Hoje, dia 30 de setembro, comemoramos o Dia Internacional da
Tradução, celebração promovida pela FIT (Federação Internacional de Tradutores)
num esforço para promover a profissão e a união da comunidade mundial de
tradutores. A data é uma homenagem a São Jerônimo - padroeiro dos tradutores,
bibliotecários e secretárias - que teria falecido nesse dia.
Aproveitemos a ocasião para conhecer alguns dados curiosos e
relevantes a respeito de nossa profissão:
Jerônimo de Estridão
Nosso padroeiro, São Jerônimo, cujo nome significa "que
tem um nome sagrado" nasceu no ano de 342 em Estridão na divisa entre a
Panomia e a Dalmácia (Iugoslávia). Filho de família rica e cristã foi batizado
apenas aos 18 anos, segundo o costume da época e teve uma educação cristã desde
criança. Consagrou toda sua vida ao estudo e tradução das Sagradas Escrituras.
Os atributos com que se costuma representar esse santo são:
chapéu, roupa de cardeal, um leão e, em menor medida, uma cruz, uma caveira,
livros e materiais para escrever. O motivo pelo qual é representado com um leão
é porque, segundo a lenda, um dia em que São Jerônimo encontrava-se meditando
às margens do rio Jordão, avistou um leão que se arrastava para ele com uma das
patas atravessada por um enorme espinho. São Jerônimo socorreu a fera e
curou-lhe a pata. O animal, agradecido, passou a acompanhar seu benfeitor.
Quando São Jerônimo morreu, o leão deitou-se sobre seu túmulo e deixou-se
morrer de fome.
A Torre de Babel
O mito da Torre de Babel tem sua origem na bíblia, no livro
de Gênesis do Antigo Testamento. Segundo ele, os descendentes de Noé decidiram
erguer uma torre entre os rios Tigre e Eufrates, na região da Mesopotâmia, para
alcançarem o céu e, assim, tornarem-se célebres. Isso ocorreu em uma época em
que todos falavam uma única língua. A vaidade dos homens teria provocado a ira
de Deus, que para castigá-los e impossibilitar a empreitada, espalhou as
pessoas sobre a terra com idiomas diferentes, provocando o desentendimento
entre elas.
Hoje, o mito da Torre de Babel, que em hebraico significa
“porta de Deus” é visto como uma tentativa dos antepassados de explicar a
origem das diversas línguas no mundo.
História da Tradução
O primeiro tradutor do Ocidente cujo nome se registra foi
Lívio Andrônico, que por volta de 240 a.C. traduziu a Odisséia em versos
latinos. Névio, Ênio, e, sobretudo, Cícero e Catulo foram também tradutores
freqüentes de textos gregos ao latim. De Cícero vem a primeira formulação do
preceito de não traduzir verbum pro verbo, palavra por palavra,
estabelecida em seu Libellus De Optimo Genere Oratorum, que Horácio
incluiria em sua Ars Poetica. Mas
foi com a Bíblia e suas traduções que a discussão sobre as bases da atividade
tradutória ganhou relevância.
Lutero
Lutero, o monge reformador alemão, revolucionou seu tempo e
mudou a história ao desafiar a Igreja Católica Romana publicando suas 95 teses
na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, contra a venda de indulgências e
contra o abuso de poder da igreja.
As teses de Lutero foram logo traduzidas para o alemão e
amplamente copiadas e impressas. Ao cabo de duas semanas, haviam se espalhado
por toda a Alemanha e, em dois meses, por toda a Europa. Este foi o primeiro
episódio da História em que a imprensa teve papel fundamental, pois facilitou a
distribuição simples e ampla do documento que deu início à reforma da igreja.
Posteriormente, com ajuda de amigos, Lutero começou a
traduzir o Novo Testamento para o alemão a partir da segunda edição de Erasmo
de Roterdão do Novo Testamento grego. Lutero andava pelas ruas e mercados para
ouvir as pessoas falarem porque ele desejava que sua tradução fosse acessível
ao povo, o mais próxima possível da linguagem contemporânea. A Bíblia de Lutero
foi publicada em setembro de 1522 e é considerada como sendo, em grande parte,
responsável pela evolução da moderna língua alemã.
Pedra de Roseta
A Pedra de Roseta é um bloco de granito negro. Ela foi
descoberta em 1799, numa expedição militar do então general Napoleão e mais
tarde foi capturada pelos ingleses.
Sua inscrição registra um decreto promulgado em 196 a.C, na
cidade de Mênfis, em nome do rei Ptolomeu V, registrado em três parágrafos com
o mesmo texto: o superior está na forma hieroglífica do egípcio antigo, o
trecho do meio em demótico, variante escrita do egípcio tardio, e o inferior em
grego antigo. O estudo do decreto já estava bem avançado quando a primeira
tradução completa do texto grego surgiu, em 1803. Somente 20 anos depois, no
entanto, foi feito o anúncio da decifração dos textos egípcios por
Jean-François Champollion, em 1822, que desta forma iniciou a ciência de estudo
de assuntos referentes ao Egito, a Egiptologia.
A tradução da Pedra de Roseta ainda causa conflitos entre
nações e, até os dias de hoje, estudiosos debatem sobre quem deveria levar
crédito por decifrar o código dos hieróglifos. Até mesmo a atual localização da
pedra é assunto para debate. O objeto sempre foi considerado de grande
importância histórica e política.
Escola de Tradutores de
Toledo
Após a reconquista da cidade de Toledo (Espanha), e fruto da
confluência das três religiões, a cidade adquiriu o apelativo de Cidade das
Três Culturas. As comunidades cristã, judaica e muçulmana enriqueceram a cidade
com seu conhecimento e tradições. A Escola de Tradutores de Toledo,
impulsionada pelo rei Alfonso X, o Sábio, no século XIII, tornou disponíveis
grandes trabalhos acadêmicos e filosóficos originalmente produzidos em árabe e
hebraico ao traduzi-los para o latim, disponibilizando pela primeira vez uma
grande quantidade de conhecimentos para a Europa.
Três séculos depois, Toledo na Espanha se tornara uma notável
confluência de sábios arábicos, hebreus e cristãos e havia tomado o lugar de
Bagdá como centro de traduções do mundo árabe e, por sua posição geográfica
ocidental, um foco de influência sobre os europeus. Os estudiosos ali reunidos,
além de continuarem a tarefa de tradução das obras relevantes do grego ao árabe
começada em Bagdá, também se ocupavam em traduzir do árabe ao latim. Essas
versões permitiram aos europeus uma retomada de contato com a Antiguidade
clássica.
Portanto quando na Idade Média europeia um sábio europeu
mencionasse um texto de Aristóteles provavelmente estaria citando uma versão
latina de uma versão árabe de uma versão síria do texto grego.
As belas infiéis
Na França, d'Ablancourt (1606-1664) e seus seguidores
consideravam que a função da tradução era promover o belo e que este consistia
em razão e clareza. Criaram assim o conceito de bela infiéis. Em O poder da tradução, o professor John
Milton esclarece:
"O conceito de equivalência entre os tradutores
franceses dos séculos XVII e XVIII era muito diferente da nossa interpretação
contemporânea do termo. A tradução tinha de proporcionar ao leitor a impressão
semelhante à que o original teria suscitado, e a pior maneira de fazê-lo seria
através de tradução literal, o que pareceria dissonante e obscuro. Seria melhor
fazer mudanças a fim de que a tradução não ferisse os ouvidos e que tudo pudesse
ser entendido claramente. Somente fazendo essas mudanças, o tradutor poderia
criar essa "impressão" semelhante.”.
Os livros mais traduzidos da história
A Bíblia é o livro mais traduzido no
mundo, a cerca de 440 idiomas.
Nada menos que seis livros
religiosos figuram entre as dez primeiras posições da classificação, isso se
explica devido ao fato de que a maioria das religiões pratica o proselitismo,
ou seja, que quanto maior o número de traduções, maior será o número de
potenciais seguidores.
O Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha é o único livro em
espanhol presente na lista dos 20 livros mais traduzidos de todos os tempos. As
aventuras do imortal cavaleiro foram traduzidas a 48 idiomas.
Na lista figuram ainda: Pinóquio
(260 idiomas), O Pequeno Príncipe (180 idiomas), As aventuras de Tintín (95
idiomas); Pipi Meialonga (64 idiomas), O Diário de Anna Frank (60 idiomas), Harry
Potter e a pedra filosofal (57 idiomas), Heidi (48 idiomas). Faz parte da lista
o brasileiro Paulo Coelho, com O Alquimista (67 idiomas).