O bom texto deve ser inteligível, isto
é, claro e de fácil compreensão, não deve dar margem à duplicidade de sentido. O
objetivo de toda comunicação é fazer com que a mensagem chegue ao locutor de
forma clara e precisa, sem ruídos.
A má interpretação da mensagem é
sinal de que o texto não foi bem elaborado. Uma das causas das falhas de
comunicação é a ambiguidade ou anfibologia, que consiste na
propriedade da mensagem ter mais de uma interpretação.
Vejamos aqui as principais causas da
ambiguidade num texto:
Má colocação do Adjunto Adverbial
1) Pessoas que praticam exercício frequentemente são mais saudáveis.
A posição do adjunto adverbial “frequentemente” não permite saber, com certeza, se as pessoas (a)“praticam exercícios frequentemente” ou se (b)“frequentemente são mais saudáveis”.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção.
Se
a opção escolhida for (a), a frase poderá ter a seguinte estrutura:
Pessoas que praticam frequentemente exercício
são mais saudáveis.
Pessoas que frequentemente praticam
exercício são mais saudáveis.
Se
a opção escolhida for (b), deverá ter a seguinte estrutura:
Pessoas que praticam exercícios são
frequentemente mais saudáveis.
2)
Pessoas que consomem drogas casualmente arriscam a vida.
A posição em que se encontra o
adjunto adverbial “casualmente” não permite saber, com precisão, se as pessoas (a)“consomem
droga casualmente” ou se (b)“casualmente arriscam a vida”.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção.
Se
a opção escolhida for (a), a frase poderá ter a seguinte estrutura:
Pessoas que casualmente consomem
drogas arriscam a vida.
Pessoas que consomem casualmente drogas
arriscam a vida.
Se
a opção escolhida for (b), deverá ter a seguinte estrutura:
Pessoas que consomem drogas arriscam
casualmente a vida.
3)
O professor falou com o aluno parado na sala.
A posição em que se encontra o
adjunto adverbial “parado na sala” não permite saber, com precisão, a quem se
refere, se (a) ao professor, ou (b) ao
aluno.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção.
Se
a opção escolhida for (a), a frase poderá ter a seguinte estrutura:
Parado na sala, o professor falou
com o aluno.
O professor, parado na sala, falou
com o aluno.
Se
a opção escolhida for (b), deverá ter a seguinte estrutura:
O professor falou com o aluno, que
estava parado na sala.
4)
Encontrei o dono do restaurante na avenida Brasil.
A posição em que se encontra o
adjunto adverbial “na Avenida Brasil” não permite saber, com certeza, se (a) o
restaurante fica na Avenida Brasil, ou (b)
se encontrei o dono do restaurante nessa rua.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção.
Se
a opção escolhida for (a), a frase deverá ter a seguinte estrutura:
Encontrei o dono do restaurante que
fica na avenida Brasil.
Se
a opção escolhida for (b), deverá ter a seguinte estrutura:
Na Avenida Brasil, encontrei o dono do
restaurante.
Uso Incorreto do Pronome Relativo
1)
Estou lendo um conto de Clarice Lispector, de que gosto muito.
O pronome relativo “que” não permite saber, com certeza, se gosto muito (a) do conto, ou (b) de Clarice Lispector.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção.
Se
a opção escolhida for (a):
Estou lendo um conto de que gosto
muito, da escritora Clarice Lispector.
Se
a opção escolhida for (b):
Estou lendo um conto de Clarice
Lispector, de quem gosto muito.
2) Pai de namorado de Diana, que também morreu no acidente em Paris, em
1997, rejeita o relatório.
Apesar da grande repercussão a morte
da princesa teve na época, não podemos esperar que o contexto esclareça a notícia.
Neste caso, o pronome relativo “que” não permite saber, com certeza, a quem se
refere.
Para resolver a ambiguidade o melhor é reescrever a
frase, dividindo-a em duas orações, mesmo que para isso seja necessário repetir
palavras. Uma possibilidade seria:
Pai do namorado de Diana rejeita o relatório que investiga a morte da princesa em Paris, em 1997. No acidente, morreram ela e o namorado.
Pai do namorado de Diana rejeita o relatório que investiga a morte da princesa em Paris, em 1997. No acidente, morreram ela e o namorado.
3) O turista disse ao guia que
era pernambucano.
A colocação do pronome relativo “que” não permite
saber quem era pernambucano: o guia ou o turista?
Para retificar a frase, devemos dizer:
O turista disse que era pernambucano
ao guia.
Uso
indevido de formas nominais
1)
A mãe encontrou o filho chorando.
Nesse caso, o gerúndio não permite
saber quem estava chorando: (a) a mãe ou (b) o filho.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção.
Se
for a opção (a):
A mãe que estava chorando encontrou
o filho.
Se
for a opção (b):
A mãe encontrou o filho que estava
chorando.
2)
Ônibus atropela criança subindo a calçada.
Quem subiu calçada? (a) a criança ou
(b) o ônibus?
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção.
Se
for a opção (a):
O ônibus que subiu a calçada
atropelou uma criança.
Se
for a opção (b):
O ônibus atropelou uma criança que
subia na calçada.
Uso
indevido de pronome possessivo
1)
O gerente disse à secretária que seu dia seria muito atarefado.
O pronome possessivo não permite
saber, com certeza, se se refere ao dia (a) do gerente ou (b) da secretária.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção.
Se
for a opção (a):
O gerente disse que teria um dia
atarefado à secretária.
Se
for a opção (b):
O gerente disse à secretária que o
dia dela seria atarefado.
2)
Pedro foi com o amigo à casa de seu professor.
O pronome possessivo não permite
saber, com certeza, se se refere ao professor de (a) Pedro ou (b) do amigo de Pedro.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção.
Se
for a opção (a):
Pedro foi à casa de seu professor com
o amigo.
Se
for a opção (b):
Pedro foi, com o amigo, à casa do professor
deste.
Uso
incorreto do pronome oblíquo
1)
O rapaz disse à mãe de sua namorada que a amava muito.
O pronome possessivo não permite
saber, com certeza, se o rapaz disse que a amava (a) à mãe da namorada ou (b) à
namorada.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção e reestruturar as frases.
Se
for a opção (a):
O rapaz disse que amava sua namorada
à mãe dela.
Se
for a opção (b):
O rapaz disse a sua futura sogra que
a amava.
Colocação
inadequada do adjetivo
1) O vizinho mal-humorado saiu
batendo a porta.
Tal colocação não permite saber se o
mau humor é uma característica própria do vizinho, ou se o mau humor foi algo
passageiro que ocorreu num dado momento.
Se o mau humor é uma condição
passageira, deveremos reescrever a frase da seguinte forma:
O vizinho, mal-humorado, saiu batendo a porta.
2) A cantora deixou a plateia indignada.
Tal colocação não permite saber quem
ficou indignada: (a) a cantora ou (b) a plateia.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção e reestruturar as frases.
Se
for a opção (a):
Indignada, a cantora deixou a
plateia.
Se
for a opção (b):
A cantora deixou indignada a
plateia.
3)
A mulher chegou à rua malcheirosa.
Tal colocação não permite saber quem
está malcheirosa: (a) a mulher ou (b) a rua.
Para eliminar a ambiguidade, devemos
escolher uma opção e reestruturar as frases.
Se
for a opção (a):
Malcheirosa, a mulher chegou à rua.
Se
for a opção (b):
A mulher chegou à malcheirosa rua.
Uso de palavras polissêmicas
1) O rapaz pediu um prato ao garçom.
Nessa frase, a palavra prato pode significar: (a) recipiente ou (b) comida.
2) No meio do caminho havia uma pedra.
Nessa frase, a palavra pedra pode significar: (a) rocha ou (b) problema.
2) O burro do prefeito fugiu.
Nessa frase, a palavra burro pode significar: (a) animal ou (b) pessoa pouco inteligente.
Omissão da crase
Ele cheira a gasolina = significa que ele aspira o
combustível.
Ele cheira à gasolina = significa que ele tem cheiro de gasolina.
Ela pinta a mão = significa que ela passa tinta na mão.
Ela pinta à mão = significa que ela utiliza a mão para
pintar
Ambiguidade como recurso:
Nem sempre a ambiguidade é negativa, em textos humorísticos ou publicitários, por exemplo, ela pode ser desejável para conseguir um efeito humorístico e criativo, por outro lado, ela é indesejável em textos informativos, instrutivos ou científicos.
O slogan “Bom pra burro” do
conceituado dicionário Aurélio, tem duplo sentido para conseguir um efeito
engraçado. Em português, a expressão “pra burro” significa quantidade ou
intensidade, isto é, o dicionário é muito bom! O outro sentido é dado pela palavra “burro”
que serve para designar uma pessoa de inteligência limitada, além disso, o dicionário
é conhecido popularmente como “o pai dos burros”. O duplo sentido ou a ambiguidade,
neste caso é uma via de mão dupla, que pode ter repercussão tanto positiva como
negativa, já que algumas pessoas podem se sentir ofendidas.
Em 2003, a seguradora Sinaf, maior
empresa funerária do Rio de Janeiro, lançou uma campanha publicitária de
humor-negro com slogans de duplo sentido:
“Cremação:
uma novidade quentinha da Sinaf.”
“Nossos
clientes nunca voltaram para reclamar.”
“O
melhor plano é viver. Mas vai que dá errado.”
“Sinaf,
25 anos. Incrível chegar onde chegamos perdendo um cliente atrás do outro.”
Excelente!
ResponderExcluirExcelente material!! Muito obrigada
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