terça-feira, 9 de junho de 2015

Significado de "achicharrarse" em espanhol

Achicharrarse” corresponde à forma pronominal do verbo “achicharrar” e, é uma expressão coloquial, que segundo o dicionário da RAE, significa:

Experimentar un calor excesivo, quemarse, por la acción de un agente exterior, como el aire, el sol, etc.

Pois é, sabe aquele pessoal que se esquece de passar o filtro solar na praia e fica parecendo um camarão? Isso é "achicharrarse".


Vejamos alguns exemplos de uso extraídos da literatura:

(...) Bueno, Platero. Y ahora voy a darte un cubo de esta agua pura y fresquita, el mismo cubo que se bebía de una vez Villegas, el pobre Villegas, que tenía el cuerpo achicharrado ya del coñac y del aguardiente... (Platero y yo, de Juan Ramón Jiménez)

“(...) Ardieron pelos, camisón, sábanas, mientras Mignon sujetaba a su hermana por la garganta para que no gritara, repitiéndole una y otra vez que lo único que deseaba era verla achicharrarse.” (Casa de Campo, de José Donoso)

“- Señor Maestro, dijo San Pedro, esto es achicharrarse vivo, y yo ni siquiera me atrevo a quitarme la caperuza para limpiarme el sudor, porque como tengo tan poco pelo, temo coger una insolación que me lleve la trampa.” (Narraciones Populares, de Antonio de Trueba)

Os memes de Julio Iglesias  tornaram-se uma verdadeira febre no verão de 2013, fazendo referência principalmente a suas conquistas amorosas. Outro meme famoso é aquele em que o cantor aparece apontando com o dedo, como uma espécie de oráculo acusador, dando suas previsões catastróficas... As previsões sempre terminam com a frase “y lo sabes” (exemplo: “Vas a suspender el examen, y lo sabes”).

Em Madri são muito comuns os edifícios de tijolo à vista de, no máximo, 4 andares, sem elevador. A maioria deles foi construída através de programas sociais destinados a combater o desemprego e a atender as necessidades do crescimento demográfico. São construções simples sem ornamentos, e uma de suas características são as sacadas com toldos de lona, em sua maioria verdes, que servem para aplacar um pouco o ensolarado e seco verão madrilenho, principalmente em julho e agosto, quando a temperatura é escaldante. 

Por isso, nesse caso, Julio Iglesias tem razão. Se você morar em Madri e não colocar um toldo na sacada quando o verão chegar: “¡te vas a achicharrar!”.


Uma fachada típica em Madri: tijolo a vista e toldo verde.
Embora pela aparência, este não seja bem um prédio popular

domingo, 7 de junho de 2015

Em matéria de comunicação, não há nada óbvio

Desde que o ser humano começa a tomar consciência de si mesmo, quando ainda é uma coisinha pequena e rechonchuda, já aprende a se comunicar e a exercer seu poder por meio da comunicação. Basta um berro bem caprichado para que mamãe e papai saiam correndo feito baratas tontas atrás de fraldas, mamadeiras, chocalhos e coisas que o valham.

A comunicação confunde-se com a própria vida. Temos tanta
consciência de que comunicamos como de que respiramos ou
andamos. Somente percebemos a sua essencial importância
quando, por acidente ou uma doença, perdemos a capacidade
de nos comunicar
. (Bordenave, 1986. p.17-9)

Por ser algo tão natural, nem nos damos conta dos processos complexos que a comunicação envolve. Principalmente quando falamos, tudo é tão instantâneo e automático que, algumas vezes, só tomamos consciência de algo que dissemos depois de tê-lo dito. Muitas vezes pensamos algo, mas, ao tentar expressá-lo, sai de forma distorcida. Ou, se sai como queremos, é distorcido por nosso interlocutor. Complicado não? Afinal de contas, é a linguagem que desenvolve o pensamento ou é o pensamento que desenvolve a linguagem? O linguista Edward Sapir propôs uma perspectiva alternativa em 1921, ao sugerir que a linguagem influencia a forma como os indivíduos pensam. Mas, finalmente, qual é o objetivo deste preâmbulo?

Ultimamente tenho prestado muita atenção à ambiguidade da comunicação e percebi que há mais mistérios entre o transmissor e o receptor do que sonha nossa vã filosofia. Ou seja, em matéria de comunicação nada é obvio. 


A comunicação é algo tão incrível que você pode dizer uma coisa querendo expressar exatamente o contrário: é a tal da ironia. Aliás, a ironia é algo bastante cruel, principalmente quando o outro é ingênuo. Lembro-me bem de uma ocasião em que meu pai estava me dando uma lição de matemática e, irritado com minha letra miúda, disse-me ironicamente: “Você não pode fazer uma letra menor?” e eu, na maior inocência, apaguei o que havia escrito e me esforcei para fazer uma letra de formiga. O que o deixou ainda mais irritado, por achar que eu estava zombando dele.

Reforçando: em matéria de comunicação, não há NADA óbvio.

Mesmo quando o indivíduo está formulando um desejo para si mesmo ele consegue ser ambíguo.



Muitas vezes, as respostas malsucedidas são resultado de perguntas ambíguas.

Lembro-me, também, de uma prova de geografia do meu filho, na qual a professora perguntou: “Como se encontram as rodovias brasileiras?”. Ao que meu filho respondeu, na maior ingenuidade, “Pelo mapa”. A professora achou que era piadinha, quando, na verdade, a pergunta dela era ambígua, não era “óbvio” que ela se referia à “situação” das rodovias... E essa ambiguidade aparece o tempo todo em questões de provas mal formuladas.



Mas, se a comunicação que envolve uma única língua já é complicada, quem dirá a que envolve mais de uma língua? Quem dirá a tradução, onde o tradutor deve, primeiramente, interpretar a mensagem em um código e, a seguir, reproduzi-la em outro?

Desconfie sempre do óbvio!

Não somente no processo de tradução em si, mas em todo o processo de negociação e de instruções sobre o trabalho. 

Não é óbvio, por exemplo, que a tradução de uma apresentação seja em Power Point, pois ela pode ser em LibreOffice ou em outro editor de apresentações, isso faz diferença, pois pode causar perda de formatação; não é óbvio, também, que a tradução de slides inclua a tradução dos comentários. Ou que a tradução de gráficos e figuras, bem como a formatação, estejam incluídas no orçamento de um projeto. Tampouco é óbvio, em se tratando de versão para o espanhol, que a variante do texto alvo seja a peninsular ou a rio-platense... Também não é óbvio que você receberá o arquivo original em formato editável ou que o cliente lhe pagará na entrega... ou que o prazo incluirá somente dias úteis... ou que a contagem de palavras se dará a partir do original... ou que uma lauda corresponda a 1.000 caracteres sem espaços...

A máxima é: “Não há nada óbvio”. Toda dúvida deve ser muito bem esclarecida antes de aceitar um trabalho. Quando o assunto é comunicação, nem tudo é o que parece...



Para ver algumas formas de eliminar a ambiguidade do texto, clique aqui.


sexta-feira, 5 de junho de 2015

O seguro morreu de velho

Você já deve ter ouvido esta frase alguma vez. Em outras palavras: o homem precavido, também morre, pois a morte chega para todos; no entanto, para ele, chega em idade avançada, por causas naturais, isto é, morre de velho. A palavra "seguro", neste provérbio, refere-se ao adjetivo “se + curus”, do latim, livre de cuidados e preocupações. Foi incorporada à nossa língua no século XIII e significa protegido, livre de riscos, prudente ou, até mesmo, sovina.

Você também já deve ter ouvido estas outras: “Prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém”, "Não troque o certo pelo duvidoso", "Confia no futuro, mas põe a casa no seguro", "Quem corre pelo muro não dá passo seguro", ou ainda, "Mais vale um pássaro na mão que dois voando" e "Quem tudo quer tudo perde", etc. Ou, em espanhol, “Mejor precavido que arrepentido”...

Mas a que vem tudo isso? Bom, hoje de manhã, após o feriado de Corpus Christi, eu deveria entregar um trabalho. Mas o que aconteceu? A Internet caiu! Já ouviu falar da lei de Murphy? “Se alguma coisa pode dar errado, ela dará”. Mas que sujeito irônico esse Murphy, não? Que humor negro! eu, hein?
Lei de Murphy
O tal Murphy, foi um engenheiro aeroespacial norte-americano, Edward A. Murphy que, deveria apresentar os resultados de um teste de tolerância à gravidade por seres humanos. Contudo, os sensores que deveriam registrá-lo falharam exatamente na hora, porque o técnico havia instalado os sensores da forma errada. Frustrado, Murphy disse: “Se este homem tem algum modo de cometer um erro, ele o fará”, condenando a raça humana ao fracasso... Assim, toda vez que seu pão com manteiga cair com a parte da manteiga virada para o baixo, alguém lhe lembrará com um sorriso irônico nos lábios: “Lei de Murphy”!
Murphy e seu sorriso "Monalisa"

Bom, chega de pessimismo, voltemos a nossa história... Eu precisava entregar o trabalho e a Internet caiu. O que fiz? Dei cabeçadas na parede? Arranquei os cabelos? Fiz mandingas e promessas?... Não! Conectei-me com outra operadora... Isso custa caro? Eu preferiria pagar somente uma operadora? Sim, claro, eu preferiria pagar somente um serviço, mas na região onde moro, a Internet não é lá muito estável, portanto, se eu quiser manter minha palavra, precisarei de um plano B. Se eu tivesse optado por economizar, ficando com uma única operadora, além do adágio de Murphy, também teria de aguentar o velho adágio "O barato sai caro" que, nesse casso, "cairia como uma luva".
Mas, se eu sei que o pão pode cair com a manteiga virada para baixo, o que farei? Deixarei de passar manteiga no pão? Não! Manterei o pão com manteiga bem longe de meu tapete persa... 

Não estou aqui para dar lições ou sermões a ninguém, mas se quisermos manter nossa palavra, devemos nos esforçar para isso e evitar desculpas esfarrapadas. Já dizia o sábio linguista J. L. Austin “Minha palavra é meu penhor”, ou seja, minha palavra é minha garantia.

Quando o assunto é compromisso, é preferível morrer de velho a chorar pelo leite derramado...

A propósito, por ironia do destino, a tradução que fiz era sobre segurança e prevenção de riscos...

É, Murphy, não foi desta vez...