A Tradução Vivida é uma obra de inestimável valor
tanto para o aprendiz de tradução quanto para o tradutor mais experiente. Neste
livro, o tradutor Paulo Rónai relata, de forma simples e descontraída, suas
experiências e conhecimentos adquiridos após décadas de dedicação à tradução.
Inicialmente ele comenta os vários tipos de tradução e explica
que a ambiguidade das palavras se deve a que seu sentido é dado pelo contexto.
A seguir fala da oposição entre tradução literal e livre e
afirma que a noção de fidelidade implica
talvez menos aderência às palavras da língua-fonte do que obediência aos usos e
às estruturas da língua-alvo. E enumera diversas definições de tradução criadas
ao longo do tempo por autores e tradutores.
Analisa alguns problemas na escolha dos tradutores pelas
editoras que preferem priorizar prazos a qualidade. Assim, discorre sobre o que
seria o tradutor ideal que, segundo ele, deve possuir um conhecimento sólido da
língua para a qual traduz, adquirido através da leitura atenta e contínua dos
bons autores e pelo estudo incessante dos meios de expressão.
Além disso, o tradutor precisa ainda de uma boa cultura
geral, curiosidade e desconfiança sempre alerta, deve adquirir um sexto sentido
que o faça perceber as armadilhas da língua, que não permitem a tradução ao pé
da letra e o bom-senso para encontrar soluções diante dos problemas que surgem
durante a tradução.
Rónai discorre sobre as armadilhas da tradução, a maioria
decorrentes da fé na existência autônoma das palavras. Ele fala da polissemia,
que faz com que uma palavra tenha vários equivalentes conforme o contexto; dos
falsos cognatos, palavras parecidas em dois idiomas, mas com sentidos diversos
e cita vários exemplos; dos homônimos existentes em cada língua; dos
trocadilhos; dos parônimos e sinônimos. Por fim, fala do problema das metáforas,
lembrando-nos que não estamos traduzindo palavras, mas sentenças.
Também aborda questões editoriais relacionadas à tradução,
tais como: a influência prejudicial do best-seller, a remuneração
inadequada e a pressa, a escolha do original, o recurso a traduções
intermediárias, a tradução a quatro mãos, as traduções por meio do português de
Portugal, as adaptações, as alterações e correções do original, as vantagens e
desvantagens do copidesque, a tradução dos títulos.
Outras questões tratadas são as falácias da tradução, entre
elas a ilusão de que é possível aprender a traduzir por meio de tratado. Rónai
afirma que a tradução aprende-se traduzindo o que não quer dizer que a reflexão
sobre a tradução não seja necessária. Outra falácia de que trata é a da
fidelidade. O que geralmente se espera de um tradutor é que ele seja fiel ao
sentido do original. Mas, como foi visto no início do livro, uma palavra, ou
mesmo uma frase inteira, pode ter vários sentidos, conforme o contexto. Ele
repete sua opinião de que o tradutor mais fiel seria aquele que conseguisse
esquecer as palavras da mensagem original e depois se lembrar de seu conteúdo
para reformulá-la na sua própria língua. Assim, ele lembra que a fidelidade é
uma obrigação dupla para com o original e para com a língua-alvo.
Quanto à tradução poética, ele mostra que existem diferentes
tendências: os que defendem a tradução da poesia em prosa, para maior
fidelidade ao sentido, e os que defendem uma recriação artística do poema
traduzido, sem se prender apenas ao sentido. Ambas têm suas variantes.
Para concluir, Rónai conta suas reminiscências de tradutor, de décadas no oficio da tradução em diversas modalidades, da fundação da ABRATES e da árdua tarefa da organização da edição
brasileira de A Comédia Humana, de Honoré de Balzac, trabalho que durou quinze anos,
que resultou em dezessete volumes.
Em fim, é uma obra indispensável na biblioteca do tradutor!
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