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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Resenha do livro "El Camino", de Miguel Delibes



Esta história tem um "sabor" de nostalgia e melancolia; saudades da infância e do tempo que já passou, dos lugares e das pessoas que marcaram nossas vidas, e saudades do que fomos um dia e já não somos mais.

Daniel é um menino de onze anos filho de um casal humilde, que vive da fabricação caseira de queijos numa pequena vila rural na Espanha pós-guerra. A história transcorre durante a noite anterior à partida de Daniel, contra sua vontade, para a cidade onde deve prosseguir os estudos conforme os anseios do pai, que deseja que ele seja “alguém na vida”.

O título do livro alude ao caminho da vida. Daniel passa a noite acordado relembrando sua vida até o presente momento. Ele vive livre e feliz na pequena vila, em contato com a natureza e com seus dois melhores amigos e não entende por que isso deveria mudar. Para ele, estudar na cidade não significa progresso.

Ele sente que seu lugar é ali, no vilarejo em que nasceu, onde o tempo parece ter parado e onde todos se conhecem por apelidos. Daniel, “el Mochuelo” (o coruja) forma um trio inseparável com os amigos Roque, “el Moñigo” (o bosta) e Germán, “el Tiñoso”(que sofre de "tinha", infecção provocada por fungos que causa perda de cabelo). Daniel lembra-se dos momentos vividos ao lado dos amigos: das travessuras, dos castigos, das competições para provar quem era o mais corajoso, o mais forte.

Seus pensamentos trazem à tona a descoberta do amor e da submissão que ele nos impõe. A sensação de perder o controle sobre si mesmo: o rubor, a gagueira, a palpitação acelerada, o suor frio e o “embrulho” no estômago.

As lembranças de Daniel revelam indignação com algumas atitudes dos adultos como o mau-humor do pai, que a princípio conversava com ele e lhe contava histórias, mas que à medida que o filho crescia, foi se distanciando por acreditar que o menino deveria amadurecer sozinho e passou a ficar ensimesmado, preocupado apenas em economizar para dar uma vida melhor ao filho. Daniel conclui que quando as pessoas viram adultas e adquirem o direito de decidir, já não lhes resta opção; e as crianças, que tem o ímpeto e a coragem para decidir, são obrigadas a deixar que os adultos decidam por elas.

Daniel questiona a prepotência do professor que aplica castigos humilhantes aos alunos; comove-se com a bondade do padre, a quem considera um santo; revolta-se com as fofocas e mesquinharias das beatas do vilarejo que se acham melhores que os outros, e diverte-se com a companhia dos amigos.

Daniel admira Paco, pai de Roque. Paco é ferreiro, homem robusto e simples, que criou o filho sozinho após a morte da esposa no parto. Daniel enxerga nele as qualidades que considera principais no homem: a força física e a valentia.

Ao lidar com a morte do amigo Germán, “el Tiñoso”, após um acidente, Daniel perde a inocência e se dá conta da efemeridade da vida, de que é apenas uma questão de tempo para que a morte chege a cada uma daquelas pessoas e a ele próprio, e que a passagem do tempo apagaria todos os vestígios da geração que ele conheceu.

Daniel não deseja se mudar para a cidade porque sabe que não está se despedindo apenas das pessoas e do lugar, mas também da infância.

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