sábado, 26 de abril de 2014

Entrevista com a tradutora Simone Vieira Resende

Simone Vieira Resende é tradutora, nasceu em Teresópolis, interior do Rio de Janeiro. É graduada em letras e mestre em Linguística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, onde também leciona Língua Inglesa.


Diana - Quais são as línguas que você traduz e há quanto tempo é tradutora?
Simone -  Eu sou tradutora há mais de 15 anos e traduzo do inglês para o português e do português para o inglês.

Diana - Como foi que começou a trabalhar como tradutora técnica?
Simone -  Comecei fazendo versões de RESUMOS para meus amigos.

Diana - Quais foram os principais desafios no início da carreira?
Simone – O maior desafio foi entender que eu não precisava escolher entre ser PROFESSORA e TRADUTORA. Eu poderia ser os dois. Demorei muito para aceitar e entender isso. Vivia em um limbo achando que nunca iria ganhar dinheiro com nenhuma das duas profissões e que estava fadada ao fracasso. Ledo engano!

Diana – Em sua opinião, quais são os conhecimentos e as qualidades que essa modalidade requer?
Simone – Não apenas a tradução de especialidade, mas a tradução de uma forma geral exige do tradutor uma eterna desconfiança que aquilo pode não ser exatamente o que ele acha que é. Essa desconfiança faz o tradutor pesquisar e quem pesquisa tem mais chance de acertar. O tradutor deve cultivar a desconfiança em todos os momentos. Outra qualidade que considero fundamental para um tradutor é sua capacidade de fazer e manter seus contatos. Me refiro aos amigos e especialistas de diferentes áreas, aqueles que servem de subsídios externos para um trabalho e também de apoio moral quando as coisas se complicam. O ofício do tradutor não é nem de longe um trabalho solitário.

Diana - Quais são as suas especialidades?
Simone – O gênero que mais traduzo são os artigos científicos das mais diversas áreas de especialidade. Faço muitas versões para o inglês de texto de agronomia, engenharia, saúde, arquitetura, cinema, história e finanças. No ano de 2013 eu comecei a me aventurar no caminho da tradução literária e junto com dois amigos traduzi um romance e um livro sobre comportamento. Gostei desse glamour que envolve a tradução de literatura e pretendo continuar.

Diana - Em sua opinião, porque a tradução técnica é uma das modalidades mais bem remuneradas na área de tradução?
Simone – Na verdade a demanda por tradução técnica é sempre muito grande e no momento que você se especializa em um determinado gênero e algumas áreas, você se torna conhecido, seu trabalho passa a ser apreciado e quando você se valoriza e se esforça para manter a qualidade da sua produção é inevitável que a remuneração seja alta e você comece a ganhar dinheiro com isso. Quando falo sobre esforço, me refiro a você acreditar no seu potencial, acreditar na abundância e não se deixar levar pelo culto da pobreza. Não devemos acreditar em competição. Há espaço e trabalho para todos. Devemos acreditar no estudo, na leitura e na valorização dos detalhes de um projeto de tradução. Esse é o diferencial que faz com seu trabalho possa ser bem remunerado. Você deve ser o primeiro a valorizá-lo.

Diana - O que pesa mais: o conhecimento técnico ou o conhecimento linguístico?
Simone – Na hora da tradução o importante é saber equilibrar os dois conhecimentos ou a falta de um deles! Você pode saber escrever bem na língua de chegada, mas se não dominar a terminologia daquela área vai causar estranheza no seu público alvo. Para sanar isso, é importante ter amigos. Os contatos com especialistas das áreas para qual você traduz é fundamental para o sucesso do seu trabalho. Não basta curtir as fotos nas redes sociais, é preciso ter consideração genuína pela amizade, para só então poder ligar às 3 da manhã e perguntar sobre o uso de algum termo técnico! 


Diana - Do que mais gosta em seu trabalho?
Simone – Eu gosto de tudo. Adoro poder ficar em casa no computador. Amo poder traduzir de qualquer lugar que estiver e adoro participar de tradução em conjunto, como tradução de jogos, tradução com quatro ou seis mãos em um mesmo texto. A tradução me fascina, esse leva e traz de informação entre culturas diferentes preenche em mim a necessidade de me sentir parte do mundo e livre ao mesmo tempo. Como também sou professora de tradução, eu acho que consegui juntar as duas coisas que mais amo fazer: traduzir e ensinar. Acredito que cada aluno que chega para mim é uma nova oportunidade, um novo desafio e uma nova história para ser escrita, não quero nunca parar de lecionar.


Diana – Em suas aulas de terminologia, você sempre frisou a importância do glossário e do corpus para a tradução. De que forma essas ferramentas contribuem para o trabalho do tradutor?
Simone – Seja sozinho, em dupla ou em um grupo, o tradutor não pode confiar em sua memória. Na verdade, ninguém pode. É fundamental que toda sua pesquisa seja registrada. Quando você registra o termo que escolheu em um glossário, você ganha mais tempo e dá qualidade para sua tradução. A tradução fica uniforme, coerente e as escolhas podem ser repetidas ao longo do texto sem que uma nova pesquisa precise ser feita. Daí, sobra tempo. Tempo pra ser feliz, caminhar na praia e curtir os amigos. A tecnologia, as ferramentas de memória, as pesquisas em corpora vieram para ajudar, facilitar e melhorar o trabalho tradutório.

Diana – Você demonstra ser adepta da tecnologia, de que forma podemos melhorar nosso trabalho com o uso de recursos tecnológicos?
Simone – Cada novo software lançado no mercado cria hoje uma legião de excluídos. Não há como acompanhar todas as novidades do mercado. Contudo, não basta usar o simples editor de texto como se fosse uma máquina de escrever. A tecnologia de nada serve quando não se curva aos nossos desejos. Ela deve nos servir e não o contrário. Eu sou fã das ferramentas de memória, da tradução automática e de tudo que pode fazer meu trabalho mais simples e com mais qualidade. Não acredito que a máquina poderá substituir o trabalho do tradutor, mas sim auxiliar para que o trabalho possa ser agilizado, melhorado e que sobre tempo para investir nas relações pessoais, na felicidade!

Diana – O que faz para recuperar a energia após um trabalho exaustivo?
Simone - Quando termino um longo projeto tradutório gosto de comemorar com uma caminhada na praia junto com um sorriso daqueles “consegui”! Mas, o que me move e me motiva é o PRAZO! Que tradutor não adora uma deadline?
Pensando bem, uma das coisas que mais gosto em ser tradutora é não ter esse compromisso com o fim de semana, férias e nem com as paranoias típicas dos trabalhos de segunda a sexta, das 9 às 5. Para nós tradutores isso não existe. Podemos trabalhar por 12 horas direto em um domingo e depois passar uma segunda a tarde lendo e descansando em uma rede! Entre nós tradutores não há nada do tipo: “Ah, não! Amanhã é segunda-feira!” Todo dia é dia útil e todo dia é dia de descanso!

Diana - Lembra-se de alguma anedota ou gafe que possa compartilhar?
Simone – Me lembro que uma vez, alguns anos atrás, eu dei uma entrevista para um programa de televisão sobre meu trabalho. Era um programa esotérico que queria entrevistar uma tradutora/professora do signo de sagitário. Eu topei. A equipe do programa queria me filmar trabalhando como tradutora e me perguntaram como era o dia a dia de traduzir com frequência. Eu descrevi a cena, dizendo que era eu, em casa, cabelo pra cima, pantufas, xícara de café na mão. A equipe então me pediu que a cena não fosse tão real. “Vamos fazer uma cena mais fake, você arrumada, sentada em um café em Ipanema traduzindo. Que tal?” Eu tomei, né? Afinal, não seria tão falso assim.
Você pode assistir aqui: http://youtu.be/8EMmubD_2yE


Diana – Que recomendações gostaria de deixar para aqueles que desejam iniciar na profissão?
Simone – É preciso estudar para ser tradutor. Não basta saber uma segunda língua. Você tem de saber bem a sua língua e a do outro. Minha recomendação é que se você quer ser tradutor procure um curso de formação e estude. Pode ser um curso técnico, uma pós-graduação, uma oficina, uma graduação, qualquer coisa. Estude. Não tenha medo de errar. Tente, erre, acerte, erre e comece de novo. Se o seu sonho é ser tradutor, invista e não desista. Respire, sorria e determine ser feliz agora.




Trabalhos de Simone Vieira Resende:







17 comentários:

  1. Conheci a Simone em um Congresso na UFSC. Uma pessoa excelente e com grande disposição para ajudar e orientar os que estão ingressando na carreira de tradutor.

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  2. Pessoa maravilhosa e excelente profissional. Adorei a entrevista!
    Simone, seu trabalho é excepcional... sou sua grande fã.

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  3. Simone foi minha professora de inglês na UERJ. Excelente professora, muito didática, sempre atualizada e propondo coisas novas! uma pessoa maravilhosa...

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    1. Obrigada, Marcelo! Foi muito bom ser sua professora.

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  4. Parabéns, Simone! excelente entrevista.

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    1. Obrigada, Andy e Babi! Com vocês tudo fica mais fácil e colorido!

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  5. É por essas e outras que acreditamos em crescimento em conjunto! Mais um presente da excelente profissional e amiga Simone Vieira!

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  6. Simone excelente profissional e uma pessoa muito positiva. É minha professora na Estácio (Espanhol). Com ela pude repensar meus conceitos da minha nova profissão: Tradutora.

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  7. Tive aula com a Simone hoje e cá estou, horas depois, buscando sobre sua trajetória profissional. Que professora!! Aumentou ainda mais meu entusiasmo pra viver 100% de tradução.

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  8. Minha querida professora, amei sua entrevista! Parabéns pelo sucesso. Obrigada pela força quando decidi mudar de profissão com suas dicas. Que esta sua estrada seja brilhantemente percorrida como já está sendo, maravilhosa e fantástica. Tudo de melhor para você! Bjs :)

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  9. A Simone é excelente professora. Para ela todos os meus aplausos!!!
    Fernanda Vilas Boas

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  10. A Simone foi minha professora na pós da Estácio. Excelente professora! Meu curso era à distância e mesmo assistindo as suas aulas on-line, a energia era contagiante. Uma inspiração profissional.
    Edilene

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