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quinta-feira, 17 de julho de 2014

A "castelhanização" de palavras estrangeiras




O homem sempre teve medo do desconhecido e das coisas que são alheias a seu entendimento, entre elas, o estrangeiro. Tendemos a acolher aquilo que nos é familiar e a rejeitar o que nos é estranho. Como a língua é a expressão do nosso pensamento, ela funciona como um instrumento de identificação e unidade. Identificamo-nos facilmente com os povos que falam nossa língua e sentimo-nos inseguros diante de línguas distantes.

A história nos ensina que uma das principais formas de dominação de um povo sobre o outro se dá através da imposição da língua, isso porque é o modo mais eficiente de impor toda uma cultura e seus valores. O português é uma língua romance, herança de um dos mais poderosos impérios da antiguidade, o Império Romano.

Antes do domínio romano, os gregos já haviam criado o termo “barbaroi” para designar todos os povos cuja língua nada tinha de semelhante com a deles. A origem desse termo se deve ao fato de eles só conseguirem distinguir sílabas como “bar-bar-bar-bar”.

Com o apogeu cultural dos gregos eles representariam uma civilização cujo idioma seria o mais culto e avançado da Europa até a consolidação do latim, que por sua vez herdaria uma multidão de grecismos.

O termo “barbaroi” ganhou um tom pejorativo e além de designar “pessoas que falam de forma estranha” ou “não-gregos”, passou a significar “pessoas incivilizadas, incultas, ignorantes e toscas”.

Os romanos chamaram de bárbaros todos os povos que faziam limite com suas fronteiras, em especial, as tribos germânicas, que finalmente foram responsáveis pela queda do Império Romano de Ocidente com a tomada de Constantinopla em 476. Do mesmo modo, os romanos batizaram os povos do norte da África de “bereberes”, que é uma transliteração da palavra “barbaroi”.

Atualmente, com o advento da globalização, ocorre um fenômeno semelhante com a imposição do inglês como língua dominante. Se por um lado o contato com o estrangeiro contribui para a ampliação do nosso léxico através da apropriação ou adaptação de novos vocábulos, também é verdade que representa um risco para o nosso patrimônio linguístico quando esses termos são incorporados de forma indiscriminada sem o menor critério. 



Nesse ponto, os espanhóis são mais cuidadosos e esmeram-se mais em conservar sua língua. Na maioria das vezes, eles evitam a simples apropriação e preferem a “castelhanização”, que consiste no processo de naturalizar o léxico e a fraseologia de origem estrangeira, uma vez que, com o passar do tempo, a palavra tenha se tornado familiar. Isso ocorreu com muitas palavras de origem árabe, já que a Espanha foi dominada pelos árabes por mais de 700 anos. São exemplos de “castelhanização” a palavra “alcalde”, que provém do árabe “alqádi” egallardo”, que deriva do francês «gaillard».

O DPD (Diccionario Panhispánico de Dudas) adota alguns critérios gerais quanto ao uso de estrangeirismos na língua espanhola:

1. Devem-se censurar os estrangeirismos desnecessários que possuam equivalentes na língua espanhola. Exemplos: abstract (em espanhol, resumen, extracto), back-up (em espanhol, copia de seguridad), consulting (em espanhol, consultora o consultoría).

2. Estrangeirismos necessários ou muito estendidos serão empregados com a aplicação de dois critérios, segundo os casos:

2.1. Mantendo a grafia e a pronúncia originais se se tratar de estrangeirismos estabelecidos no uso internacional em sua forma original, como ballet, blues, jazz ou software. Neste caso, são considerados estrangeirismos crus e é obrigatório escrevê-los com destaque tipográfico (itálico ou aspas) para apontar seu caráter alheio à ortografia do espanhol e justificar sua pronúncia diferente da escrita.

2.2. Adaptação da pronúncia ou da grafia originais. Na maioria das vezes são propostas adaptações cujo principal objetivo é preservar o alto grau de coesão entre a forma gráfica e a pronúncia característico da língua espanhola. Essa adaptação faz-se de duas formas:

a) Mantendo a grafia original, mas com pronúncia espanhola e acentuação gráfica segundo as regras do espanhol. Exemplos: para o galicismo quiche (pronunciado em francês [kísh]), propõe-se o uso da mesma grafia, mas com a pronúncia [kíche]; para o anglicismo airbag (pronunciado em inglês [érbag]), propõe-se a pronúncia [airbág]; ou para master, a grafia com acento agudo máster. Estas formas são consideradas incorporadas ao léxico da língua espanhola e, por tanto, sua entrada aparece no dicionário em letra normal, e não em itálico, como ocorre com os estrangeirismos crus. Esta razão explica que palavras de origem estrangeira como “set” ou “box”, que não apresentam problemas de adequação ao espanhol, sejam registradas no dicionário com letra normal.

b) Mantendo da pronúncia, mas adaptando a forma estrangeira ao sistema gráfico do espanhol. Exemplos: para o anglicismo paddle, a adaptação pádel e, para o galicismo choucroute, a grafia adaptada chucrut.

Alguns exemplos de “castelhanização” encontrados no dicionário da RAE:
Aerobics = Aeróbic o aerobic
Air bag = airbag (pronuncia-se como se escreve)
Antidóping = Antidopaje
Auto-stop = Autoestop
Apart hotel = Apartotel
Bacon = beicon
Baffle = bafle
Baseball = béisbol
Beige = Beis
Bidet = Bidé
Block = Bloc
Blue jeans = Bluyín
Body = Bodi
Boulevard = Bulevar
Boom = Bum
Boomerang = Bumerán
Bouquet = Buqué
By-pass = Baipás
Camping = campin
Capot = Capó
Chalet = Chalé
Champagne = Champán
Carnet = Carné
Chantilly = Chantillí
Cognac = Coñac
Currículum = Currículo
Diskette = Disquete
Folklore = Folclore
Football = fútbol (apesar de existir o termo “balompié”, prevalece a forma mais próxima à original)
Gangster = Gánster
Geyser = Géiser
Glamour = Glamur
Graffito = Grafito
Gas oil = Gasoil
Home run = Jonrón
Hyperlink = Hipervínculo
Jersey = Jersey
Jockey = Yóquey, yoqui
Kippah = Kipá
Knock-out = Nocaut
Limousine = Limusina
Lycra = Licra
Marketing = Mercadotecnía
Manager = Mánager
Master = Máster
Modem = Módem
Nylon = Nailon
Parquet = Parqué
Parking = Parquin
Pay per view = Pago por visión
Penalty = Penalti
Rimmel = Rímel
Sandwich = Sándwich
Sexy = Sexi
Self-service = Autoservicio
Spaghetti = Espagueti
Souvenir = Suvenir
Ski = Esquí
Stadium = estádio
Status = Estatus
Stand = Estand
Standard = Estándar
Stress = Estrés
Tourné = Gira
Whisky = Güisqui
Yoghurt = Yogur
Zapping = Zapeo
Zoom = Zum

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