terça-feira, 16 de setembro de 2014

Crônica de Viagem



Holaaaaaaa!



Hoje acordei com vontade de quebrar os paradigmas e publicar algo um pouco diferente… Vocês devem ter notado que não falo muito de mim: primeiro, porque não é este o fim do blog; segundo, porque sou uma pessoa discreta e não quero parecer narcisista falando de mim e, terceiro, porque já sabem o que ocorre ao dar asa para a cobra... Mas hoje será diferente, vou girar a matraca e me desapegar um pouco da norma culta e pedir licença para usar a “norma curta”, hoje o tom será coloquial e haverá algumas gírias e provavelmente escapará alguma palavra que não seja de fino trato.


Feitas as devidas ressalvas ou advertências, cá estou para narrar um pouco de minha viagem à Espanha, afinal este é um blog de uma tradutora de espanhol, ou seja, que no fim das contas tudo converge para o mesmo ponto… 

Então, não se preocupem, que esta crônica terá somente uma folhinha. Mas, querem saber de uma coisa? Eu acho que vocês já estão ficando curiosos… é, a pulguinha da curiosidade já deu sua mordida… Afinal, quem é que não gosta de uma fofoquinha?


Então, lá vai, voilá, let´s go, ándale ou, segundo o último chavão das redes sociais: Tácale pau, Marco véio! Se vocês não sabem a que me refiro, deem uma navegada aí pela rede, que eu espero…

cri... cri... cri... (canto de grilo)


(Tá bom, já esperei bastante!) Agora sim, chega de circunlóquios e vamos logo ao que interessa: minha viagem à Espanha. Passei as férias de julho lá, em pleno verão espanhol. Desta vez fui sozinha porque os meninos já são adolescentes e já pagam a passagem completa, assim, para irmos os quatro juntos sairia muito caro e, como este ano foi lançada minha versão 4.0 (se é que vocês me entendem… é isso mesmo, completei 40 primaveras) acho que meu marido resolveu me presentear, pois a ideia da viagem foi dele…


Para começar, fiquei empolgada, mas também com o coração apertado por eles não irem comigo. Também preocupada porque meu marido é militar e superorganizado e  superoperacional e eu, digamos, sou assim… um pouquinho desligada (eufemismo). Já me ocorreu em certa ocasião de perder o passaporte três dias antes da viagem, para ter uma ideia do nível de abstração… Também ocorreu de esquecermos a mala com a roupa das crianças em casa e só nos darmos conta ao chegar ao destino… Então, é claro que eu estava um pouco preocupadinha, porque normalmente eu sigo meu marido por osmose e ele comanda a tropa na hora de fazer o check-in, etc.


Outra preocupação foi com respeito a umas plaquinhas de advertência que mostram um montão de coisas que é proibido transportar no avião: sementes, produtos de origem animal, vegetal, bebidas alcoólicas, etc. Tudo isso está tachado com um xis vermelho que significa "proibido". E eu estava levando uma mala enorme cheia dessas coisas: 6 pacotes de feijão preto, 6 pacotes de farofa, ingredientes a vácuo para feijoada, 4 garrafas de cachaça (!), paçoquinhas, balinhas de banana, pés de moleque, goiabada, melado, pipoca doce de canjica, halls de cereja, petecas, duas redes de dormir e coisas que tais… 

Felizmente não confiscaram nenhuma de minhas preciosidades! Ou seja, quando vocês forem viajar, podem levar o que lhes dê na telha, vão por mim!


Desde criança, tenho a mania de dramatizar tudo, sempre “viajo na maionese”. Então já imaginava o pior, eu chegando ao aeroporto de Madri e a Interpol e o FBI chutando minhas nádegas… he he he… eu disse que sou um pouquinho dramática. Mas verdade seja dita, os espanhóis são um pouco chatinhos com suas exigências para entrar à terrinha. Uma das exigências que eles fazem, por exemplo, é a de apresentar uma carta-convite caso você vá ficar na casa de um parente. Com perdão da palavra, essa carta-convite é um pé no s…, muita burocracia. Como o jeitinho brasileiro corre em minhas veias, fiz uma reserva de hotel e a cancelei tão logo passei pela alfândega (só dou dicas quentes!).


Felizmente não tive problema algum com o FBI nem com a Interpol ou coisa que o valha, o único problema que tive ao chegar à península foi com o maldito carrinho para carregar as malas. Explico: para usar o carrinho, você tem de pagar um euro e eu só levava notas de cem euros (é isso aí, eu tenho muita grana…rsss). Outra dica quente: levem troco! Precisei dirigir-me até uma casa de câmbio e comprar 50 “reales” para conseguir uma moeda de 1 euro para pegar o dito-cujo do carrinho. Enquanto isso minha irmã, que tem o mesmo sangue dramático espanhol nas veias, já estava pensando que eu havia sido presa e que a essas alturas estaria sendo interrogada…


Superado esse pequeno percalço, eis que encontro minha querida irmã e nos abraçamos com os olhos cheios d´água!  Meu cunhado também estava lá e meu sobrinho fofo com um desenho de dragão com os dizeres: “¡Bienvenida, Diana!” (coisa querida!).

(Depois fiquei sabendo que ele fez o desenho no carro, na correria,
mas tudo bem, o que vale é a intenção).
Minha nossa… já escrevi quase uma página inteira e ainda não contei da missa um terço! Agora vocês entendem porque não gosto de falar de mim…


Não se preocupem que serei sucinta de agora em diante, dentro do possível, é claro… Vamos às impressões e aos pontos altos da viagem!


Para começar, quando ponho o pé na Espanha, deixo de ser a Diana e passo a ser a “Dianita”, é assim que La Familia espanhola me chama. Como fui sozinha desta vez, tornei-me o centro das atenções: “Dianita, qué sitios quieres conocer?”, “Dianita, mi vida, ¿qué te apetece comer?”. Desta vez não me deram muita chance de escolher o que comer porque da última vez eu pedi: “Algo simple: ¡un cocidito madrileño!”, o que corresponde a uma espécie de feijoada, mas de grão-de-bico, em pleno verão madrilenho, sob quarenta graus, todo o mundo suando na mesa e querendo pular em meu pescoço…


Agora vamos às impressões da viagem: foi muito bom estar com minha irmãzinha e com toda La Familia espanhola, mas no fim da viagem eu já estava louca de saudades de meu marido e filhos, e também do nosso cachorrinho salsichinha…


Apesar da saudade de casa, foi muito divertido, ficamos alguns dias em Madri e depois fomos à praia em Valência, San Juan. Madri é encantadora no verão porque todas as pessoas vão para a praia, então a cidade fica mais amena, as calçadas cheias de mesinhas para tomar unas jarritas de cerveza, cañas, y tapear, isto é, comer petiscos nos barzinhos. Tomamos altas cervejinhas supergeladas e o legal é que eles sempre servem uma porção como cortesia da casa.


Um ponto alto foi o bar “Las bravas” onde degustamos uma deliciosa tortilla de patatas molhadinha e as famosas patatas bravas, esse lugar está no centro, próximo à Plaza del Sol e é famoso por servir as melhores “bravas” de Madri, as legítimas. As bravas são umas batatas fritas em pedaços irregulares com um molho picante à base de pimentón, uma delícia! O lugar também é conhecido por seus clássicos espelhos deformantes na fachada. Outros quitutes deliciosos foram: as orejas de cerdo a la plancha, orelhas de porco cortadas em tirinhas e fritas na chapa; os chipirones, umas lulas bem pequeninhas fritas; la cecina, um jamón delicioso de carne de vaca; a morcilla; los bocadillos de calamares, sanduíches de lulas, etc.


E, em casa, as comidas familiares deliciosas: leche frita (uns quadrados de creme à base de leite, empanados e fritos e salpicados com canela e açúcar), arroz con bogavante (uma espécie de lagosta), croquetas, conejo, mejillones, e outras iguarias. Resumindo: ¡tudo muito gostoso! Claro que eu não poderia deixar de retribuir com um quitute brasileiro, por isso preparei uma feijoada caprichada e uma jarra de caipirinha. Nesse dia, devido à comilança e à caipirinha, todos ficaram indispostos para ir à praia. O único ingrediente que faltou em nossa feijoada foi a couve, descobri que lá se chama berza e que não é fácil de encontrar. Minha tia, na maior boa vontade, trouxe-me um repolho, mas expliquei que não era a mesma coisa e que não combinava com a feijoada.


Do ponto de vista linguístico, ocorreram algumas ambiguidades engraçadas. A certa altura do campeonato, a conversa terminou em futebol, especificamente no coco que o Brasil levou da Alemanha, e não sei por que cargas d´água eu relatei o episódio em que o Maradona deu água “batizada” para os jogadores brasileiros na Copa de 90. Minha tia pensou que água “batizada” era “água benta”… hehehe


Em outra ocasião, uma de minhas tias disse que havia ligado para outra de minhas tias, que estava na praia, e que ela estava muito queimada. Eu disse: “que nada, eu também conversei com ela e perguntei-lhe se estava muito bronzeada e ela disse que não”. Todo mundo riu e fiquei sabendo que “estar quemada” significa estar “pê” da vida…


Como não poderia deixar de ser, a desligada que vos fala fez uma trapalhada… Explico: minha tia querida sempre me dá presentes úteis à profissão: livros de gramática, dicionários, etc. Desta vez, ela me deu três livros, dos quais falarei numa outra postagem, uma garrafa de brandy espanhol para meu marido, e camisetas de Madri e lembrancinhas para os meninos. ¿O que aconteceu? Quando voltamos para Madri, em meio do caminho, dei-me conta de que havia esquecido os presentes em San Juan…


E quem disse que os espanhóis não são exímios na arte de dar um jeitinho? Sabem como resolvemos o imbróglio? Minha irmã comprou tudo novamente no centro comercial em Madri com o cartão da loja e depois devolveu todos os clones que ficaram em San Juan quando estes chegaram a Madri pelas mãos do marido de nossa prima…rssssss Um procedimento muito simples! Mais uma “dica quente” caso vocês se esqueçam de algum presente que sua tia lhes dê em outra cidade e caso tenham uma irmã que tenha um cartão da loja em que a tia comprou os presentes. Se a lua estiver alinhada com Plutão, dará tudo certo...


Ah, sim, mais uma coisa divertida: fui promovida! Explico: quando eu era adolescente, minha tia vivia brigando comigo para que eu arrumasse meu quarto e recolhesse minhas roupas, agora, fui promovida a fiscal, eu era a encarregada de verificar diariamente se meu primo de 21 anos havia arrumado seu quarto e recolhido suas roupas. Quando ele não o fazia, minha tia quase tinha um piripaque, era muito engraçado ouvi-la gritar: “¡Arregla tu habitación de una puñetera vez! (sim, os espanhóis falam muito “tacos”, palavras de baixo calão), principalmente quando os adolescentes deixam o quarto parecendo um chiqueiro…rsss


Minha irmã me perguntou a respeito de minhas impressões sobre os costumes locais. Destaco algumas: enquanto as mulheres brasileiras não se importam de usar fio dental e mostrar as nádegas, as espanholas acham isso horrível, mas não se importam de mostrar as glândulas mamárias na praia… E todo o mundo diz que as brasileiras usam pouca roupa, mas a moda espanhola deixou-me arrepiada… as mulheres estão usando uns shorts, ultracurtos e puxadíssimos para cima, o que me fez lembrar de um horroroso hit que tocava há alguns anos atrás aqui no Brasil: “tô ficando atoladinha, tô ficando atoladinha…”


Outra coisa terrível: em algumas casas não se usa fechadura nos banheiros, nunca vi tamanha falta de privacidade, imaginem o cara lá, passando um fax, e de repente alguém abre a porta... Desculpem, mas eu precisava contar.


Outra coisa estranha é que os espanhóis não se decidem sobre quando traduzir nomes de filmes, super-heróis e outros que tais… Eu não acertava uma… A titia querendo parecer descolada para o sobrinho de nove anos:

Titia - ¿Así que te gusta la peli de “Guerra en las Estrellas?

Sobrinho - ¿Guerra en las Estrellas?

Titia - Sí, la de los “yédis” (“jedais”, aqui no Brasil).

Sobrinho - Ah, Star War…

Titia - Y te gusta el hombre-araña?

Sobrinho - ¿”Espidermán”?

Titia - ¿Y el hombre de hierro?

Sobrinho - ¿”Ironmán”?

Titia - ¿Y wolverine?

Sobrinho- ¿Lobezno? [sim, acreditem, “Lobezno”]

Titia - ¿Has visto el Planeta de los Monos?


Sobrinho - ¿El planeta de los Simios?

Titia - ¿Y te gusta la serie Los Muertos Andando, la de los zombis?

Sobrinho - ¿Querrás decir The Walking Dead? 



Enfim…


Penúltima coisinha... minha irmã, que é agente de viagens, descobriu no último dia, ao checar minha passagem que eu teria de trocar de aeroporto em São Paulo, do aeroporto de Guarulhos para o de Congonhas. Não disse que sou um pouco distraída?

Última coisinha: como não poderia deixar de ser, trouxe uma mala cheia de pipas (sementes de girassol torradas e salgadas), kikos (grãos de milhos torrados e salgados), jamón (presunto cru curado), chucherías (balinhas e coisas que tais), mexilhões em conserva, garrafas de vinho e de brandy... Nada me foi confiscado!

Bom, agora chega, prometo que voltaremos às postagens sobre gramática e tradução. Desculpem-me por este deslize! 

PS: Esqueci-me de falar da parte cultural da viagem...rsss Não pensem que tudo se resumiu a comilança, cerveja e praia, também houve um lado cultural. Fomos ao Palácio de la Granja, um passeio maravilhoso, também fomos ao museu de arte contemporânea, o Reina Sofía, onde está exposto El Guernica, de Picasso. E também fomos ao Museo del Prado onde há obras belíssimas de Goya, Caravaggio, Velázquez, José Ribera, Rubens e Goya. Ótimas dicas de passeios culturais!

2 comentários:

  1. Diana... Compartilhe sempre, sempre, sempre suas "experiências" pessoais, pois eu adorei! Viajei junto com você: o saudoso verão madrilenho, o "Las Bravas" com suas "comidas al gusto bravo" (jejeje), "mesitas en la acera, gente por la calle", os palavrões espontâneos dos espanhóis e a delícia de descobrir novas formas de expressão e vivenciar a língua viva... Perfeito! Adorei

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  2. Outro dia estava pensando em você e disse para mim mesma que deveria enviar-lhe uma mensagem para saber como tinha sido sua viagem. Sua postagem me precedeu. O Musel del Prado é excelente, estive por lá há alguns anos. Já decidimos aqui em casa que na primavera o destino será a Espanha. Ah, esse ano também viajei pela primeira vez sozinha, deixando "os meninos" em casa. Sobrevivi rsrs beijos

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