A maioria dos problemas relacionados à escrita decorre da tendência atual de eliminar a gramática do
ensino de línguas, privilegiando a comunicação em detrimento da norma culta. Essa
abordagem tem origem na linguística, ciência que estuda a linguagem como
fenômeno social e para a qual não existe o erro; o que existem são registros.
Um
registro, seja ele
qual for, está ligado ao ambiente linguístico do falante, que evoca grupos
sociais, regiões, situações específicas etc. O fato é que essa tendência vêm dificultando o
ensino do registro formal, da chamada língua-padrão ou língua-culta. Assim a
língua é abandonada cada vez mais ao deus-dará, à deriva, ao sabor dos ventos e
das correntes… Mas isso é assunto que dá muitos panos para manga e não vou
aprofundá-lo aqui.
O uso correto dos pronomes relativos é
muito importante, já que eles constituem elementos de coesão, pois servem para representar
nomes já mencionados anteriormente e com os quais se relacionam. Quando são
usados de forma incorreta prejudicam o fim primordial da língua que é a
comunicação clara e eficiente.
De modo geral podemos dizer que a característica principal desses
pronomes é sua função referencial: assim, o ponto de partida para a
identificação do relativo que devemos usar é o antecendente, ou seja, o termo a
que o relativo se refere e que desejamos recuperar.
Os pronomes relativos dividem-se em
variáveis (o/a qual, os/as quais, quanto/a, quantos/as, cujo/a, cujos/as) e
invariáveis (que, quem, onde).
A seguir, alguns problemas
relacionados ao uso do pronome relativo CUJO, esse dito-cujo.
Muitas pessoas simplesmente fogem desse
pronome por achá-lo complicado ou por não saber como usá-lo. Este
pronome e suas variações: cuja, cujos e cujas, além de retomar o termo
antecedente, estabelece com esse termo, grosso modo, uma relação de posse, como
se contivesse a preposição “de”.
Vejamos um exemplo:
O livro cujas páginas foram
arrancadas relata um romance proibido.
Na frase acima a expressão “cujas páginas”
equivale a “páginas do livro”. O pronome “cujo” deve concordar em gênero e
número sempre com o termo posterior, ou melhor, com a coisa possuída. Para
compreender melhor o uso desse pronome podemos desdobrar a frase em duas
orações:
(1) As páginas do livro foram arrancadas.
(2) O livro relata um romance proibido.
Podemos esquematizar a construção da
seguinte forma:
Possuidor + pronome cujo/a
(cujos/as) + coisa possuída
O livro + cujas +páginas…
Observe que o pronome “cujo” concorda
em gênero e número com o termo posterior, a coisa possuída: “cujas páginas”.
Normalmente, o que encontraríamos
por aí seria algo do tipo:
O livro que as páginas dele foram
arrancadas relata um romance proibido. ERRADO
ou ainda:
O livro que as páginas foram
arrancadas relata um romance proibido. ERRADO
Vejamos outros exemplos de usos
incorretos e suas respectivas correções:
A casa que as janelas foram
quebradas pertenceu a um criminoso. ERRADO
A casa cujas janelas foram quebradas
pertenceu a um criminoso. CORRETO
O grande Machado, que sua obra é
imortal, também foi um tradutor. ERRADO
O grande Machado, cuja obra é
imortal, também foi um tradutor.
CORRETO
CORRETO
Os motoristas que as carteiras
estavam vencidas foram multados.
ERRADO
ERRADO
Os motoristas cujas carteiras
estavam vencidas foram multados. CORRETO
Outro problema no uso do cujo é
quanto à regência verbal, ou seja, quanto ao uso das preposições que acompanham
o verbo. Vejamos um exemplo:
O livro cujo autor me
refiro é um sucesso de vendas.
ERRADO
O verbo referir exige o uso da
preposição “a”, pois quem se refere, se refere “a” algo ou “a” alguém. Assim a
frase correta seria:
O livro a cujo autor me refiro é um
sucesso de vendas.
CORRETO
CORRETO
A moça cuja mãe conversei é estrangeira. ERRADO
O verbo conversar exige a preposição
“com”, pois quem conversa, conversa “com” alguém. Assim, a construção correta
é:
A moça com cuja mãe conversei é
estrangeira.
CORRETO
CORRETO
O jornal cuja redação enviei uma carta não a publicou.
ERRADO
O verbo enviar pede preposição “a”
ou “para”, pois quem envia, envia algo “a” ou “para” alguém. Assim, a
construção correta é:
O jornal para cuja redação enviei
uma carta não a publicou.
CORRETO
A padaria cujos bolos gosto fechou.
CORRETO
A padaria cujos bolos gosto fechou.
O verbo gostar pede preposição “de”, pois quem gosta, gosta "de" algo ou "de" alguém. Assim, a
construção correta é:
A padaria de cujos bolos gosto fechou.
Agora veja o seguinte exemplo:
A padaria de cujos bolos gosto fechou.
Agora veja o seguinte exemplo:
Américo Vespúcio,
navegador italiano em cuja homenagem foi nomeado o continente americano.
CORRETO
CORRETO
Neste caso, quem nomeia
algo o faz “em” homenagem a alguém.
Para finalizar:
O pronome relativo cujo exerce a função sintática de adjunto adnominal e nunca se deve usar artigo depois dele.
Para finalizar:
O pronome relativo cujo exerce a função sintática de adjunto adnominal e nunca se deve usar artigo depois dele.
Quanto à expressão “dito-cujo”, ela
serve para referir-se a alguém de quem já se falou, quando não se quer, não se
sabe ou não se pode dizer seu nome, equivale a fulano, sujeito. Essa expressão
varia em gênero e número: ditos-cujos, dita-cuja, ditas-cujas.
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