerá da
relevância que as medidas tenham para o documento e para o público alvo.
Se o cliente exigir a conversão das medidas, é importante
saber que, basicamente, encontramos dois sistemas de medidas: o sistema
imperial ou britânico de unidades (pés, polegadas, etc.) e o sistema
internacional de unidades (centímetros e milímetros, respectivamente).
A opção mais rudimentar para converter unidades é mediante
uma calculadora, evidentemente isso toma muito tempo e aumenta a probabilidade
de erros. A opção mais recomendada é realizar a conversão através de uma página
web como Convert World ou mediante um
software tal como Converber.
Se ainda assim você se sentir inseguro para converter unidades, seja
franco com o cliente, pois mesmo com as ferramentas de conversão automática disponíveis
na rede, ainda é possível encontrar erros grosseiros como o que aconteceu recentemente no “Caso Adele”, quando alguns jornais renomados
noticiaram que a cantora britânica teria emagrecido 68 quilos quando, na
verdade, ela emagreceu 68 libras, o que corresponde a 30 quilos.
N.T
(1) Cabe aqui um exemplo de erro: depois de publicar o artigo, descobri que a légua não tem uma medida fixa, esta varia de acordo com a época, país ou região. A do livro de Julio Verne equivale a 4 km e é dada explicitamente em uma parte do livro (lieues de quatre kilomètres) e confirmada por várias distâncias que são dadas em ambas as léguas e milhas (milles). Estas são milhas náuticas, que por sua vez é confirmada por uma passagem dando o total de área da superfície da Terra como sendo de 37,657,000 "milhas" quadradas ou 129,160,000 km². Isto só confirma o fato de que converter medidas não é uma coisa simples.
(1) Cabe aqui um exemplo de erro: depois de publicar o artigo, descobri que a légua não tem uma medida fixa, esta varia de acordo com a época, país ou região. A do livro de Julio Verne equivale a 4 km e é dada explicitamente em uma parte do livro (lieues de quatre kilomètres) e confirmada por várias distâncias que são dadas em ambas as léguas e milhas (milles). Estas são milhas náuticas, que por sua vez é confirmada por uma passagem dando o total de área da superfície da Terra como sendo de 37,657,000 "milhas" quadradas ou 129,160,000 km². Isto só confirma o fato de que converter medidas não é uma coisa simples.
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