O homem sempre teve medo do
desconhecido e das coisas que são alheias a seu entendimento, entre elas, o estrangeiro.
Tendemos a acolher aquilo que nos é familiar e a rejeitar o que nos é estranho.
Como a língua é a expressão do nosso pensamento, ela funciona como um
instrumento de identificação e unidade. Identificamo-nos facilmente com os
povos que falam nossa língua e sentimo-nos inseguros diante de línguas
distantes.
A história nos ensina que uma das
principais formas de dominação de um povo sobre o outro se dá através da
imposição da língua, isso porque é o modo mais eficiente de impor toda uma
cultura e seus valores. O português é uma língua romance, herança de um dos
mais poderosos impérios da antiguidade, o Império Romano.
Antes do domínio romano, os gregos já
haviam criado o termo “barbaroi” para designar todos os povos cuja língua nada
tinha de semelhante com a deles. A origem desse termo se deve ao fato de eles
só conseguirem distinguir sílabas como “bar-bar-bar-bar”.
Com o apogeu cultural dos gregos
eles representariam uma civilização cujo idioma seria o mais culto e avançado
da Europa até a consolidação do latim, que por sua vez herdaria uma multidão de
grecismos.
O termo “barbaroi” ganhou um tom
pejorativo e além de designar “pessoas que falam de forma estranha” ou “não-gregos”,
passou a significar “pessoas incivilizadas, incultas, ignorantes e toscas”.
Os romanos chamaram de bárbaros todos
os povos que faziam limite com suas fronteiras, em especial, as tribos germânicas,
que finalmente foram responsáveis pela queda do Império Romano de Ocidente com
a tomada de Constantinopla em 476. Do mesmo modo, os romanos batizaram os povos
do norte da África de “bereberes”, que é uma transliteração da palavra “barbaroi”.
Atualmente, com o advento da
globalização, ocorre um fenômeno semelhante com a imposição do inglês como
língua dominante. Se por um lado o contato com o estrangeiro contribui para a
ampliação do nosso léxico através da apropriação ou adaptação de novos
vocábulos, também é verdade que representa um risco para o nosso patrimônio
linguístico quando esses termos são incorporados de forma indiscriminada sem o
menor critério.
Nesse ponto, os espanhóis são mais
cuidadosos e esmeram-se mais em conservar sua língua. Na maioria das vezes,
eles evitam a simples apropriação e preferem a “castelhanização”, que consiste
no processo de naturalizar o léxico e a fraseologia de origem estrangeira, uma
vez que, com o passar do tempo, a palavra tenha se tornado familiar. Isso
ocorreu com muitas palavras de origem árabe, já que a Espanha foi dominada pelos
árabes por mais de 700 anos. São exemplos de “castelhanização” a palavra “alcalde”,
que provém do árabe “alqádi” e “gallardo”,
que deriva do francês «gaillard».
O DPD (Diccionario Panhispánico de
Dudas) adota alguns critérios gerais quanto ao uso de estrangeirismos na língua
espanhola:
1.
Devem-se censurar os estrangeirismos desnecessários que possuam equivalentes na
língua espanhola. Exemplos: abstract
(em espanhol, resumen, extracto), back-up (em espanhol, copia
de seguridad), consulting (em
espanhol, consultora o consultoría).
2.
Estrangeirismos necessários ou muito estendidos serão empregados com a
aplicação de dois critérios, segundo os casos:
2.1.
Mantendo a grafia e a pronúncia originais se se tratar de estrangeirismos estabelecidos
no uso internacional em sua forma original, como ballet, blues, jazz ou software. Neste caso, são considerados estrangeirismos crus e é
obrigatório escrevê-los com destaque tipográfico (itálico ou aspas) para apontar
seu caráter alheio à ortografia do espanhol e justificar sua pronúncia
diferente da escrita.
2.2.
Adaptação da pronúncia ou da grafia
originais. Na maioria das vezes são propostas adaptações cujo principal
objetivo é preservar o alto grau de coesão entre a forma gráfica e a pronúncia
característico da língua espanhola. Essa adaptação faz-se de duas formas:
a)
Mantendo a grafia original, mas com pronúncia
espanhola e acentuação gráfica segundo as regras do espanhol. Exemplos: para
o galicismo quiche (pronunciado em
francês [kísh]), propõe-se o uso da mesma grafia, mas com a pronúncia [kíche];
para o anglicismo airbag (pronunciado
em inglês [érbag]), propõe-se a pronúncia [airbág]; ou para master, a grafia com acento agudo máster. Estas formas são consideradas
incorporadas ao léxico da língua espanhola e, por tanto, sua entrada aparece no
dicionário em letra normal, e não em itálico, como ocorre com os
estrangeirismos crus. Esta razão explica que palavras de origem estrangeira
como “set” ou “box”, que não apresentam problemas de adequação ao espanhol, sejam
registradas no dicionário com letra normal.
b)
Mantendo da pronúncia, mas adaptando a forma estrangeira ao sistema gráfico do
espanhol. Exemplos: para o anglicismo paddle,
a adaptação pádel e, para o galicismo
choucroute, a grafia adaptada chucrut.
Alguns exemplos de “castelhanização”
encontrados no dicionário da RAE:
Aerobics
= Aeróbic o aerobic
Air
bag = airbag (pronuncia-se como se escreve)
Antidóping
= Antidopaje
Auto-stop
= Autoestop
Apart
hotel = Apartotel
Bacon
= beicon
Baffle
= bafle
Baseball
= béisbol
Beige
= Beis
Bidet
= Bidé
Block
= Bloc
Blue
jeans = Bluyín
Body
= Bodi
Boulevard = Bulevar
Boom
= Bum
Boomerang
= Bumerán
Bouquet
= Buqué
By-pass
= Baipás
Camping
= campin
Capot
= Capó
Chalet
= Chalé
Champagne
= Champán
Carnet
= Carné
Chantilly
= Chantillí
Cognac
= Coñac
Currículum
= Currículo
Diskette
= Disquete
Folklore
= Folclore
Football
= fútbol (apesar de existir o termo “balompié”, prevalece a forma mais próxima à original)
Gangster
= Gánster
Geyser
= Géiser
Glamour
= Glamur
Graffito
= Grafito
Gas
oil = Gasoil
Home
run = Jonrón
Hyperlink
= Hipervínculo
Jersey
= Jersey
Jockey
= Yóquey, yoqui
Kippah
= Kipá
Knock-out
= Nocaut
Limousine
= Limusina
Lycra
= Licra
Marketing
= Mercadotecnía
Manager
= Mánager
Master
= Máster
Modem
= Módem
Nylon
= Nailon
Parquet
= Parqué
Parking = Parquin
Pay per view = Pago por visión
Penalty
= Penalti
Rimmel = Rímel
Sandwich = Sándwich
Sexy = Sexi
Self-service = Autoservicio
Spaghetti = Espagueti
Souvenir = Suvenir
Ski = Esquí
Stadium
= estádio
Status = Estatus
Stand
= Estand
Standard
= Estándar
Stress = Estrés
Tourné = Gira
Whisky = Güisqui
Yoghurt = Yogur
Zapping = Zapeo
Zoom = Zum
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