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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Entrevista com o tradutor Carlos Nougué




Carioca que já não vive no Rio há uma década e meia, Carlos Nougué é tradutor literário, gramático, lexicógrafo e professor de Filosofia. Entre os autores mais importantes que traduziu, estão G. K. Chesterton, Cervantes, Cícero, Sêneca, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Émile Boutroux e, na poesia, Miguel Hernández.    



Diana — Quais são as línguas que traduz e há quanto tempo é tradutor?

Carlos Nougué — Francês, espanhol, inglês e latim. Sou tradutor desde os 30 anos (estou com 62) e já traduzi cerca de 300 livros, uns 50 ou 60 dos quais de real importância. Mas, mesmo entre estes, não me agradam todas as traduções que fiz. Em verdade, agradam-me muito poucas, e mais que todas a também mais difícil delas: A Inocência do Padre Brown, de G. K. Chesterton.



Diana — Fale um pouco de como tudo começou. Ser tradutor fazia parte de seus planos ou começou por acidente?

Carlos Nougué — De modo algum pensava em sê-lo. Como todos ou quase todos os de minha geração, comecei a traduzir por “bico”, ou seja, em razão de dificuldades financeiras. Quando porém percebi que tinha algum pendor para o ofício, comecei a estudar profundamente, antes de tudo, a língua portuguesa e sua literatura – porque, com efeito, o primeiro dever do tradutor é ser (quase) perfeito em sua língua, e refiro-me à língua cultivada. Mas também mergulhei no estudo das outras línguas e sua respectiva literatura, além de ocupar-me especialmente de forjar eu mesmo, ao menos para mim, uma teoria da tradução – é que nenhuma me satisfazia plenamente.



Diana — De que forma sua formação em filosofia contribuiu para o ofício de tradutor?

Carlos Nougué — Como com respeito a tudo, a (boa) Filosofia ordena a mente, torna-a realista e exigente, dota-a de algo que é fundamental para um tradutor: a capacidade de distanciamento crítico. Mas atenção: a Filosofia é uma ciência, enquanto a Tradução é uma arte, e aquela está para esta assim como o especulativo está para o prático. Como arte, ademais, requer de quem a exerce, como já disse, um mínimo de pendor, de talento para ela.



Diana — E a filosofia Tomista teve alguma influência em seu trabalho?

Carlos Nougué — No mesmo sentido em que respondi à pergunta anterior, até porque não hesito em dizer que a doutrina tomista é o ápice do pensamento humano. O mais interessante de tudo, porém, é que da confluência do estudo e do ensino da Filosofia com a necessidade, imposta pelo ofício de traduzir, de aprofundar-me na língua portuguesa, resultará ainda este ano o que julgo meu trabalho mais importante até agora: a Suma Gramatical da Língua Portuguesa, uma gramática avançada de cerca de 700 páginas que se publicará ainda este ano. Nela estão presentes, de algum modo ou como uma síntese, todos os esforços e preocupações intelectuais de minha vida.



Diana — Quais foram os principais desafios no início da carreira?

Carlos Nougué — Além da já referida (necessidade de estudos profundos), o de ganhar pouco no início para fazer currículo. Mas fui feliz: minha primeira tradução para uma grande editora obteve o Prêmio Jabuti, o que obviamente fez a carreira consolidar-se já, em algum grau.



Diana — O que é que mais gosta de seu trabalho?

Carlos Nougué — De meu trabalho, gostava tanto do estudo que o aprimorava como do resultado alcançado em alguns casos – além de que inegavelmente há algo de, digamos, lúdico em buscar e encontrar em nossa língua a equivalência perfeita (ou quase) do plasmado em outra língua. E, se digo gostava, é porque de fato estou muito cansado: traduzir 300 livros em 30 anos é demasiado, e confesso que hoje busco com afinco retirar-me do ofício.  



Diana — E o que menos gosta?

Carlos Nougué — Ter de traduzir livros que rejeito intelectual ou artisticamente. E foi o caso a maioria dos referidos 300...



Diana — Como foi a experiência de traduzir uma obra tão significativa para a literatura universal como é o Dom Quixote?

Carlos Nougué — Antes de tudo, lembre-se de que o traduzi em parceria com José Luis Sánchez. Depois, não me implicou nenhuma dificuldade especial, por vários motivos: eu já era muito experiente, e experiente, ademais, em obras árduas; há hoje muitas e excelentes edições críticas do livro, o que facilita a vida de qualquer tradutor de uma obra clássica; já havia muitas traduções, cujos erros pudemos assim evitar, mas de cujos acertos nos valemos sempre; etc.



Diana — O senhor ganhou o Prêmio Jabuti de Tradução em 1993 com Cristóvão Nonato, de Carlos Fuentes. Como foi traduzir várias obras do mesmo autor, surgiu uma espécie de sintonia com a forma dele se expressar?

Carlos Nougué — Salvo engano, traduzi mais de 25 obras suas. Mas tenho de confessar, ainda que meio eufemisticamente, que sua obra não habita meu coração.



Diana — Quais são as dificuldades de ser tradutor literário no Brasil?

Carlos Nougué — Antes de tudo, entendo “tradução literária” em sentido lato ou analógico, a saber, como tradução de Literatura stricto sensu, de Filosofia, de Gramática, de Música, etc. Depois, confesso ainda que, dada tal amplitude e a mesma variedade de línguas de que traduzo, nunca tive grandes dificuldades na carreira; nunca deixei de ter trabalho. Por outro lado, de fato nunca me prejudicaram as condições do tradutor no Brasil, e digo sinceramente que acho justo, em geral, o que sempre me pagaram. Sempre vivi, razoavelmente, de tradução – e isto me basta.



Diana — Em suas aulas de tradução literária sempre deixou claro que o tradutor literário deve ser extremamente fiel ao autor e à obra original. O que significa exatamente ser fiel na tradução de um livro?

Carlos Nougué — Contra o que propõe a maioria das teorias da tradução atuais, sustento que a melhor tradução é a “caninamente” e pormenorizadamente fiel ao original, não só em termos de significado, como é óbvio até por sua principalidade, mas ainda em termos morfossintáticos, lexicais, rítmicos, sonoros e até de ordem frasal. Naturalmente, buscamos 100% de equivalência, digamos, especular, e alcançamos o possível. Trata-se pois de algo assimptótico. Mas o importante é que mesmo a porcentagem restante seja de algum modo também fiel. Ademais, obviamente tal equivalência especular se vai tornando cada vez mais difícil à medida mesma que vamos da língua mais próxima (aqui, o espanhol) à mais distante (ponhamos o chinês). Pude experimentá-lo em certa medida: espanhol → francês → inglês, por um ângulo → latim, por outro. E eis o que chamo regra de ouro do bem traduzir: Siga-se palavra a palavra o original até o momento em que isso fira a índole da língua para a qual se traduz.   



Diana — Como é sua rotina de trabalho, o dia a dia?

Carlos Nougué — Cada vez me dedico menos à tradução...



Diana — Quais são os seus passatempos quando não está traduzindo?

Carlos Nougué — Ocupo grande parte do tempo livre com o estudo, ou com ministrar algum curso de Filosofia, ou agora, grandemente, com a escrita da Suma Gramatical, além da audição diária de certa música erudita (Bruckner, Bach, Haendel, Schubert, Haydn e outros). 



Diana — Lembra-se de alguma anedota ou gafe que possa compartilhar?

Carlos Nougué — Se se trata de gafes alheias, tenho por princípio não comentá-las. Se se trata das minhas, deixo ao leitor o trabalho de encontrá-las – até porque nunca reli nenhuma tradução minha publicada.



Diana — O que ainda gostaria de fazer como tradutor?

Carlos Nougué — Nada...



Diana — Poderia deixar uma dica para os tradutores principiantes?

Carlos Nougué — Estudo, seriedade, humildade. 


Algumas traduções de Carlos Nougué:

  1. Maqroll el Gaviero, antologia do poeta colombiano Álvaro Mutis (1995);
  2. Sangre a Sangre, antologia do poeta espanhol Miguel Hernández (1995);
  3. Aristóteles, de Émile Boutroux (Tradução do francês) (2000);
  4. Cristóvão Nonato, de Carlos Fuentes (Tradução do espanhol) (2000) - Prêmio Jabuti de Tradução em 1993;
  5. O Mendigo e o Professor — A Saga da Família Platter no Século XVI, de Emmanuel Le Roy Ladurie (Tradução do francês e Notas) (2000);
  6. Cartas a Lucílio, de Sêneca (Tradução do latim e Notas) (2001);
  7. Santo Tomás de Aquino, de Gilbert Keith Chesterton (Tradução do inglês e Notas) (2002);
  8. O Corsário, Memórias de M. Du Guay-Trouen (Tradução do francês clássico e Notas) (2003).
  9. D. Quixote da Mancha, de Miguel de Cervantes (edição oficial do IV Centenário da edição princeps; em parceria com José Luis Sánchez; Apresentação e Notas) (2005);
  10. A Natureza do Bem, de Santo Agostinho (Tradução do latim) (2005);
  11. Do Sumo Bem e do Sumo Mal, de Marco Túlio Cícero (Tradução do latim, Apresentação e Notas) (2005);
  12. A Inocência do Padre Brown, de Gilbert Keith Chesterton (Tradução do inglês e Notas) (2006).
  13. Tusculanas, de Cícero (Tradução do latim e Notas) (2006).





quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

"Mecherazo"


Mecherazo” es una palabra derivada de “mechero” + el sufijo aumentativo “azo” y se refiere a un golpe proporcionado mediante un mechero.

Cuando digo mechero, encendedor o chisquero me refiero al instrumento de bolsillo cuyo gas se enciende al entrar en contacto con la chispa producida por el roce de una rueda de acero con una piedra. El origen de la palabra mechero se debe a que los encendedores antiguos estaban equipados con una mecha retorcida.

En el léxico suele suceder que algunos objetos cambien su funcionamiento o sean substituidos por otros totalmente diferentes y que, a pesar de eso, mantengan los mismos nombres. Eso sucedió, por ejemplo, con la pluma de ave cuando fue sustituida por el objeto cargado de tinta y mantuvo su nombre “pluma” y con la nevera que al principio era un lugar lleno de nieve donde se conservaba los alimentos y que fue sustituido por el aparato electrodoméstico, manteniendo su nombre original “nevera”.

Los mecheros de bolsillo se volvieron populares especialmente durante la segunda guerra mundial y la guerra de Vietnam ya que, al contrario de las cerillas o fósforos, difícilmente se apagaba en condiciones adversas de lluvia o viento.

Otra ocasión en que se hizo visible la popularidad de los mecheros fue en el festival de Woodstock en 1969. Durante la segunda noche, un cantante solicitó desde el escenario que todo el mundo encendiera sus mecheros porque la oscuridad impedía ver hasta dónde llegaba el público. En unos minutos decenas de miles de llamas se encendieron hasta donde alcanzaba la vista. Hoy en día, en los festivales, la llama de los mecheros fue sustituida por la luz de los móviles.

Bueno, ahora que ya hemos visto algo al respecto de este instrumento, podemos volver a la palabra “mecherazo”. Recientemente salió una noticia en la prensa de que el portugués Cristiano Ronaldo había recibido un “mecherazo” en la cabeza durante el descanso de un partido.  

En este caso creo que fue preferible el mechero al móvil, de lo contrario el prejuicio, o el chichón, sería mayor.

Y para no perder la punta del ovillo (permitam-me a interrupção: jamais se deve traduzir o "fio da meada" como "el hilo de la meada", pois "meada" é um falso amigo que, em espanhol, significa "mijada"), la palabra "mecherazo" se tradujo al portugués como "isqueirada", ya que en portugués el sufijo "ada" se utiliza para referirse a varios tipos de golpes: "paulada", "pedrada", "chinelada", "martelada", "chicotada", etc.

Y para concluir: Por favor, iya basta de violencia en los estadios!

Expressões que mudam de significado quando grafadas com hífen




Algumas expressões mudam de significado ao serem grafadas com hífen:



bico de papagaio: deformação nas vértebras.

bico-de-papagaio: espécie de planta.



cabeça dura: cabeça resistente.

cabeça-dura: aquele que é teimoso.



casca grossa: casca áspera e espessa.

casca-grossa: aquele que é rude.



copo de leite: copo que contém leite.

copo-de-leite: tipo de flor.



dedo duro: dedo rígido.

dedo-duro: aquele que delata, que denuncia.



mão aberta: mão espalmada.

mão-aberta: aquele que é generoso, esbanjador.



mão fechada: punho cerrado.

mão-fechada: aquele que é sovina, o contrário de mão-aberta.



pão duro: pão endurecido.

pão-duro: aquele que é avarento, sovina, mão-fechada.



rabo de cavalo: penteado.

rabo-de-cavalo: espécie botânica.



sem sal: comida que não leva sal.

sem-sal: pessoa ou coisa que não tem graça.



sem teto: construção que não tem cobertura.
sem-teto: aquele que não tem onde morar.