No Brasil, apesar de o governo
tentar encobrir a realidade com índices e discursos ufanistas do tipo: “nunca
antes na história deste país…”, a desigualdade social vem à tona e deixa suas
marcas em nossa linguagem, em neologismos como “arrastão”, “catracaço” e
“rolezinho”.
O que esses termos têm em comum?
Ambos estão relacionados à desigualdade social e à falta de investimento na educação
que assolam o país. Mas antes de discutir os problemas sociais, vamos “separar
o joio do trigo”, afinal de contas não é tudo “farinha do mesmo saco”. A
palavra “arrastão” já foi recolhida pelos dicionários, encontrei-a no Aulete e
no Houaiss, as outras palavras, não. Optei pelas definições encontradas na
Wikipédia por se tratar
de uma enciclopédia aberta e colaborativa.
Arrastão: é uma tática de roubo
coletivo urbano, presenciada primeiramente na década de 1980 na cidade do Rio
de Janeiro, mais especificamente na praia de Copacabana. O caso mais famoso de
arrastão aconteceu em 18 de outubro de 1992 na praia de Ipanema e teve
repercussão internacional. Consiste no roubo coletivo de dinheiro, anéis,
bolsas e às vezes até mesmo de roupas dos transeuntes por um grupo de pessoas.
Catracaço: Esta palavra não está
registrada na Wikipédia. Surgiu durante as manifestações contra os aumentos das
passagens de ônibus e consiste, basicamente, em pular a catraca do ônibus para
não pagar a passagem.
Rolezinho: diminutivo de rolé, em
linguagem informal brasileira, significa "fazer um pequeno passeio"
ou "dar uma volta", é um neologismo para definir um tipo de
coordenação de encontros simultâneos de centenas de pessoas em locais como
praças, parques públicos e shoppings. Os encontros são marcados pela Internet,
quase sempre por meio de redes sociais como o Facebook.
Não sou formada em sociologia,
psicologia ou economia, sou tradutora formada em Letras e minha modesta opinião
é a de uma cidadã brasileira.
A delinquência materializada nos
“arrastões” é fruto de uma política que não investe em educação, formação e não
oferece oportunidades aos jovens, que ficam à mercê do assédio do crime
organizado. É verdade que muitas vezes o motivo pelo qual alguém se torna um delinquente
é, simplesmente, o livre arbítrio ou o caráter pessoal, mas também é verdade
que a falta de educação e a desigualdade contribuem em boa parte para isso.
Quanto ao “catracaço”, acho que é
uma moeda de duas caras. De um lado, o cidadão trabalhador e insatisfeito com a
ineficiência e o alto custo do transporte público; do outro, aqueles que não
estão preocupados em melhorar nada e que acham que a solução seria o
“passe-livre” a “custo-zero”. Desde quando algum serviço tem custo zero, quanto
mais o público? Que eu saiba a regra é
outra: quando o governo oferece algo “de graça” o custo é dobrado graças ao
superfaturamento, isso ocorre com a merenda escolar, os uniformes, as obras
públicas, os remédios…
Para finalizar: os “rolezinhos”.
Parece-me que nem todos os participantes são negros, pobres, excluídos sociais,
como dizem aqueles que afirmam que os rolezinhos são um reflexo do “apartheid social” que há no Brasil. Pode
até ser, mas será que os jovens que participam desses encontros têm consciência
disso?
Creio que muitos deles querem apenas
se divertir, “zoar” e “chocar”, atitudes próprias da idade, já fui adolescente.
É verdade que os centros comerciais, “shoppings”, no Brasil, são ilhas de
consumo, onde as pessoas querem gastar seu dinheiro sem ser incomodadas e sem
se sentirem ameaçadas. Se nos espaços públicos, as manifestações dos jovens já
são reprimidas, quem dirá nos espaços privados, em que os lojistas pagam um
alto preço para garantirem aos seus clientes um ambiente aprazível?
É natural que o governo não invista
em educação já que, no dia em que isso ocorrer, passaremos a prestar mais
atenção a outros neologismos que estão a nossa volta, tais como: “mensalão”, “mensalinho”,
“mensaleiro”, “caixa dois”, “valerioduto”, etc. Deixando a polêmica de lado, o
fato é que nossos problemas políticos e sociais são fonte de enriquecimento
vocabular e, diga-se de passagem, o enriquecimento, neste caso, é lícito.
Enquanto não aparecem novos neologismos, aproveitemos a “melhor copa de todos os tempos”! Pão e circo é o que nos dão, em lugar de instrução.
Ah, sim, quanto à tradução de neologismos deste tipo, a solução mais adequada é deixá-los em português, em itálico ou entre aspas, e inserir uma explicação.
Veja o exemplo extraído do sitio do jornal chileno La Segunda:
"Río de Janeiro/Sao Paulo.- Al menos tres zonas de compras de Río de Janeiro y Sao Paulo cerraron sus puertas este fin de semana debido al "rolezinho" (paseíto), un nuevo fenómeno juvenil que consiste en encuentros multitudinarios de jóvenes en centros comerciales coordinados a través de Internet y que tiene desconcertado a todo Brasil."
Nesse exemplo, além da explicação, colocaram também uma tradução literal do termo entre parêntesis.
Fonte: www.lasegunda.com
Leia a versão completa da notícia aqui.
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