Sheila Gomes é tradutora de inglês e português com 19 anos de
experiência. Também foi professora de
EFL por 23 anos. Atualmente trabalha com localização de software, sites e
jogos, e é administradora do Multitude, um site de webinars e consultoria para tradutores e intérpretes. É bacharel em
Turismo com ênfase em Meio Ambiente, pós-graduada em Tradução de inglês para
português e graduanda em Informática Biomédica na UFPR. Usuária e divulgadora
do programa gratuito de tradução assistida OmegaT. Membro da ABRATES, ATA e
IAPTI e representante regional da ABRATES no sul do Brasil.
Diana - Quais são as línguas que você traduz e há quanto
tempo é tradutora?
Sheila – Sou tradutora de inglês e português há 19 anos.
Diana - Como surgiu a oportunidade de trabalhar numa empresa
de TI e de que forma isso contribui em sua formação profissional?
Sheila – Eu ensinava inglês e uma amiga avisou sobre a
abertura da vaga na empresa. Embora eu estivesse com uma carga de aulas muito
pesada, pensei que trabalhar em outra atividade que complementasse a renda
seria interessante e recompensador em termos de desenvolvimento profissional. E
realmente foi uma oportunidade de grande aprendizado. Mesmo não compensando
financeiramente na época, valeu pelos contatos e acabou sendo o pontapé inicial
para buscar minha independência como tradutora profissional. Além de ter sido o
lugar onde aprendi a usar a primeira CAT tool que conheci: o OmegaT, do qual
ainda hoje sou usuária e divulgadora.
Diana - Quais são os conhecimentos e as qualidades que a
tradução técnica requer?
Sheila – É preciso ter uma mente aberta a várias
interpretações, pois o pensamento técnico segue uma lógica própria e quem
produz conteúdo nesta área nem sempre tem um domínio de escrita no próprio idioma.
Diana – Quais são as principais dificuldades que você enfrentou
para estabelecer seu próprio negócio?
Sheila – Com certeza foi tomar decisões sobre as melhores
opções devido à imensa quantidade de informações disponíveis na Internet. Li
vários livros, pesquisei sites de todos os tipos, buscando opções de design que
oferecessem o máximo de informações aos visitantes, pois creio que os pontos
primordiais em qualquer oferta de serviços são a clareza e disponibilidade de
informações, além de atendimento rápido e disponível, dentro das possibilidades
de uma empresa de uma pessoa só.
Diana – E que vantagens isso lhe trouxe?
Sheila – O contato com grandes profissionais, a organização e
acompanhamento das apresentações, além de serem grandes fontes de conhecimento,
acabaram gerando uma série de novas ideias e projetos profissionais, dentro e
fora do site. É uma experiência incomparável e extremamente recompensadora,
mesmo com as exigências de tempo e dedicação à manutenção do empreendimento.
Diana – Em que consiste a localização e em que se distingue
da tradução propriamente dita?
Sheila – A localização difere da tradução principalmente em
termos de: (1) elementos que a integram, pois não consiste apenas de palavras,
mas muitas vezes de códigos de programação, variáveis e referências para
adaptação do texto para a realidade do público leitor; (2) a conversão de
unidades (métricas, monetárias, etc.), referências culturais, populares e
factuais para a região (conhecida no meio como “locale”) e (3) restrições como
limitação de caracteres devido às características próprias das plataformas de
apresentação (computadores e outros dispositivos) ou de clientes específicos.
Diana – Como é o processo de localização de um jogo?
Sheila – Não há um processo único, mas de modo geral, o
processo deveria iniciar já na programação do jogo, para que esta já seja
executada levando em conta a internacionalização, tornando o software
compatível com os diferentes formatos linguísticos dos idiomas para os quais o
jogo será traduzido (uso de caracteres especiais, formatos numéricos). A
localização em si pode ser feita no próprio estúdio que desenvolve o jogo.
Porém muitas vezes fica a cargo de uma agência especializada. Essa agência, por
sua vez, pode usar um quadro de tradutores internos ou contratar profissionais
independentes. Além do tradutor, normalmente há pelo menos um gerente de
projetos (PM), um revisor e um tester, e o trabalho pode ir e voltar
entre eles, dependendo do processo adotado pela empresa responsável pelo
projeto.
Diana – Na tradução técnica, o que pesa mais: o conhecimento
especializado ou o conhecimento linguístico?
Sheila – Há que se ter um equilíbrio entre os dois tipos de
conhecimento e, mais que confiança no conhecimento acumulado por estudo e
experiência, uma boa dose de desconfiança em relação aos textos e como
interpretá-los, pois muitas vezes o conhecimento linguístico de quem os
produziu sofre interferências de jargão e a escrita pode ser considerada
estruturalmente correta no meio em que circulam, mas não necessariamente
expressar ideias com clareza. Outro fator que interfere são as traduções de
traduções, não é raro recebermos textos que já foram traduzidos de outro
idioma, e cada etapa e pessoas envolvidas a mais pode adicionar dificuldades
extras.
Diana – Como surgiu a ideia de criar o grupo TIME (Tradutores
e Intérpretes Multiplicando Experiências) e o Multitude (blog que oferece
webinars e consultoria para tradutores e intérpretes)?
Sheila – O TIME surgiu a partir da conjunção de alguns
fatores: o primeiro, a minha participação no grupo Tradutores / Intérpretes do
Facebook. Como sou uma das moderadoras, acompanho diariamente as atividades do
grupo e percebi que havia discussões recorrentes sobre temas comuns a todo e
qualquer profissional iniciante e mesmo a vários veteranos que reavaliavam sua
trajetória profissional. O segundo fator é que sou geek assumida e muito curiosa a respeito de novas tecnologias de
comunicação on-line, estou sempre
buscando novidades. O terceiro foi perceber que havia vários colegas que
respondiam generosamente às perguntas repetidas, quantas vezes viessem. Então
pensei em unir esses fatores e criar algo que ajudasse a responder às dúvidas
dos membros do grupo e ao mesmo tempo propiciasse o encontro de iniciantes e
veteranos, e assim nasceu o TIME e depois veio também o TIMEcast, o podcast do grupo. Sou formada em Turismo
e além de estar acostumada a organizar atividades e encontros, é um grande
prazer acompanhar as atividades, aprendi e aprendo muito com os envolvidos,
tanto com os palestrantes quanto com os participantes e suas perguntas que nos
ajudam a ver as mesmas questões sob perspectivas diferentes.
Foi isso também que gerou a ideia do Multitude: oferecer webinars e consultoria a tradutores e intérpretes de modo mais abrangente, pois o TIME, além de ser restrito aos membros do grupo do FB, aborda temas mais gerais. O Multitude vai além e oferece temas voltados à especialização e profissionalização dos tradutores e intérpretes, com a oferta extra de ter os webinars gravados e acessíveis logo após cada apresentação, então os participantes podem rever os pontos que mais lhe chamem a atenção e quem não puder participar no horário e data marcados, pode comprar a gravação e assisti-la conforme sua conveniência. Além disso, acabo de fazer uma parceria com a Associação Brasileira de Tradutores (ABRATES) para oferecer ainda mais webinars e cursos com valores diferenciados para os membros e disponibilizados no mesmo molde: gravados e disponíveis logo após a apresentação. Outra iniciativa nascida no Multitude foi um blog com histórias de tradutores de todas as origens, idades e jornadas, com a intenção de ilustrar como é a grande a diversidade de caminhos nesse meio e inspirar e motivar iniciantes e veteranos que estejam (re)traçando sua carreira.
Diana – Como faz para conciliar tantas atividades?
Sheila – O meu lado geek
ajuda bastante, pois uso vários recursos de software
a hardware para me organizar, e tento
estar on-line o máximo possível, algo
que faço naturalmente, pois tenho uma curiosidade compulsiva por informação. E
tenho as minhas prioridades bem claras: crescer sim, mas sempre junto com os
meus pares, pois o que afeta a um, afeta a todos e cada posicionamento
individual colabora para a manutenção e/ou elevação do nível da classe em
geral, seja em termos de estabelecimento de padrões de mercado ou do status
profissional perante a sociedade. O fato de trabalhar em casa e de ter o apoio
da família também ajuda, e faço um esforço consciente de manter uma vida
pessoal saudável, pois este é um fator
importante para manter o ritmo de trabalho e de vida.
Diana – Que conselho daria para alguém que pretende trabalhar
como autônomo na área da tradução?
Sheila – Não há apenas um meio de construir uma carreira como
tradutor autônomo, mas o fio comum que vejo na minha jornada e na de vários
colegas é a busca de informações: ler blogs e livros de tradutores experientes,
participar de grupos e fóruns on-line,
participar dos encontros virtuais e presenciais, tudo isso ajuda o profissional
a perceber a realidade do mercado de modo claro e quais são as melhores opções
dentro do posicionamento que procura. Eu passei cerca de um ano apenas lendo e
absorvendo informações de fontes variadas até decidir tornar-me tradutora em
tempo integral e não me arrependo um segundo. Mesmo os percalços que
invariavelmente acabamos encontrando têm um impacto menor quando estamos bem
informados e os relacionamentos travados também nos ajudam tanto na vida
profissional como pessoal.
Multitude: www.multitude.trd.br
Grupo de tradutores e intérpretes no Facebook:
https://www.facebook.com/groups/tradutoreseinterpretes/
Podcast do TIME: https://soundcloud.com/timecast/
Blog do Multitude:
http://www.multitude.trd.br/#!blog/c1brd
Página sobre o OmegaT:
https://www.facebook.com/OmegaTBrasil
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