Renata
Moreno é brasileira naturalizada espanhola e vive no interior paulista.
Graduou-se em Direito e ingressou aos quadros da Ordem dos Advogados do
Brasil no mesmo ano de sua formatura, 1998. Especializou-se
nas áreas de direito civil, consumidor e contratos pela Escola Superior
de Advocacia e atuou durante vários anos exclusivamente para
empresas. Estudou espanhol pelo Instituto Cervantes e pós-graduação em
tradução de espanhol pela Universidade Gama Filho. Atuou
no setor editorial jurídico e hoje é tradutora literária e técnica
jurídica freelance, professora de espanhol e mantém o blog Vertendo Palavras sobre tradução, literatura e comunicação.
Diana
- Quais são as línguas que você traduz e há quanto tempo é tradutor?
Renata
- Antes de tudo, quero parabenizar o blog pela iniciativa, e dizer que me sinto
honrada por ter tido a oportunidade singular de participar dessa série de
entrevistas, juntamente com brilhantes tradutores... Bem, sou tradutora de espanhol
desde 2009.
Diana
- Fale um pouco de como tudo começou. Ser tradutor fazia parte de seus planos
ou começou por acidente?
Renata
- Acho que foi um feliz acidente! Sou graduada em Direito, fiz várias
pós-graduações e durante 12 anos atuei na área de direito civil até surgir a oportunidade
de atuar na área editorial de tradução técnica jurídica e aqui estou!
Diana
- De que forma sua formação em advocacia contribuiu para o ofício de tradutora?
Renata
- Com certeza minha formação acadêmica em Direito forneceu, inicialmente, os
elementos necessários para determinar um segmento de atuação especializada,
dentro do vasto campo da tradução.
Diana
- Quais foram os principais desafios no início da carreira?
Renata
- A insegurança gerada pela dúvida entre o encontro de seu verdadeiro “estilo”
e tudo aquilo que se lê e se estuda sobre a teoria da tradução! Mas, em termos
práticos, a minha maior dificuldade com a tradução técnica jurídica, sem a
menor sombra de dúvida, era encontrar termos correspondentes ideais, ante a
rebuscada linguagem jurídica e os diferentes sistemas. Firmar-se no mercado de
trabalho, foi também outro grande desafio... Mas o tempo e a dedicação me
ensinaram e me ajudaram a superar os primeiros obstáculos e seguir em frente.
Diana
- O que é que você mais gosta de seu trabalho?
Renata
- Gosto de poder trabalhar sozinha! Na minha casa, fazer meu horário... Enfim,
a liberdade que, de certa forma, a profissão possibilita! A possibilidade,
também, de saber que estamos transpondo barreiras da comunicação e levando
conhecimento às pessoas, é incrível!
Diana
- E o que menos gosta?
Renata
- Alguns trabalhos exigem um prazo muito curto, o que demanda horas de trabalho
contínuo e, muitas vezes, que se estende noite adentro... É comum um tradutor “virar a noite”
trabalhando para cumprir um prazo.
Diana
- Algum trabalho o marcou de modo particular e por quê?
Renata
- Sim, muitos! Traduzir trabalhos na área de direito dos animais para ANDA -
Agência Nacional de Direitos Animais e, recentemente, documentos para a ONU -
Mulheres, marcou-me não apenas profissionalmente, mas como pessoa. Foram
trabalhos que permitiram a mim, testemunhar e refletir acerca de temas
extremamente relevantes sobre diversidade, heterogeneidade e lutas pela vida,
pela equidade e justiça para todos os seres, raças e gêneros.
Diana - O seu amor pelos animais em algum momento
influenciou seu trabalho?
Renata
- Sim, com certeza! O meu desejo de levar o conhecimento a todos, de modo a
criar uma massa crítica capaz de refletir, contestar e mudar a atual situação
de escravização, barbarismo e crueldade imposta pelos homens aos animais, me
deu forças para buscar horizontes de trabalho, antes ignorados.
Diana
- Como é sua rotina de trabalho, o seu dia a dia?
Renata
- Bem, trabalho em Home Office. Dedico seis horas diárias de trabalho à
tradução, pois ademais de tradutora sou professora de espanhol. Elegi a manhã para
minhas outras atividades, e no período da tarde, até às 19hs ou 20hs, dedico-me
exclusivamente aos projetos de tradução. Isso se não tenho nenhum trabalho
urgente, é claro!
Diana
- Quais são os seus passatempos quando não está traduzindo?
Renata
- Pratico ioga, meditação e dança... Gosto muito de animais e de estar em
contato com eles. Gosto da minha casa, gosto de ler e de cinema, assim, dedico
grande parte do meu tempo livre a tudo o que gosto...
Diana
- Lembra-se de alguma anedota ou gafe que possa compartilhar?
Renata
- Sim! Estava traduzindo um conto do Horacio Quiroga e havia a palavra “gran
pavón” que significa uma mariposa gigante que habita a região de Missões
(Argentina). Vencida pelo cansaço, traduzi como “pavão”, grifei com a intenção
de buscar a tradução adequada posteriormente, mas acabou passando... Resultado:
o revisor me devolveu o texto com um tremendo estranhamento, e perguntando se era
pavão mesmo!
Diana - O que ainda gostaria de fazer como tradutor?
Renata
- Muitas coisas! Gostaria de continuar traduzindo literatura, gostaria de
traduzir livros sobre direito dos animais e direitos humanos. Enfim, continuar tendo
oportunidades de traduzir cada vez mais!
Diana - Poderia deixar uma dica para os tradutores
principiantes?
Renata
- Considero-me iniciante! Mas deixo como dica o aperfeiçoamento contínuo,
formação profissional adequada e jamais aceitar um trabalho por um prazo que
você não consiga cumprir! Se você não consegue fazer o que deve... Deve ao menos
fazer o que consegue!
Trabalhos
referenciais:
Documentos
gerais para a ONU Mulheres - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
- PNUD.
Artigos e
reportagens internacionais para ANDA - Agência de Notícias de Direitos Animais.
Obras Contos
de amor de loucura e de morte e Os desterrados, de Horacio Quiroga
para a editora Martin Claret - em fase de conclusão.
Obras Para
noite de insônia e outros contos, de Horacio Quiroga, para editora
Martin Claret, tradutora e organizadora - em fase de conclusão.
Autora do livro Direito das Águas – 2011. ISBN
978-85-8065-148-5. Direito das águas. Recursos hídricos. Princípios e
instrumentos de gestão de recursos hídricos. Sistema Nacional e Estadual de
gerenciamento de recursos hídricos.
Tradução (espanhol/português) do artigo acadêmico Tratados de direitos humanos e a evolução jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, de autoria do Me. Pós-Dr. Vladmir Oliveira da Silveira e da Me. Dra. Samantha Ribeiro Meyer-Pflug, publicado no Periódico de Direito Internacional da Universidade Complutense de Madrid.
Tradução (espanhol/português) do artigo acadêmico Tratados de direitos humanos e a evolução jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, de autoria do Me. Pós-Dr. Vladmir Oliveira da Silveira e da Me. Dra. Samantha Ribeiro Meyer-Pflug, publicado no Periódico de Direito Internacional da Universidade Complutense de Madrid.
Inspiradora entrevista!
ResponderExcluirRenata, adorei sua entrevista!!! Me surpreendeu muito saber dos documentos importantes que vc teve que traduzir. O recado que deixou para os novatos foi ótimo. Parabéns por sua historia e seu sucesso!!
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