O pronome "si" é pessoal do caso oblíquo refere-se à terceira pessoa do singular: "Vive cheio de si" ou à terceira pessoa do plural "Caíram em si ao receber a notícia".
O pronome “si” indica de processo reflexivo quando se refere ao sujeito "Elas só pensa em si", ou seja, elas só pensam nelas mesmas, em si mesmas ou em si próprias.
O emprego de uma expressão de reforço como "mesmo" ou "próprio" depois do "si" que denota ação reflexiva não constitui redundância. Portanto, é perfeitamente lícito dizer “Ela feriu a si mesma”, “Eles enganaram a si próprios”, “Sempre exige muito de si próprio”.
O pronome “si” é usado sempre com preposição, exceto com a preposição “com”, nesse caso, usa-se o pronome “consigo”. Exemplo: “Ele é muito exigente consigo mesmo”.
O pronome “si” também denota reciprocidade: "Decidiram entre si o local da reunião". No primeiro exemplo ("Ela só pensa em si"), o pronome "si" tem valor reflexivo porque se refere ao sujeito ("ela"). Tradução: "Ela só pensa em si" significa que ela só pensa nela mesma, em si mesma, em si própria.
Quando devemos usar “entre si” ou “entre eles”?
Devemos usar “entre si” somente quando o sujeito pratica e recebe a ação verbal:
“Os participantes competiam entre si”, “Os políticos discutiam entre si”, “Eles repartiram o bolo entre si mesmos”.
Devemos usar “entre eles” quando o sujeito é um e o complemento é outro:
“Nada existe entre eles” (o sujeito é “nada” e o complemento é “entre eles”), “O bolo foi repartido entre eles” (sujeito: “bolo”; complemento: “entre eles”), “O segredo ficou entre elas mesmas” (sujeito: “segredo”; complemento “entre elas”)
Por serem idênticas às pessoas do pronome reflexivo e do recíproco pode ocorrer ambiguidade nos casos de sujeito plural. Para evitar a ambiguidade, devemos usar os seguintes recursos:
João e Maria enganaram-se.
Pode ser que João enganou Maria, e esta a Paulo.
Para marcar a ação reflexiva, é recomendável acrescentar, conforme a pessoa, a si mesmos, a si próprios, entre outras:
João e Maria enganaram a si mesmos.
Para marcar a ação recíproca, convém acrescentar uma expressão pronominal, representada por “um ao outro, uns aos outros, entre si”:
João e Maria enganaram-se um ao outro. OU
João e Maria enganaram-se entre si.
Ou ainda, fazendo uso de um advérbio, como “reciprocamente ou mutuamente”:
João e Maria enganaram-se mutuamente.
ATENÇÃO:
Em Portugal, diferente do que ocorre no Brasil, admite-se o uso do pronome "si" em relação ao seu interlocutor, ou seja, no português de Portugal, a frase "Ela só pensa em si" significa que ela só pensa na pessoa com quem está conversando. Ou ainda, a frase “Gosto muito de si”, significa que gosto muito da pessoa com quem estou falando. Também se usa o pronome “consigo” em relação à pessoa com quem se fala “Falarei consigo amanhã”. No Brasil, diríamos esta última frase da seguinte forma: “Falarei com você amanhã” ou, ainda, “Falarei com o(a) senhor(a) amanhã”.
Tradução de espanhol. Diana Margarita. Blog sobre tradução, tradução de espanhol, gramática, literatura, cultura e entretenimento.
Páginas
▼
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
Resenha do livro "El Camino", de Miguel Delibes
Esta história tem um "sabor" de nostalgia e melancolia; saudades da infância e do tempo que já passou, dos lugares e das pessoas que marcaram nossas vidas, e saudades do que fomos um dia e já não somos mais.
Daniel é um menino de onze anos filho de um casal humilde, que vive da fabricação caseira de queijos numa pequena vila rural na Espanha pós-guerra. A história transcorre durante a noite anterior à partida de Daniel, contra sua vontade, para a cidade onde deve prosseguir os estudos conforme os anseios do pai, que deseja que ele seja “alguém na vida”.
O título do livro alude ao caminho da vida. Daniel passa a noite acordado relembrando sua vida até o presente momento. Ele vive livre e feliz na pequena vila, em contato com a natureza e com seus dois melhores amigos e não entende por que isso deveria mudar. Para ele, estudar na cidade não significa progresso.
Ele sente que seu lugar é ali, no vilarejo em que nasceu, onde o tempo parece ter parado e onde todos se conhecem por apelidos. Daniel, “el Mochuelo” (o coruja) forma um trio inseparável com os amigos Roque, “el Moñigo” (o bosta) e Germán, “el Tiñoso”(que sofre de "tinha", infecção provocada por fungos que causa perda de cabelo). Daniel lembra-se dos momentos vividos ao lado dos amigos: das travessuras, dos castigos, das competições para provar quem era o mais corajoso, o mais forte.
Seus pensamentos trazem à tona a descoberta do amor e da submissão que ele nos impõe. A sensação de perder o controle sobre si mesmo: o rubor, a gagueira, a palpitação acelerada, o suor frio e o “embrulho” no estômago.
As lembranças de Daniel revelam indignação com algumas atitudes dos adultos como o mau-humor do pai, que a princípio conversava com ele e lhe contava histórias, mas que à medida que o filho crescia, foi se distanciando por acreditar que o menino deveria amadurecer sozinho e passou a ficar ensimesmado, preocupado apenas em economizar para dar uma vida melhor ao filho. Daniel conclui que quando as pessoas viram adultas e adquirem o direito de decidir, já não lhes resta opção; e as crianças, que tem o ímpeto e a coragem para decidir, são obrigadas a deixar que os adultos decidam por elas.
Daniel questiona a prepotência do professor que aplica castigos humilhantes aos alunos; comove-se com a bondade do padre, a quem considera um santo; revolta-se com as fofocas e mesquinharias das beatas do vilarejo que se acham melhores que os outros, e diverte-se com a companhia dos amigos.
Daniel admira Paco, pai de Roque. Paco é ferreiro, homem robusto e simples, que criou o filho sozinho após a morte da esposa no parto. Daniel enxerga nele as qualidades que considera principais no homem: a força física e a valentia.
Ao lidar com a morte do amigo Germán, “el Tiñoso”, após um acidente, Daniel perde a inocência e se dá conta da efemeridade da vida, de que é apenas uma questão de tempo para que a morte chege a cada uma daquelas pessoas e a ele próprio, e que a passagem do tempo apagaria todos os vestígios da geração que ele conheceu.
Daniel não deseja se mudar para a cidade porque sabe que não está se despedindo apenas das pessoas e do lugar, mas também da infância.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Significado da expressão "hacer pucheros"
A expressão em espanhol “hacer pucheros” refere-se ao típico gesto que as crianças fazem antes de começar a chorar. Em português corresponde ao nosso “fazer beicinho”. Reza a lenda que essa expressão teria origem no costume romano de levantar as crianças pelas orelhas para beijá-las, do mesmo modo que levantavam as panelas que continham o “puchero” (ensopado), segurando-as pelas asas. Esse gesto provocava dor e choro dos pequenos que o expressavam com esse peculiar trejeito.
Exemplo extraído do Dom Quixote:
"Sancho, que ya sabía por nuevas del bachiller en qué estado estaba su señor, hallando a la ama y a la sobrina llorosas, comenzó a hacer pucheros y a derramar lágrimas"
Outro exemplo, agora extraído do conto “La Muñeca Reina”, do escritor Carlos Fuentes
“¿Cuándo esos labios de hacer pucheros o de adelgazarse en aquella seriedad ceremoniosa con la que, ahora me doy cuenta, Amilamia descubría y consagraba las cosas de una vida que, acaso, intuía fugaz?”
Exemplo extraído do Dom Quixote:
"Sancho, que ya sabía por nuevas del bachiller en qué estado estaba su señor, hallando a la ama y a la sobrina llorosas, comenzó a hacer pucheros y a derramar lágrimas"
Outro exemplo, agora extraído do conto “La Muñeca Reina”, do escritor Carlos Fuentes
“¿Cuándo esos labios de hacer pucheros o de adelgazarse en aquella seriedad ceremoniosa con la que, ahora me doy cuenta, Amilamia descubría y consagraba las cosas de una vida que, acaso, intuía fugaz?”
Significado da expressão "ni por pienso"
A expressão popular “ni por pienso” tem origem camponesa e significa “nem em pensamentos”, “nem em sonhos”.
Veja a definição encontrada no dicionário da RAE:
ni por ~. 1. loc. adv. U. para ponderar que algo ha estado tan lejos de suceder o ejecutarse, que ni aun se ha ofrecido en el pensamiento.
Exemplos extraídos do Dom Quixote:
“[...] Y no digo más, no es posible que yo arrostre , ni por pienso, el casarme, aunque fuese con el ave fénix.”
"No, señor, ni por pienso; porque en viéndose solo, me desollará como a un San Bartolomé"
Outro exemplo, agora extraído do livro “El Camino” de Miguel Delibes:
“Al cabo de una pausa, Rita, la Tonta, bajó la voz:
—Digo que tienes luz arriba. Estará corriendo el contador.
—¿Vas a pagármelo tú?
—Ni por pienso.
—Entonces déjalo que corra.”
Veja a definição encontrada no dicionário da RAE:
ni por ~. 1. loc. adv. U. para ponderar que algo ha estado tan lejos de suceder o ejecutarse, que ni aun se ha ofrecido en el pensamiento.
Exemplos extraídos do Dom Quixote:
“[...] Y no digo más, no es posible que yo arrostre , ni por pienso, el casarme, aunque fuese con el ave fénix.”
"No, señor, ni por pienso; porque en viéndose solo, me desollará como a un San Bartolomé"
Outro exemplo, agora extraído do livro “El Camino” de Miguel Delibes:
“Al cabo de una pausa, Rita, la Tonta, bajó la voz:
—Digo que tienes luz arriba. Estará corriendo el contador.
—¿Vas a pagármelo tú?
—Ni por pienso.
—Entonces déjalo que corra.”
terça-feira, 29 de outubro de 2013
Los Santos Inocentes - Miguel Delibes
"Los santos inocentes" é um romance do escritor espanhol Miguel Delibes publicado em 1981 que denuncia o drama da exploração do homem pelo homem, ambientado numa fazenda da região de Extremadura, na Espanha, numa época de pós-guerra, na década de 1960. Esta obra foi incluída na lista dos 100 melhores romances em espanhol do século XX do jornal espanhol “El Mundo”. Uma obra ao mesmo tempo realista, poética e trágica que deu origem a um filme homónimo.
Com uma prosa marcada pelos modismos e dialetos próprios da gente simples do campo, mas ao mesmo tempo dando uma demonstração do alto domínio da língua e das técnicas narrativas, Delibes relata a rotina de uma família de servos numa casa de campo.
Um mundo dividido entre os que mandam e os que obedecem. Os poderosos encarnados no "señorito" Iván, dono da fazenda e aficionado pela caça e doña Purita, mulher frívola, casada com o capataz, don Pedro, homem desafortunado que sofre a humilhação de ver a esposa, flertar com o “señorito” Iván.
A família de camponeses que trabalha em situação de escravidão é composta pelo pai, Paco "o baixo", reduzido à condição de “farejador” das caçadas do "señorito", que se gaba aos amigos da destreza do secretário; a mãe, Régula e seus quatro filhos: Nieves, menina perspicaz obrigada a servir em plena adolescência; Quirce, Rogelio e Charito, a caçula demente e deforme, que comparte algum sinal de ternura com Azarías, o agregado irmão de Régula, ignorante e deficiente mental, ingênuo e primitivo que canaliza sua existência e devoção a uma gralha domesticada. Eles vivem numa casa humilde a serviço dos senhores da fazenda, trabalhando, obedecendo e suportando humilhações sem se queixar.
A única aspiração do humilde casal é que seus filhos estudem para que possam ter uma vida diferente. O tempo parece ter parado dentro da ordem estabelecida: a mesma rotina de sempre, uns mandam e outros obedecem; acontecimentos familiares, caçadas e comemorações na Casa Grande.
Chegada a época de caça, Paco, que já tem uma idade avançada, sofre um acidente ao cair de uma árvore e torcer o pé quando tentava amarrar o chamariz para as aves. Mesmo sem ter se recuperado da queda, Iván o obriga a acompanhá-lo em outra caçada e Paco não consegue evitar torcer o pé novamente. Após o acidente com Paco, Iván não tem outra opção a não ser levar Azarías como assistente de caça. A caçada é um fracasso e Iván desconta a raiva na gralha do criado Azarías, matando-a com um tiro de espingarda.
O tempo passa e Azarías permanece alienado e calado. O “señorito” Iván tenta amenizar a situação e o leva novamente para a caça. Azarías sobe na árvore para amarrar o chamariz — ave amestrada para atrair outras aves — quando numa atitude desesperada faz cair o laço da corda no pescoço de seu senhor e o enforca.
O título do romance remete à inocência de Azarias e sua natureza instintiva. Seus sentimentos são tão básicos como o da ave domesticada com quem ele se identifica. A injustiça e a crueldade, no entanto, fazem com que ele perca sua inocência e assuma uma atitude de vingança.
“Los santos inocentes” constitui uma denúncia moral contra a opressão, o desprezo, a injustiça social e a incultura generalizada das classes baixas; a hierarquização brutal da sociedade que provoca a desumanização dos menos favorecidos que aceitam sua condição com resignação, levando-nos a refletir sobre a condição humana.
Com uma prosa marcada pelos modismos e dialetos próprios da gente simples do campo, mas ao mesmo tempo dando uma demonstração do alto domínio da língua e das técnicas narrativas, Delibes relata a rotina de uma família de servos numa casa de campo.
Um mundo dividido entre os que mandam e os que obedecem. Os poderosos encarnados no "señorito" Iván, dono da fazenda e aficionado pela caça e doña Purita, mulher frívola, casada com o capataz, don Pedro, homem desafortunado que sofre a humilhação de ver a esposa, flertar com o “señorito” Iván.
A família de camponeses que trabalha em situação de escravidão é composta pelo pai, Paco "o baixo", reduzido à condição de “farejador” das caçadas do "señorito", que se gaba aos amigos da destreza do secretário; a mãe, Régula e seus quatro filhos: Nieves, menina perspicaz obrigada a servir em plena adolescência; Quirce, Rogelio e Charito, a caçula demente e deforme, que comparte algum sinal de ternura com Azarías, o agregado irmão de Régula, ignorante e deficiente mental, ingênuo e primitivo que canaliza sua existência e devoção a uma gralha domesticada. Eles vivem numa casa humilde a serviço dos senhores da fazenda, trabalhando, obedecendo e suportando humilhações sem se queixar.
A única aspiração do humilde casal é que seus filhos estudem para que possam ter uma vida diferente. O tempo parece ter parado dentro da ordem estabelecida: a mesma rotina de sempre, uns mandam e outros obedecem; acontecimentos familiares, caçadas e comemorações na Casa Grande.
Chegada a época de caça, Paco, que já tem uma idade avançada, sofre um acidente ao cair de uma árvore e torcer o pé quando tentava amarrar o chamariz para as aves. Mesmo sem ter se recuperado da queda, Iván o obriga a acompanhá-lo em outra caçada e Paco não consegue evitar torcer o pé novamente. Após o acidente com Paco, Iván não tem outra opção a não ser levar Azarías como assistente de caça. A caçada é um fracasso e Iván desconta a raiva na gralha do criado Azarías, matando-a com um tiro de espingarda.
O tempo passa e Azarías permanece alienado e calado. O “señorito” Iván tenta amenizar a situação e o leva novamente para a caça. Azarías sobe na árvore para amarrar o chamariz — ave amestrada para atrair outras aves — quando numa atitude desesperada faz cair o laço da corda no pescoço de seu senhor e o enforca.
O título do romance remete à inocência de Azarias e sua natureza instintiva. Seus sentimentos são tão básicos como o da ave domesticada com quem ele se identifica. A injustiça e a crueldade, no entanto, fazem com que ele perca sua inocência e assuma uma atitude de vingança.
“Los santos inocentes” constitui uma denúncia moral contra a opressão, o desprezo, a injustiça social e a incultura generalizada das classes baixas; a hierarquização brutal da sociedade que provoca a desumanização dos menos favorecidos que aceitam sua condição com resignação, levando-nos a refletir sobre a condição humana.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
O uso do prefixo "ex" em espanhol
Em espanhol, ao contrário do que ocorre no português o prefixo “ex” no sentido de “foi e deixou de ser” une-se ao substantivo sem o hífen. Assim, por mais que a mulher queira ver o ex-marido bem longe, por exemplo, ele continuará bem juntinho “exmarido”.
Da mesma forma ocorre com: expresidente, exministro, exjugador, exestudiante, exdeportista, exenfermero, etc.
Entretanto, se a base for constituída por mais de uma palavra o prefixo “ex” se escreverá obrigatoriamente separado: ex alto cargo, ex primer ministro.
Exvicepresidente se escreverá tudo junto porque vicepresidente é uma palavra só em espanhol.
Já em português o prefixo “ex” sempre se liga ao segundo elemento por meio do hífen; assim, o homem e a mulher prometem ficar juntos até que o hífen os separe.
Da mesma forma ocorre com: expresidente, exministro, exjugador, exestudiante, exdeportista, exenfermero, etc.
Entretanto, se a base for constituída por mais de uma palavra o prefixo “ex” se escreverá obrigatoriamente separado: ex alto cargo, ex primer ministro.
Exvicepresidente se escreverá tudo junto porque vicepresidente é uma palavra só em espanhol.
Já em português o prefixo “ex” sempre se liga ao segundo elemento por meio do hífen; assim, o homem e a mulher prometem ficar juntos até que o hífen os separe.
Contagioso ou contagiante?
Apesar de serem sinônimos, “contagioso” não é exatamente a mesma coisa que ”contagiante”.
Esses dias, uma pessoa que se referia a uma afecção na pele disse: “não é contagiante”.
Ainda que ambos os termos sejam usados para referir-se algo que se espalha com facilidade, convencionou-se socialmente que “contagioso” seja usado para coisas ruins como doenças e ”contagiante”, para sentimentos, emoções e estados de ânimo.
Assim:
O sarampo, a varíola, a gripe, a meningite são “contagiosos”; e a alegria, o entusiasmo, a tristeza, o desânimo são “contagiantes”.
Apesar de não ter encontrado o termo “contagiante” no dicionário da RAE, pode-se constatar, nos meios de comunicação e na fala das pessoas, as mesmas regras para o emprego dos dois vocábulos em espanhol.
Esses dias, uma pessoa que se referia a uma afecção na pele disse: “não é contagiante”.
Ainda que ambos os termos sejam usados para referir-se algo que se espalha com facilidade, convencionou-se socialmente que “contagioso” seja usado para coisas ruins como doenças e ”contagiante”, para sentimentos, emoções e estados de ânimo.
Assim:
O sarampo, a varíola, a gripe, a meningite são “contagiosos”; e a alegria, o entusiasmo, a tristeza, o desânimo são “contagiantes”.
Apesar de não ter encontrado o termo “contagiante” no dicionário da RAE, pode-se constatar, nos meios de comunicação e na fala das pessoas, as mesmas regras para o emprego dos dois vocábulos em espanhol.
Verbos de cambio
Os “verbos de cambio” são os verbos e perífrases verbais que denotam mudança ou transformação. Os principais “verbos de cambio” são: ponerse, volverse, quedarse, hacerse, convertirse en e a locução llegar a ser.
PONERSE
Indica uma mudança rápida, um estado temporário, de ânimo, aspecto, saúde, comportamento, cor. Constrói-se com adjetivo ou particípio, mas nunca com substantivos. Podemos traduzi-lo ao português como “ficar”.
Exemplos:
Mi vecino se puso furioso cuando le rompieron un cristal de la ventana. = Meu vizinho ficou furioso quando quebraram um vidro de sua janela.
Creo que va a llover, pues el cielo se puso negro. = Acho que vai chover, pois o céu ficou preto.
Marta se pone roja cuando habla en público. = Marta fica vermelha quando fala em público.
Mi madre se pone nerviosa cuando conduce. = Minha mãe fica nervosa quando dirige.
Também pode aparecer sem o pronome “se” com um complemento directo. Nesse caso, pode-se traduzir como “deixar”.
Tu actitud me puso de buen humor. = Sua atitude me deixou de bom humor.
Su mirada la puso nerviosa. = Seu olhar a deixou nervosa.
QUEDARSE
Esse verbo expressa o estado, geralmente permanente, em que se encontra o sujeito após a mudança. Constrói-se com adjetivo ou particípio. Também pode ser traduzido como “ficar”.
La madre del vecino se quedó viuda. = A mãe do vizinho ficou viúva.
Después del accidente, se quedó cojo. = Depois do acidente, ficou manco.
La casa se quedó vacía después de que todos se marcharon. = A casa ficou vazia depois de que todos foram embora.
Se quedó sordo a causa de la enfermedad. = Ficou surdo por causa da doença.
Também pode expressar o estado como resultado final de um processo:
Tras encender la televisión, la lucecilla se quedará roja. = Após ligar a televisão, a luzinha ficará vermelha.
El trabajo quedó perfecto. = O trabalho ficou perfeito.
La comida quedó muy rica. = A comida ficou muito gostosa.
Después del estallido de los fuegos, el perro se quedó muy asustado. = Após a explosão dos fogos, o cachorro ficou muito assustado.
VOLVERSE
Expressa a condição resultado de uma transformação rápida, porém mais duradoura. Constrói-se com adjetivo ou substantivo. Com substantivos também se utiliza a construção “convertirse en”. Pode ser traduzido ao português, como “ficar”, “transformar-se” ou “tornar-se”.
Después de quedarse viudo, se volvió un hombre solitario. = Depois de ficar viúvo, tornou-se um homem solitário.
Si los problemas persisten, el proyecto se volverá un fracaso. = Se os problemas persistirem, o projeto será um fracasso.
Después que lo promovieron, se volvió muy arrogante. = Depois de ser promovido, tornou-se muito arrogante.
Constrói-se sem o pronome reflexivo “se” quando faz parte de construções em que há um complemento direto. Nesse caso, pode ser traduzido como “deixar”.
Los celos lo vuelven loco. = Os ciúmes o deixam louco.
La timidez lo volvió introspectivo. = A timidez o deixou introspectivo.
HACERSE
Expressa mudança, geralmente progressiva, mas não expressa estado. Constrói-se com adjetivo ou substantivo. Também pode ser traduzido ao português como “ficar”.
Con el paso de los años, ocurrió lo inevitable: se hicieron viejos. = Com a passagem dos anos, ocorreu o inevitável: ficaram velhos.
Se hicieron ricos explotando a los demás. = Ficaram ricos explorando os outros.
Diferente das construções com “volverse” que indica uma mudança brusca, rápida, o verbo “hacerse” indica uma mudança gradual. Em português esse matiz de tempo fica imperceptível, pois o verbo “ficar” tanto pode indicar uma mudança repentina, quanto uma mudança gradativa.
Él se hizo rico (trabajando mucho) = Ele ficou rico.
Él se ha vuelto rico (le tocó la lotería) = Ele ficou rico.
Quando o verbo “hacerse” é usado com adjetivos absolutos (que não possuem contrários ou grau), expressa voluntariedade e esforço. Pode traduzir-se ao português como “tornar-se” (quando indica esforço, atitudes concretas para realizar a mudança) ou “virar” (quando indica um modo de se sentir, empatia).
Él se hizo médico (con muchos estudios y esfuerzo) . = Ele tornou-se médico.
Me hice brasileña (me naturalicé) . = Tornei-me brasileira.
Me volví brasileña (me siento brasileña) . = Virei brasileira.
Él se hizo socialista (se asoció al partido) . = Tornou-se socialista.
Él se ha vuelto socialista (se identifica con la ideología) . = Virou socialista.
CONVERTIRSE EN
Quando as mudanças são radicais, usamos “convertirse”. Pode ser traduzido por tornar-se ou transformar-se.
De pronto, el alboroto se convirtió en silencio. = De repente, o barulho transformou-se em silêncio.
Después del desastre nuclear de Fukushima, la ciudad se convirtió en una ciudad fantasma. = Depois do desastre nuclear de Fukushima, a cidade transformou-se numa cidade fantasma.
O verbo converter também se usa para indicar uma mudança de ideologia ou de crença religiosa, tanto em português quanto em espanhol.
Se convirtió al budismo. = Converteu-se ao budismo.
Algunos ascéticos se convirtieron a las teorías positivistas. = Alguns céticos converteram-se às teorias positivistas.
Tras el beso de la princesa, la rana se convirtió en príncipe = Após o beijo da princesa, a rã se transformou em príncipe.
Também serve para indicar mudanças no âmbito da vida pública:
Barack Obama se convirtió en el primer presidente afroamericano de Estados Unidos = Barack Obama se tornou o primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos.
TRANSFORMARSE EN
A construção transformarse + en + substantivo serve para uma mudança na substância física que constitui um ente.
A 0º el agua se transforma en hielo = A 0º a água se transforma em gelo
Se ha presentado una mutación que transformó al hongo en una forma más agresiva = Apresentou-se uma mutação que transformou o fungo numa forma mais agressiva
Con el paso del tiempo, el vino se transforma en vinagre = Com o passar do tempo, o vinho se transforma em vinagre
LLEGAR A SER
Esta locução é acompanhada de adjetivo ou substantivo e indica mudanças que são fruto de um esforço ou de um processo prolongado.
Su empresa llegó a ser líder en el sector de tecnología = Sua empresa chegou a ser lider no setor de tecnologia.
Después de veinte años de dedicación, llego a ser director de la compañía = Após vinte anos de dedicação, chegou a ser diretor da empresa.
Observação: Em algumas orações é possível comutar "verbos de cambio" como por exemplo em "Con el paso del tiempo, el vino se transforma en vinagre / Con el paso del tiempo, el vino se convierte en vinagre / Con el paso del tiempo, el vino se vuelve vinagre".
A página do Ministério de Educación, Cultura y Deporte da Espanha disponibiliza um projeto de mestrado intitulado "Alicia en el país de los verbos de cambio", de Elisabeth Correia, que explica muito bem as particularidades e usos dos verbos de cambio. Para acessar o documento, clique aqui.
Segue abaixo mais um excelente material sobre os verbos de cambio, com abundantes exemplos:
verbos de cambio
PONERSE
Indica uma mudança rápida, um estado temporário, de ânimo, aspecto, saúde, comportamento, cor. Constrói-se com adjetivo ou particípio, mas nunca com substantivos. Podemos traduzi-lo ao português como “ficar”.
Exemplos:
Mi vecino se puso furioso cuando le rompieron un cristal de la ventana. = Meu vizinho ficou furioso quando quebraram um vidro de sua janela.
Creo que va a llover, pues el cielo se puso negro. = Acho que vai chover, pois o céu ficou preto.
Marta se pone roja cuando habla en público. = Marta fica vermelha quando fala em público.
Mi madre se pone nerviosa cuando conduce. = Minha mãe fica nervosa quando dirige.
Também pode aparecer sem o pronome “se” com um complemento directo. Nesse caso, pode-se traduzir como “deixar”.
Tu actitud me puso de buen humor. = Sua atitude me deixou de bom humor.
Su mirada la puso nerviosa. = Seu olhar a deixou nervosa.
QUEDARSE
Esse verbo expressa o estado, geralmente permanente, em que se encontra o sujeito após a mudança. Constrói-se com adjetivo ou particípio. Também pode ser traduzido como “ficar”.
La madre del vecino se quedó viuda. = A mãe do vizinho ficou viúva.
Después del accidente, se quedó cojo. = Depois do acidente, ficou manco.
La casa se quedó vacía después de que todos se marcharon. = A casa ficou vazia depois de que todos foram embora.
Se quedó sordo a causa de la enfermedad. = Ficou surdo por causa da doença.
Também pode expressar o estado como resultado final de um processo:
Tras encender la televisión, la lucecilla se quedará roja. = Após ligar a televisão, a luzinha ficará vermelha.
El trabajo quedó perfecto. = O trabalho ficou perfeito.
La comida quedó muy rica. = A comida ficou muito gostosa.
Después del estallido de los fuegos, el perro se quedó muy asustado. = Após a explosão dos fogos, o cachorro ficou muito assustado.
VOLVERSE
Expressa a condição resultado de uma transformação rápida, porém mais duradoura. Constrói-se com adjetivo ou substantivo. Com substantivos também se utiliza a construção “convertirse en”. Pode ser traduzido ao português, como “ficar”, “transformar-se” ou “tornar-se”.
Después de quedarse viudo, se volvió un hombre solitario. = Depois de ficar viúvo, tornou-se um homem solitário.
Si los problemas persisten, el proyecto se volverá un fracaso. = Se os problemas persistirem, o projeto será um fracasso.
Después que lo promovieron, se volvió muy arrogante. = Depois de ser promovido, tornou-se muito arrogante.
Constrói-se sem o pronome reflexivo “se” quando faz parte de construções em que há um complemento direto. Nesse caso, pode ser traduzido como “deixar”.
Los celos lo vuelven loco. = Os ciúmes o deixam louco.
La timidez lo volvió introspectivo. = A timidez o deixou introspectivo.
HACERSE
Expressa mudança, geralmente progressiva, mas não expressa estado. Constrói-se com adjetivo ou substantivo. Também pode ser traduzido ao português como “ficar”.
Con el paso de los años, ocurrió lo inevitable: se hicieron viejos. = Com a passagem dos anos, ocorreu o inevitável: ficaram velhos.
Se hicieron ricos explotando a los demás. = Ficaram ricos explorando os outros.
Diferente das construções com “volverse” que indica uma mudança brusca, rápida, o verbo “hacerse” indica uma mudança gradual. Em português esse matiz de tempo fica imperceptível, pois o verbo “ficar” tanto pode indicar uma mudança repentina, quanto uma mudança gradativa.
Él se hizo rico (trabajando mucho) = Ele ficou rico.
Él se ha vuelto rico (le tocó la lotería) = Ele ficou rico.
Quando o verbo “hacerse” é usado com adjetivos absolutos (que não possuem contrários ou grau), expressa voluntariedade e esforço. Pode traduzir-se ao português como “tornar-se” (quando indica esforço, atitudes concretas para realizar a mudança) ou “virar” (quando indica um modo de se sentir, empatia).
Él se hizo médico (con muchos estudios y esfuerzo) . = Ele tornou-se médico.
Me hice brasileña (me naturalicé) . = Tornei-me brasileira.
Me volví brasileña (me siento brasileña) . = Virei brasileira.
Él se hizo socialista (se asoció al partido) . = Tornou-se socialista.
Él se ha vuelto socialista (se identifica con la ideología) . = Virou socialista.
CONVERTIRSE EN
Quando as mudanças são radicais, usamos “convertirse”. Pode ser traduzido por tornar-se ou transformar-se.
De pronto, el alboroto se convirtió en silencio. = De repente, o barulho transformou-se em silêncio.
Después del desastre nuclear de Fukushima, la ciudad se convirtió en una ciudad fantasma. = Depois do desastre nuclear de Fukushima, a cidade transformou-se numa cidade fantasma.
O verbo converter também se usa para indicar uma mudança de ideologia ou de crença religiosa, tanto em português quanto em espanhol.
Se convirtió al budismo. = Converteu-se ao budismo.
Algunos ascéticos se convirtieron a las teorías positivistas. = Alguns céticos converteram-se às teorias positivistas.
Tras el beso de la princesa, la rana se convirtió en príncipe = Após o beijo da princesa, a rã se transformou em príncipe.
Também serve para indicar mudanças no âmbito da vida pública:
Barack Obama se convirtió en el primer presidente afroamericano de Estados Unidos = Barack Obama se tornou o primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos.
TRANSFORMARSE EN
A construção transformarse + en + substantivo serve para uma mudança na substância física que constitui um ente.
A 0º el agua se transforma en hielo = A 0º a água se transforma em gelo
Se ha presentado una mutación que transformó al hongo en una forma más agresiva = Apresentou-se uma mutação que transformou o fungo numa forma mais agressiva
Con el paso del tiempo, el vino se transforma en vinagre = Com o passar do tempo, o vinho se transforma em vinagre
LLEGAR A SER
Esta locução é acompanhada de adjetivo ou substantivo e indica mudanças que são fruto de um esforço ou de um processo prolongado.
Su empresa llegó a ser líder en el sector de tecnología = Sua empresa chegou a ser lider no setor de tecnologia.
Después de veinte años de dedicación, llego a ser director de la compañía = Após vinte anos de dedicação, chegou a ser diretor da empresa.
Observação: Em algumas orações é possível comutar "verbos de cambio" como por exemplo em "Con el paso del tiempo, el vino se transforma en vinagre / Con el paso del tiempo, el vino se convierte en vinagre / Con el paso del tiempo, el vino se vuelve vinagre".
A página do Ministério de Educación, Cultura y Deporte da Espanha disponibiliza um projeto de mestrado intitulado "Alicia en el país de los verbos de cambio", de Elisabeth Correia, que explica muito bem as particularidades e usos dos verbos de cambio. Para acessar o documento, clique aqui.
Segue abaixo mais um excelente material sobre os verbos de cambio, com abundantes exemplos:
verbos de cambio
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Alguns regionalismos divertidos
Outro dia, durante
um bate-papo entre amigos, as crianças pediram
dinheiro aos pais para comprar fichas para jogar pebolim.
Subitamente surgiu uma série de
nomes para o tal jogo de mesa. Eu, como observadora linguística que sou,
já fui armazenando as informações em minha “caixola” para um posterior registro.
Tradutor que se preza registra tudo, pois nunca se sabe quando pode precisar.
Segue uma lista dos nomes dados ao futebol
de mesa:
Totó: Rio, Minas Gerais, Norte e Nordeste
Pebolim: Paraná e São Paulo
Pacau: Santa Catarina
Fla-Flu: Rio Grande do Sul
E pelo mundo afora:
Portugal: Matraquilhos
Argentina: Metegol
Espanha: Futbolín
Estados Unidos: Foosball
Alemanha: Tischfussbal
França: Baby-foot
E depois, não sei como, começou uma
nova demonstração da nossa diversidade linguística ao falar daqueles sucos
gelados vendidos em sacolinhas, o picolé mais popular e adorado pela criançada
(e pelos adultos também!).
Segue a lista de denominações da “guloseima”:
Geladinho: Bahia, São Paulo
Chup-chup: Minas Gerais, Santa
Catarina
Sacolé: Rio de Janeiro, Porto Alegre
Dim-dim: Ceará, Nordeste
Flau: Pará, Nordeste
Chopp: Belém do Pará
Chopp: Belém do Pará
E pela América Latina afora:
Colombia: boli
Venezuela: chupichupi, bambino, duro
frío, polito
Perú: chup o marciano
E o semáforo, já reparou nos nomes
usados pelo Brasil afora?
Sinal: Paraná, Minas Gerais
Farol: São Paulo
Sinaleira: Santa Catarina, Rio
Grande do Sul, Paraná, Nordeste
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Toledo
Toledo é uma cidade espanhola localizada na comunidade de Castilla-La Mancha a 70 quilômetros de Madrid. Declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1986, está assentada numa colina rochosa rodeada pelo rio Tajo.
Visitar Toledo é como fazer uma viagem no tempo e voltar para a Idade Média. Toledo é uma cidade cercada de muralhas de pedra que foi ocupada e habitada por numerosas civilizações, das quais conserva marcas na arquitetura, história e cultura: celtiberos, romanos, visigodos e árabes. O primeiro documento histórico sobre sua existência é de Tito Livio, que já a descrevia como uma pequena cidade fortificada.
As três culturas das três religiões monoteístas - a muçulmana, a hebraica e a cristã – deixaram um patrimônio arquitetônico e artístico milenário e incomparável: igrejas, sinagogas, mesquitas, conventos, muralhas, pontes, torres e uma infinidade de combinações culturais e artísticas que fazem da cidade um museu a céu aberto.
As estreitas ruelas de pedra, as praças, os jardins, os sobrados com suas pequenas sacadas enfeitadas com flores e grades de ferro trabalhado, tudo isso rodeado por uma belíssima paisagem fazem da visita a Toledo uma experiência fascinante.
A história da cidade remete à Idade do Bronze. Cidade de origem celtibérica, era habitada pelos carpetanos, e passou a ser uma das mais importantes conquistas de Roma no ano 192 a. C. Foi batizada pelos romanos como Toletum. Sua posição estratégica: elevada sobre um rochedo e cercada pelo rio Tajo, fez com que fosse protagonista como capital do reino durante a fase visigoda, do século VI ao VIII.
Durante três séculos o Reino Visigodo de Toledo atravessaria por momentos de esplendor e de dificuldades políticas. A batalha de Guadalete, em 711, pôs fim ao domínio visigodo para dar lugar às tropas berberes. Dom Rodrigo, último rei godo, foi derrotado pelos muçulmanos liderados por Tarik. A mudança provocou também o traslado da capital de Toledo para Córdova.
No século XI, Toledo transformou-se num importante Reino Taifa após a segregação do califado cordovês. O ressurgimento das artes e das ciências recupera para a cidade certo protagonismo cultural. Em 1085 o cristianismo estabeleceu-se com a reconquista de Toledo pelo rei Alfonso VI.
Após a reconquista, e fruto da confluência das três religiões, a cidade adquiriu o apelativo de Cidade das Três Culturas. As comunidades cristã, judaica e muçulmana enriqueceram a cidade com seu conhecimento e tradições. A Escola de Tradutores de Toledo, impulsionada pelo rei Alfonso X, o Sábio, no século XIII, tornou disponíveis grandes trabalhos acadêmicos e filosóficos originalmente produzidos em árabe e hebraico ao traduzi-los para o latim, disponibilizando pela primeira vez uma grande quantidade de conhecimentos para a Europa.
Durante a Idade Média, Toledo experimentou um crescimento progressivo econômico e cultural. Durante a idade moderna a cidade destacou-se como sede dos Reis Católicos e por sua participação na Guerra das Comunidades de Castela. Quando a corte transladou-se para Madri em 1563 a cidade entrou em decadência, acentuada pela crise econômica do momento. Já em época contemporânea, Toledo e mais concretamente seu Alcácer transformou-se num símbolo da Guerra Civil durante seu longo Assédio do Alcácer. Em 1983 a cidade passou a ser capital da comunidade de Castilla-La Mancha.
Quanto à cultura, destacam-se o Monastério de San Juan de los Reyes, gótico isabelino do século XV, e a Catedral de Santa María, de estilo gótico do século XIII. Toledo também foi o lugar de nascimento ou residência de artistas como Garcilaso de la Vega o El Greco entre outros.
Visitar Toledo é como fazer uma viagem no tempo e voltar para a Idade Média. Toledo é uma cidade cercada de muralhas de pedra que foi ocupada e habitada por numerosas civilizações, das quais conserva marcas na arquitetura, história e cultura: celtiberos, romanos, visigodos e árabes. O primeiro documento histórico sobre sua existência é de Tito Livio, que já a descrevia como uma pequena cidade fortificada.
As três culturas das três religiões monoteístas - a muçulmana, a hebraica e a cristã – deixaram um patrimônio arquitetônico e artístico milenário e incomparável: igrejas, sinagogas, mesquitas, conventos, muralhas, pontes, torres e uma infinidade de combinações culturais e artísticas que fazem da cidade um museu a céu aberto.
As estreitas ruelas de pedra, as praças, os jardins, os sobrados com suas pequenas sacadas enfeitadas com flores e grades de ferro trabalhado, tudo isso rodeado por uma belíssima paisagem fazem da visita a Toledo uma experiência fascinante.
A história da cidade remete à Idade do Bronze. Cidade de origem celtibérica, era habitada pelos carpetanos, e passou a ser uma das mais importantes conquistas de Roma no ano 192 a. C. Foi batizada pelos romanos como Toletum. Sua posição estratégica: elevada sobre um rochedo e cercada pelo rio Tajo, fez com que fosse protagonista como capital do reino durante a fase visigoda, do século VI ao VIII.
Durante três séculos o Reino Visigodo de Toledo atravessaria por momentos de esplendor e de dificuldades políticas. A batalha de Guadalete, em 711, pôs fim ao domínio visigodo para dar lugar às tropas berberes. Dom Rodrigo, último rei godo, foi derrotado pelos muçulmanos liderados por Tarik. A mudança provocou também o traslado da capital de Toledo para Córdova.
No século XI, Toledo transformou-se num importante Reino Taifa após a segregação do califado cordovês. O ressurgimento das artes e das ciências recupera para a cidade certo protagonismo cultural. Em 1085 o cristianismo estabeleceu-se com a reconquista de Toledo pelo rei Alfonso VI.
Durante a Idade Média, Toledo experimentou um crescimento progressivo econômico e cultural. Durante a idade moderna a cidade destacou-se como sede dos Reis Católicos e por sua participação na Guerra das Comunidades de Castela. Quando a corte transladou-se para Madri em 1563 a cidade entrou em decadência, acentuada pela crise econômica do momento. Já em época contemporânea, Toledo e mais concretamente seu Alcácer transformou-se num símbolo da Guerra Civil durante seu longo Assédio do Alcácer. Em 1983 a cidade passou a ser capital da comunidade de Castilla-La Mancha.
Quanto à cultura, destacam-se o Monastério de San Juan de los Reyes, gótico isabelino do século XV, e a Catedral de Santa María, de estilo gótico do século XIII. Toledo também foi o lugar de nascimento ou residência de artistas como Garcilaso de la Vega o El Greco entre outros.
Precisar ou precisar de?
No português atual o verbo precisar no sentido de “ter necessidade de” constrói-se normalmente como transitivo indireto regido da preposição “de” quando o complemento é um substantivo ou pronome e transitivo direto quando o complemento é um verbo no infinitivo.
Coloca-se a preposição diante de substantivos ou pronomes:
Ele precisa de um aumento.
A educação precisa de mais investimentos.
Precisamos de paciência.
Preciso de você.
Não se coloca a preposição “de” quando o complemento do verbo precisar é um verbo no infinitivo:
O médico precisa examinar o paciente para dar o diagnóstico.
O candidato precisa passar no vestibular para entrar na Universidade.
Você precisa alimentar-se melhor.
Precisamos preservar nossa história.
Só para frisar, lembre-se da música do Tim Maia: “Eu preciso te falar, te encontrar de qualquer jeito” e não: “Eu precisode te falar, de te encontrar de qualquer jeito”.
Também não se coloca a preposição “de” diante de complemento oracional (oração subordinada):
Precisava que lhe dessem um aumento.
Preciso que me expliquem o que está acontecendo aqui.
No espanhol peninsular é mais comum o uso do verbo “necesitar” que se constrói normalmente como intransitivo, sem a preposição “de” tanto diante de complemento como diante de verbo no infinitivo:
Él necesita un aumento.
Necesitamos preservar nuestra historia.
Necesitas alimentarte mejor. / Tienes que alimentarte mejor.
O verbo “precisar” pode construir-se como transitivo:
El niño precisa la autorización de la maestra para salir de la clase ou, como intransitivo, diante de um complemento: Ella no precisaba de nada ni de nadie.
Quando o complemento for um verbo no infinitivo ou uma oração subordinada, somente é possível a construção transitiva:
Precisamos aprender bien la lección para seguir adelante.
Ella precisa que le expliquen todo detalladamente.
Coloca-se a preposição diante de substantivos ou pronomes:
Ele precisa de um aumento.
A educação precisa de mais investimentos.
Precisamos de paciência.
Preciso de você.
Não se coloca a preposição “de” quando o complemento do verbo precisar é um verbo no infinitivo:
O médico precisa examinar o paciente para dar o diagnóstico.
O candidato precisa passar no vestibular para entrar na Universidade.
Você precisa alimentar-se melhor.
Precisamos preservar nossa história.
Só para frisar, lembre-se da música do Tim Maia: “Eu preciso te falar, te encontrar de qualquer jeito” e não: “Eu preciso
Também não se coloca a preposição “de” diante de complemento oracional (oração subordinada):
Precisava que lhe dessem um aumento.
Preciso que me expliquem o que está acontecendo aqui.
No espanhol peninsular é mais comum o uso do verbo “necesitar” que se constrói normalmente como intransitivo, sem a preposição “de” tanto diante de complemento como diante de verbo no infinitivo:
Él necesita un aumento.
Necesitamos preservar nuestra historia.
Necesitas alimentarte mejor. / Tienes que alimentarte mejor.
O verbo “precisar” pode construir-se como transitivo:
El niño precisa la autorización de la maestra para salir de la clase ou, como intransitivo, diante de um complemento: Ella no precisaba de nada ni de nadie.
Quando o complemento for um verbo no infinitivo ou uma oração subordinada, somente é possível a construção transitiva:
Precisamos aprender bien la lección para seguir adelante.
Ella precisa que le expliquen todo detalladamente.
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
O Relógio de Ouro, Machado de Assis
El Reloj de Oro
tradução: Diana Margarita
Ahora contaré la historia del reloj de oro. Era un gran cronómetro, completamente nuevo, colgado a una elegante cadena. Luís Negreiros tenía mucha razón en quedarse boquiabierto cuando vio el reloj en casa, un reloj que no era de él, ni podía ser de su mujer. ¿Sería ilusión de sus ojos? No lo era: el reloj allí estaba sobre una mesa de la habitación, mirándole, tal vez tan admirado, como él, del lugar y de la situación.
Clarinha no estaba en la habitación cuando Luís Negreiros allí entró. Se quedó en la sala, hojeando una novela, sin corresponder mucho ni poco al ósculo con que el marido la saludó al entrar. Era una linda joven esta Clarinha, aunque un poco pálida, o quizá por eso mismo. Era pequeña y delgada; de lejos parecía una niña; de cerca, quien le observara los ojos, vería bien que era mujer como pocas. Estaba blandamente recostada en el sofá, con el libro abierto, y los ojos en el libro, los ojos tan solo, porque el pensamiento, no estoy seguro si estaba en el libro, si en otra parte. En todo caso, parecía ajena al marido y al reloj.
Luís Negreiros se sirvió del reloj con una expresión que yo no me atrevo a describir. Ni el reloj, ni la cadena eran de él; tampoco eran de personas que él conociera. Se trataba de un enigma. A Luís Negreiros le gustaban los enigmas, y pasaba por ser descifrador intrépido; pero le gustaban los enigmas en los almanaques o en los periódicos. Adivinanzas palpables o cronométricas, y sobre todo sin sentencia, no las apreciaba Luís Negreiros.
Por ese motivo, y otros que son obvios, comprenderá el lector que el esposo de Clarinha se dejara caer en una silla, se tirara rabiosamente del pelo, pateara el suelo, y lanzara el reloj y la cadena sobre la mesa. Terminada esta primera manifestación de furia, Luís Negreiros cogió nuevamente los fatales objetos, y de nuevo los examinó. Se quedó igual. Cruzó los brazos durante algún tiempo y reflexionó sobre el caso, interrogó a todos sus recuerdos, y concluyó al fin de todo que, sin una explicación de Clarinha cualquier procedimiento seria en vano o precipitado.
Fue a hablar con ella.
Clarinha acababa justamente de leer una página y pasaba la hoja con el aire indiferente y tranquilo de quien no piensa en descifrar enigmas de cronómetro. Luís Negreiros la encaró; sus ojos parecían dos relucientes puñales.
—¿Qué te pasa? — preguntó la joven con la voz dulce y tierna que toda la gente le encontraba.
Luís Negreiros no respondió a la interrogación de la mujer; la miró durante algún tiempo; después dio dos vueltas por la sala, pasándose la mano por el pelo, de modo que la joven otra vez le preguntó:
—¿Qué te pasa?
Luís Negreiros se paró delante de ella.
—¿Qué es esto? — dijo él sacándose del bolsillo el fatal reloj y presentándoselo delante de los ojos. —¿Qué es esto? — repitió él con voz de trueno.
Clarinha se mordió los labios y no respondió. Luís Negreiros mantuvo durante algún tiempo el reloj en la mano y los ojos en la mujer, que tenía los suyos en el libro. El silencio era profundo. Luís Negreiros fue el primero en romperló, tirando estrepitosamente el reloj al suelo, y diciéndole en seguida a su esposa:
—¿Vamos, de quién es ese reloj?
Clarinha alzó lentamente los ojos hacia él, los bajó después, y musitó:
—No lo sé.
Luís Negreiros hizo un gesto como de quien quisiera estrangularla; se contuvo. La mujer se levantó, tomó el reloj y lo puso sobre una mesa pequeña. No pudo contenerse Luís Negreiros. Caminó hacia ella, y, apretándole los pulsos con fuerza, le dijo:
—¿No vas a responderme, demonio? ¿No vas a explicarme este enigma?
Clarinha hizo un gesto de dolor, y Luís Negreiros inmediatamente le soltó los pulsos que estaban amoratados. En otras circunstancias es probable que Luís Negreiros se le tirara a los pies y le pidiera perdón por haberle lastimado. En aquella, ni se acordó de ello; la dejó en el medio de la sala y empezó a pasear de nuevo, siempre agitado, parando de vez en cuando, como si meditara algún desenlace trágico.
Clarinha salió de la sala.
Poco después vino un esclavo a decirle que la cena estaba puesta.
—¿Dónde está la señora?
—No lo sé, señor.
Luís Negreiros fue a buscar a la mujer, la encontró en una salita de costura sentada en una silla baja, con la cabeza entre las manos, sollozando. Al oír el ruido que él hizo en la ocasión de cerrar la puerta detrás de sí, Clarinha alzó la cabeza, y Luís Negreiros pudo verle el rostro húmedo de lágrimas. Esta situación fue aún peor para él que la de la sala. Luís Negreiros no podía ver llorar a una mujer, sobre todo a la suya. Iba a secarle las lágrimas con un beso, pero reprimió el gesto, y caminó frío hacia ella: tomó una silla y se sentó delante de Clarinha.
—Estoy tranquilo, como ves, dijo él, respóndeme a lo que te pregunté con la franqueza que siempre usaste conmigo. Yo no te acuso ni sospecho nada de ti. Simplemente quisiera saber cómo apareció allí aquel reloj. ¿Fue tu padre el que lo olvidó aquí?
—No.
—Pero entonces…
—¡Oh, no me preguntes nada! exclamó Clarinha; ignoro cómo ese reloj se encuentra allí… No sé de quién es… déjame.
—¡Es demasiado! — rugió Luís Negreiros, levantándose y tirando la silla al suelo.
Clarinha se estremeció, y se quedó donde estaba. La situación se volvía cada vez más grave; Luís Negreiros paseaba cada vez más agitado, girando los ojos en las órbitas, y pareciendo presto a tirarse sobre la infeliz esposa. Esta, con los codos en el regazo y la cabeza entre las manos, tenía los ojos clavados en la pared. Pasó así cerca de un cuarto de hora. Luís Negreiros iba de nuevo a interrogar a la esposa, cuando oyó la voz del suegro, que subía las escaleras gritando:
—¡Eh, don Luís! ¡Oye, pillo!
—¡Ahí viene tu padre! —dijo Luís Negreiros—; luego me las pagarás.
Salió de la sala de costura y fue a recibir al suegro, que ya estaba en el medio de la sala, jugueteando con la sombrilla, con gran riesgo de los jarrones y del candelabro.
—¿Ustedes estaban durmiendo? preguntó el señor Meireles quitándose el sombrero y limpiándose la frente con un gran pañuelo rojo.
—No, señor, estábamos conversando…
—¿Conversando?… repitió Meireles.
Y añadió consigo:
—Estaban discutiendo… es lo que ha de ser.
—Vamos justamente a cenar, dijo Luís Negreiros. ¿Cena con nosotros?
—No vine aquí para otra cosa —acudió Meireles— ceno hoy y mañana también. No me invitaste, pero da igual.
—¿No le invité?…
—Sí, ¿no cumples años mañana?
— ¡Ah! es cierto…
No había razón aparente para que, después de estas palabras dichas con un tono lúgubre, Luís Negreiros las repitiera, pero esta vez con un tono descomunalmente alegre:
—¡Ah, es cierto!…
Meireles, que ya iba a poner el sombrero en un perchero del pasillo, se dio la vuelta asombrado hacia el yerno, en cuya cara leyó la más franca, súbita e inexplicable alegría.
—¡Está loco! —musitó Meireles.
—Vamos a cenar —bramó el yerno, yendo luego hacia adentro, mientras Meireles, siguiendo por el pasillo, iba al comedor.
Luís Negreiros fue a encontrar a la mujer en la sala de costura, y la encontró de pie, arreglándose el pelo delante de un espejo:
—Gracias —le dijo.
La joven lo miró admirada.
—Gracias —repitió Luís Negreiros—; gracias y perdóname.
Diciendo esto, intentó Luís Negreiros abrazarla; pero la joven, con un gesto noble, rechazó la caricia del marido y se fue al comedor.
—¡Tiene razón! —musitó Luís Negreiros.
Dentro de poco se encontraban los tres a la mesa de cenar, y se sirvió la sopa, que Meireles encontró, como era natural, helada. Ya iba a hacer un discurso a respecto de la incuria de los criados, cuando Luís Negreiros confesó que toda la culpa era suya, porque la cena estaba hace mucho sobre la mesa. La declaración tan solo cambió el tema del discurso, que versó entonces sobre la terrible cosa que era una cena recalentada — qui ne valut jamais rien.
Meireles era un hombre alegre, chistoso, quizá demasiado frívolo para la edad, pero, en todo caso, interesante persona. Luís Negreiros le quería mucho, y veía correspondido ese afecto de pariente y de amigo, tanto más sincero cuanto que Meireles solo tarde y de mala gana le concedió la mano de la hija. Duró el noviazgo cerca de cuatro años, gastando el padre de Clarinha más de dos en meditar y resolver el asunto del casamiento. Al fin dio su decisión, convencido antes por las lágrimas de la hija que por los predicados del yerno, decía él.
La causa de la larga vacilación eran las costumbres poco austeras de Luís Negreiros, no las que él tenía durante el noviazgo, pero las que tuvo antes y las que podría tener después. Meireles confesaba ingenuamente que había sido un marido poco ejemplar, y creía que por eso mismo debía darle a la hija mejor esposo que él. Luís Negreiros desmintió las aprensiones del suegro; el león impetuoso de los otros días, se convirtió en un pacato cordero. La amistad nació franca entre el suegro y el yerno, y Clarinha pasó a ser una de las más envidiadas jóvenes de la ciudad.
Y tal era el mérito de Luís Negreiros cuanto que no le faltaban tentaciones. El diablo se metía a veces en la piel de un amigo y lo invitaba a recordar los antiguos tiempos. Pero Luís Negreiros decía que se había retirado a un buen puerto y que no quería arriesgarse otra vez a las tormentas del alto mar.
Clarinha amaba tiernamente al marido, y era la más dócil y afable criatura que por aquellos tiempos respiraba el aire fluminense. Nunca entre ambos ocurrió el menor desentendimiento; la limpidez del cielo conyugal era siempre la misma y parecía que sería duradera. ¿Qué mal destino le sopló allí la primera nube?
Durante la cena Clarinha no dijo palabra — o pocas dijo y aún así las más breves y en tono seco.
—Están enfadados, no hay duda —pensó Meireles al ver la pertinaz mudez de la hija—. O la enfadada es solo ella, porque él me parece alegre.
Luís Negreiros efectivamente se desdoblaba en agrados, mimos y cortesías con la mujer, que ni siquiera lo miraba completamente. El marido ya daba el suegro a todos los diablos, deseoso de quedarse a solas con la esposa, para la explicación última, que reconciliaría los ánimos. Clarinha no parecía desearlo; comió poco y dos o tres veces se le soltó del pecho un suspiro.
Ya se ve que la cena, por mayores que fueran los esfuerzos, no podía ser como en los otros días. Meireles sobre todo se sentía estrecho. No que temiera algún gran acontecimiento en casa; su idea es que sin fastidios no se aprecia la felicidad, como sin tempestad no se aprecia el buen tiempo. Sin embargo, la tristeza de la hija siempre le quitaba el entusiasmo.
Cuando llegó el café, Meireles propuso que fueran los tres al teatro; Luís Negreiros aceptó la idea con entusiasmo. Clarinha la rechazó secamente.
—No te entiendo hoy, Clarinha —dijo el padre con un modo impaciente—. Tu marido está alegre y tú me pareces abatida y preocupada. ¿Qué te pasa?
Clarinha no respondió: Luís Negreiros, sin saber lo que debía decir, tomó la decisión de hacer bolitas con migas de pan. Meireles se encogió de hombros.
—Ustedes que se entiendan —dijo él—. Si mañana, a pesar de ser el día que es, siguen igual, les prometo que no me verán ni la sombra.
—¡Oh, has de venir! —iba diciendo Luís Negreiros, pero fue interrumpido por su mujer que rompió a llorar.
La cena acabó así triste y fastidiosa. Meireles la pidió al yerno que le explicara qué era aquello, y este le prometió que le diría todo en ocasión oportuna.
Poco después salía el padre de Clarinha protestando de nuevo que, si al día siguiente los hallara del mismo modo, nunca más volvería a la casa de ellos, y que si había cosa peor que una cena fría o recalentada, era una cena mal digerida. Este axioma valía el de Boileau, pero nadie le hizo caso.
Clarinha se retiró a la habitación; el marido, tan solo se despidió del suegro, fue a hablar con ella. La encontró sentada en la cama, con la cabeza sobre una almohada, y sollozando. Luís Negreiros se arrodilló delante de ella y le tomó una de las manos.
— Clarinha —dijo él— pérdoname por todo. Ya tengo la explicación del reloj; si tu padre no me hubiera hablado de venir a cenar mañana, no hubiera sido capaz de adivinar que el reloj era tu regalo de cumpleaños.
No me atrevo a describir el soberbio gesto de indignación con que la joven se incorporó al oír estas palabras do marido. Luís Negreiros la miró sin comprender nada. La joven no dijo nada; salió de la habitación y dejó al infeliz consorte más perplejo que nunca.
—¿Pero qué enigma es este? se preguntaba a sí mismo Luís Negreiros. Si no era un regalo de cumpleaños, qué explicación podría tener el tal reloj?
La situación era la misma que antes de la cena. Luís Negreiros resolvió descubrir todo aquella noche. Le pareció, sin embargo, que era conveniente reflexionar maduramente sobre el caso y tomar una resolución que fuera decisiva. Con este propósito se retiró a su despacho, y allí recordó todo lo que había sucedido desde que había llegado a casa. Analizó fríamente todas las razones, todos los incidentes, y buscó reproducir en la memoria la expresión del rostro de la joven, en toda aquella tarde. El gesto de indignación y la repulsa cuando él fue a abrazarla en la sala de costura, estaban a favor de ella; pero el movimiento con que se mordió los labios en el momento en que se le presentó el reloj, las lágrimas que le reventaron en la mesa, y más que todo el silencio que ella conservaba a respecto de la procedencia del fatal objeto, todo eso hablaba en contra de la joven.
Luís Negreiros, después de mucho cogitar, se inclinó a la más triste y deplorable de las hipótesis. Una idea mala comenzó a enterrársele en el espíritu, como una barrena, y tan hondo le penetró, que se apoderó de él en pocos instantes. Luís Negreiros era hombre furioso cuando la ocasión lo pedía. Profirió dos o tres amenazas, salió del despacho y fue a hablar con la mujer.
Clarinha se había retirado a su habitación. La puerta solo estaba cerrada. Eran las nueve de la noche. Una pequeña lamparilla iluminaba escasamente la habitación. La joven estaba otra vez sentada en la cama, pero ya no lloraba, tenía los ojos fijos en el suelo. Ni siquiera los levantó cuando sintió que el marido entraba.
Hubo un momento de silencio.
Luís Negreiros fue el primero en hablar.
—Clarinha —dijo—, este momento es solemne. Respóndeme a lo que te pregunto desde esta tarde.
La joven no respondió.
—Piénsalo bien, Clarinha —prosiguió el marido—. Puedes arriesgarte la vida.
La joven se encogió de hombros.
Una nube pasó por los ojos de Luís Negreiros. El infeliz marido lanzó las manos al regazo de la esposa y rugió:
—¡Respóndeme, demonio, o mueres!
Clarinha soltó un grito.
—¡Espera! —dijo ella.
Luís Negreiros retrocedió.
—Mátame —dijo ella—, pero lee esto primero. Cuando esta carta llegó tu oficina, tú no estabas, me lo dijo el portador.
Luís Negreiros recibió la carta, se aproximó a la lamparilla y leyó estupefacto estas líneas:
Mi nhonhô. Sé que mañana cumples años, te mando este recuerdo.
Tu Iaiá.
Así se acabó la historia del reloj de oro.
tradução: Diana Margarita
Ahora contaré la historia del reloj de oro. Era un gran cronómetro, completamente nuevo, colgado a una elegante cadena. Luís Negreiros tenía mucha razón en quedarse boquiabierto cuando vio el reloj en casa, un reloj que no era de él, ni podía ser de su mujer. ¿Sería ilusión de sus ojos? No lo era: el reloj allí estaba sobre una mesa de la habitación, mirándole, tal vez tan admirado, como él, del lugar y de la situación.
Clarinha no estaba en la habitación cuando Luís Negreiros allí entró. Se quedó en la sala, hojeando una novela, sin corresponder mucho ni poco al ósculo con que el marido la saludó al entrar. Era una linda joven esta Clarinha, aunque un poco pálida, o quizá por eso mismo. Era pequeña y delgada; de lejos parecía una niña; de cerca, quien le observara los ojos, vería bien que era mujer como pocas. Estaba blandamente recostada en el sofá, con el libro abierto, y los ojos en el libro, los ojos tan solo, porque el pensamiento, no estoy seguro si estaba en el libro, si en otra parte. En todo caso, parecía ajena al marido y al reloj.
Luís Negreiros se sirvió del reloj con una expresión que yo no me atrevo a describir. Ni el reloj, ni la cadena eran de él; tampoco eran de personas que él conociera. Se trataba de un enigma. A Luís Negreiros le gustaban los enigmas, y pasaba por ser descifrador intrépido; pero le gustaban los enigmas en los almanaques o en los periódicos. Adivinanzas palpables o cronométricas, y sobre todo sin sentencia, no las apreciaba Luís Negreiros.
Por ese motivo, y otros que son obvios, comprenderá el lector que el esposo de Clarinha se dejara caer en una silla, se tirara rabiosamente del pelo, pateara el suelo, y lanzara el reloj y la cadena sobre la mesa. Terminada esta primera manifestación de furia, Luís Negreiros cogió nuevamente los fatales objetos, y de nuevo los examinó. Se quedó igual. Cruzó los brazos durante algún tiempo y reflexionó sobre el caso, interrogó a todos sus recuerdos, y concluyó al fin de todo que, sin una explicación de Clarinha cualquier procedimiento seria en vano o precipitado.
Fue a hablar con ella.
Clarinha acababa justamente de leer una página y pasaba la hoja con el aire indiferente y tranquilo de quien no piensa en descifrar enigmas de cronómetro. Luís Negreiros la encaró; sus ojos parecían dos relucientes puñales.
—¿Qué te pasa? — preguntó la joven con la voz dulce y tierna que toda la gente le encontraba.
Luís Negreiros no respondió a la interrogación de la mujer; la miró durante algún tiempo; después dio dos vueltas por la sala, pasándose la mano por el pelo, de modo que la joven otra vez le preguntó:
—¿Qué te pasa?
Luís Negreiros se paró delante de ella.
—¿Qué es esto? — dijo él sacándose del bolsillo el fatal reloj y presentándoselo delante de los ojos. —¿Qué es esto? — repitió él con voz de trueno.
Clarinha se mordió los labios y no respondió. Luís Negreiros mantuvo durante algún tiempo el reloj en la mano y los ojos en la mujer, que tenía los suyos en el libro. El silencio era profundo. Luís Negreiros fue el primero en romperló, tirando estrepitosamente el reloj al suelo, y diciéndole en seguida a su esposa:
—¿Vamos, de quién es ese reloj?
Clarinha alzó lentamente los ojos hacia él, los bajó después, y musitó:
—No lo sé.
Luís Negreiros hizo un gesto como de quien quisiera estrangularla; se contuvo. La mujer se levantó, tomó el reloj y lo puso sobre una mesa pequeña. No pudo contenerse Luís Negreiros. Caminó hacia ella, y, apretándole los pulsos con fuerza, le dijo:
—¿No vas a responderme, demonio? ¿No vas a explicarme este enigma?
Clarinha hizo un gesto de dolor, y Luís Negreiros inmediatamente le soltó los pulsos que estaban amoratados. En otras circunstancias es probable que Luís Negreiros se le tirara a los pies y le pidiera perdón por haberle lastimado. En aquella, ni se acordó de ello; la dejó en el medio de la sala y empezó a pasear de nuevo, siempre agitado, parando de vez en cuando, como si meditara algún desenlace trágico.
Clarinha salió de la sala.
Poco después vino un esclavo a decirle que la cena estaba puesta.
—¿Dónde está la señora?
—No lo sé, señor.
Luís Negreiros fue a buscar a la mujer, la encontró en una salita de costura sentada en una silla baja, con la cabeza entre las manos, sollozando. Al oír el ruido que él hizo en la ocasión de cerrar la puerta detrás de sí, Clarinha alzó la cabeza, y Luís Negreiros pudo verle el rostro húmedo de lágrimas. Esta situación fue aún peor para él que la de la sala. Luís Negreiros no podía ver llorar a una mujer, sobre todo a la suya. Iba a secarle las lágrimas con un beso, pero reprimió el gesto, y caminó frío hacia ella: tomó una silla y se sentó delante de Clarinha.
—Estoy tranquilo, como ves, dijo él, respóndeme a lo que te pregunté con la franqueza que siempre usaste conmigo. Yo no te acuso ni sospecho nada de ti. Simplemente quisiera saber cómo apareció allí aquel reloj. ¿Fue tu padre el que lo olvidó aquí?
—No.
—Pero entonces…
—¡Oh, no me preguntes nada! exclamó Clarinha; ignoro cómo ese reloj se encuentra allí… No sé de quién es… déjame.
—¡Es demasiado! — rugió Luís Negreiros, levantándose y tirando la silla al suelo.
Clarinha se estremeció, y se quedó donde estaba. La situación se volvía cada vez más grave; Luís Negreiros paseaba cada vez más agitado, girando los ojos en las órbitas, y pareciendo presto a tirarse sobre la infeliz esposa. Esta, con los codos en el regazo y la cabeza entre las manos, tenía los ojos clavados en la pared. Pasó así cerca de un cuarto de hora. Luís Negreiros iba de nuevo a interrogar a la esposa, cuando oyó la voz del suegro, que subía las escaleras gritando:
—¡Eh, don Luís! ¡Oye, pillo!
—¡Ahí viene tu padre! —dijo Luís Negreiros—; luego me las pagarás.
Salió de la sala de costura y fue a recibir al suegro, que ya estaba en el medio de la sala, jugueteando con la sombrilla, con gran riesgo de los jarrones y del candelabro.
—¿Ustedes estaban durmiendo? preguntó el señor Meireles quitándose el sombrero y limpiándose la frente con un gran pañuelo rojo.
—No, señor, estábamos conversando…
—¿Conversando?… repitió Meireles.
Y añadió consigo:
—Estaban discutiendo… es lo que ha de ser.
—Vamos justamente a cenar, dijo Luís Negreiros. ¿Cena con nosotros?
—No vine aquí para otra cosa —acudió Meireles— ceno hoy y mañana también. No me invitaste, pero da igual.
—¿No le invité?…
—Sí, ¿no cumples años mañana?
— ¡Ah! es cierto…
No había razón aparente para que, después de estas palabras dichas con un tono lúgubre, Luís Negreiros las repitiera, pero esta vez con un tono descomunalmente alegre:
—¡Ah, es cierto!…
Meireles, que ya iba a poner el sombrero en un perchero del pasillo, se dio la vuelta asombrado hacia el yerno, en cuya cara leyó la más franca, súbita e inexplicable alegría.
—¡Está loco! —musitó Meireles.
—Vamos a cenar —bramó el yerno, yendo luego hacia adentro, mientras Meireles, siguiendo por el pasillo, iba al comedor.
Luís Negreiros fue a encontrar a la mujer en la sala de costura, y la encontró de pie, arreglándose el pelo delante de un espejo:
—Gracias —le dijo.
La joven lo miró admirada.
—Gracias —repitió Luís Negreiros—; gracias y perdóname.
Diciendo esto, intentó Luís Negreiros abrazarla; pero la joven, con un gesto noble, rechazó la caricia del marido y se fue al comedor.
—¡Tiene razón! —musitó Luís Negreiros.
Dentro de poco se encontraban los tres a la mesa de cenar, y se sirvió la sopa, que Meireles encontró, como era natural, helada. Ya iba a hacer un discurso a respecto de la incuria de los criados, cuando Luís Negreiros confesó que toda la culpa era suya, porque la cena estaba hace mucho sobre la mesa. La declaración tan solo cambió el tema del discurso, que versó entonces sobre la terrible cosa que era una cena recalentada — qui ne valut jamais rien.
Meireles era un hombre alegre, chistoso, quizá demasiado frívolo para la edad, pero, en todo caso, interesante persona. Luís Negreiros le quería mucho, y veía correspondido ese afecto de pariente y de amigo, tanto más sincero cuanto que Meireles solo tarde y de mala gana le concedió la mano de la hija. Duró el noviazgo cerca de cuatro años, gastando el padre de Clarinha más de dos en meditar y resolver el asunto del casamiento. Al fin dio su decisión, convencido antes por las lágrimas de la hija que por los predicados del yerno, decía él.
La causa de la larga vacilación eran las costumbres poco austeras de Luís Negreiros, no las que él tenía durante el noviazgo, pero las que tuvo antes y las que podría tener después. Meireles confesaba ingenuamente que había sido un marido poco ejemplar, y creía que por eso mismo debía darle a la hija mejor esposo que él. Luís Negreiros desmintió las aprensiones del suegro; el león impetuoso de los otros días, se convirtió en un pacato cordero. La amistad nació franca entre el suegro y el yerno, y Clarinha pasó a ser una de las más envidiadas jóvenes de la ciudad.
Y tal era el mérito de Luís Negreiros cuanto que no le faltaban tentaciones. El diablo se metía a veces en la piel de un amigo y lo invitaba a recordar los antiguos tiempos. Pero Luís Negreiros decía que se había retirado a un buen puerto y que no quería arriesgarse otra vez a las tormentas del alto mar.
Clarinha amaba tiernamente al marido, y era la más dócil y afable criatura que por aquellos tiempos respiraba el aire fluminense. Nunca entre ambos ocurrió el menor desentendimiento; la limpidez del cielo conyugal era siempre la misma y parecía que sería duradera. ¿Qué mal destino le sopló allí la primera nube?
Durante la cena Clarinha no dijo palabra — o pocas dijo y aún así las más breves y en tono seco.
—Están enfadados, no hay duda —pensó Meireles al ver la pertinaz mudez de la hija—. O la enfadada es solo ella, porque él me parece alegre.
Luís Negreiros efectivamente se desdoblaba en agrados, mimos y cortesías con la mujer, que ni siquiera lo miraba completamente. El marido ya daba el suegro a todos los diablos, deseoso de quedarse a solas con la esposa, para la explicación última, que reconciliaría los ánimos. Clarinha no parecía desearlo; comió poco y dos o tres veces se le soltó del pecho un suspiro.
Ya se ve que la cena, por mayores que fueran los esfuerzos, no podía ser como en los otros días. Meireles sobre todo se sentía estrecho. No que temiera algún gran acontecimiento en casa; su idea es que sin fastidios no se aprecia la felicidad, como sin tempestad no se aprecia el buen tiempo. Sin embargo, la tristeza de la hija siempre le quitaba el entusiasmo.
Cuando llegó el café, Meireles propuso que fueran los tres al teatro; Luís Negreiros aceptó la idea con entusiasmo. Clarinha la rechazó secamente.
—No te entiendo hoy, Clarinha —dijo el padre con un modo impaciente—. Tu marido está alegre y tú me pareces abatida y preocupada. ¿Qué te pasa?
Clarinha no respondió: Luís Negreiros, sin saber lo que debía decir, tomó la decisión de hacer bolitas con migas de pan. Meireles se encogió de hombros.
—Ustedes que se entiendan —dijo él—. Si mañana, a pesar de ser el día que es, siguen igual, les prometo que no me verán ni la sombra.
—¡Oh, has de venir! —iba diciendo Luís Negreiros, pero fue interrumpido por su mujer que rompió a llorar.
La cena acabó así triste y fastidiosa. Meireles la pidió al yerno que le explicara qué era aquello, y este le prometió que le diría todo en ocasión oportuna.
Poco después salía el padre de Clarinha protestando de nuevo que, si al día siguiente los hallara del mismo modo, nunca más volvería a la casa de ellos, y que si había cosa peor que una cena fría o recalentada, era una cena mal digerida. Este axioma valía el de Boileau, pero nadie le hizo caso.
Clarinha se retiró a la habitación; el marido, tan solo se despidió del suegro, fue a hablar con ella. La encontró sentada en la cama, con la cabeza sobre una almohada, y sollozando. Luís Negreiros se arrodilló delante de ella y le tomó una de las manos.
— Clarinha —dijo él— pérdoname por todo. Ya tengo la explicación del reloj; si tu padre no me hubiera hablado de venir a cenar mañana, no hubiera sido capaz de adivinar que el reloj era tu regalo de cumpleaños.
No me atrevo a describir el soberbio gesto de indignación con que la joven se incorporó al oír estas palabras do marido. Luís Negreiros la miró sin comprender nada. La joven no dijo nada; salió de la habitación y dejó al infeliz consorte más perplejo que nunca.
—¿Pero qué enigma es este? se preguntaba a sí mismo Luís Negreiros. Si no era un regalo de cumpleaños, qué explicación podría tener el tal reloj?
La situación era la misma que antes de la cena. Luís Negreiros resolvió descubrir todo aquella noche. Le pareció, sin embargo, que era conveniente reflexionar maduramente sobre el caso y tomar una resolución que fuera decisiva. Con este propósito se retiró a su despacho, y allí recordó todo lo que había sucedido desde que había llegado a casa. Analizó fríamente todas las razones, todos los incidentes, y buscó reproducir en la memoria la expresión del rostro de la joven, en toda aquella tarde. El gesto de indignación y la repulsa cuando él fue a abrazarla en la sala de costura, estaban a favor de ella; pero el movimiento con que se mordió los labios en el momento en que se le presentó el reloj, las lágrimas que le reventaron en la mesa, y más que todo el silencio que ella conservaba a respecto de la procedencia del fatal objeto, todo eso hablaba en contra de la joven.
Luís Negreiros, después de mucho cogitar, se inclinó a la más triste y deplorable de las hipótesis. Una idea mala comenzó a enterrársele en el espíritu, como una barrena, y tan hondo le penetró, que se apoderó de él en pocos instantes. Luís Negreiros era hombre furioso cuando la ocasión lo pedía. Profirió dos o tres amenazas, salió del despacho y fue a hablar con la mujer.
Clarinha se había retirado a su habitación. La puerta solo estaba cerrada. Eran las nueve de la noche. Una pequeña lamparilla iluminaba escasamente la habitación. La joven estaba otra vez sentada en la cama, pero ya no lloraba, tenía los ojos fijos en el suelo. Ni siquiera los levantó cuando sintió que el marido entraba.
Hubo un momento de silencio.
Luís Negreiros fue el primero en hablar.
—Clarinha —dijo—, este momento es solemne. Respóndeme a lo que te pregunto desde esta tarde.
La joven no respondió.
—Piénsalo bien, Clarinha —prosiguió el marido—. Puedes arriesgarte la vida.
La joven se encogió de hombros.
Una nube pasó por los ojos de Luís Negreiros. El infeliz marido lanzó las manos al regazo de la esposa y rugió:
—¡Respóndeme, demonio, o mueres!
Clarinha soltó un grito.
—¡Espera! —dijo ella.
Luís Negreiros retrocedió.
—Mátame —dijo ella—, pero lee esto primero. Cuando esta carta llegó tu oficina, tú no estabas, me lo dijo el portador.
Luís Negreiros recibió la carta, se aproximó a la lamparilla y leyó estupefacto estas líneas:
Mi nhonhô. Sé que mañana cumples años, te mando este recuerdo.
Tu Iaiá.
Así se acabó la historia del reloj de oro.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Vales-transporte ou vales-transportes?
Qual é a forma correta: vales-transporte ou vales-transportes?
A palavra vale, neste caso, não pertence ao verbo valer. Ela é um substantivo “o vale, um vale”, ou seja, um bônus que vale alguma coisa que pode ser transporte, alimentação ou qualquer outra coisa.
Sendo assim, “vale-transporte” é uma palavra composta por dois substantivos. Neste caso, geralmente vão ambos para o plural, como guardas-noturnos, abelhas-mestras, mestres-salas, etc.
Entretanto, em “vale-transporte”, apesar de os dois termos serem substantivos, o segundo está restringindo o sentido do primeiro, ou seja, determinando que tipo de vale é: com a função de transporte. Por isso, somente o primeiro elemento deveria ir para o plural "vales-transporte", mas como o composto passou a ser percebido como um único vocábulo, também se utiliza o plural "vales-transportes". Ou seja, as duas formas são aceitas: “vales-transporte” e “vales-transportes”.
O mesmo ocorre com vale-alimentação, vale-pedágio, vale-pedágio, vale-brinde, vale-compra, diferentes de “vale-tudo”, composto por um verbo e um advérbio. Neste último exemplo, os dois elementos permanecem invariáveis. Assim, o plural de “o vale-tudo” é “os vale-tudo”.
A palavra vale, neste caso, não pertence ao verbo valer. Ela é um substantivo “o vale, um vale”, ou seja, um bônus que vale alguma coisa que pode ser transporte, alimentação ou qualquer outra coisa.
Sendo assim, “vale-transporte” é uma palavra composta por dois substantivos. Neste caso, geralmente vão ambos para o plural, como guardas-noturnos, abelhas-mestras, mestres-salas, etc.
Entretanto, em “vale-transporte”, apesar de os dois termos serem substantivos, o segundo está restringindo o sentido do primeiro, ou seja, determinando que tipo de vale é: com a função de transporte. Por isso, somente o primeiro elemento deveria ir para o plural "vales-transporte", mas como o composto passou a ser percebido como um único vocábulo, também se utiliza o plural "vales-transportes". Ou seja, as duas formas são aceitas: “vales-transporte” e “vales-transportes”.
O mesmo ocorre com vale-alimentação, vale-pedágio, vale-pedágio, vale-brinde, vale-compra, diferentes de “vale-tudo”, composto por um verbo e um advérbio. Neste último exemplo, os dois elementos permanecem invariáveis. Assim, o plural de “o vale-tudo” é “os vale-tudo”.
El laberinto del Fauno
Título em português: O labirinto do fauno
Lançamento:1 de dezembro de 2006
Duração: 1h 52min
Gênero: Fantasia, drama, terror.
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro
Elenco: Álex Angulo, Ana Sáez, Ariadna Gil, César Vea, Chani Martín, Chicho Campillo, Doug Jones, Eusebio Lázaro, Federico Luppi, Fernando Albizu, Fernando Tielve, Francisco Vidal, Ivana Baquero, Maribel Verdu, Mario Zorrilla, Mila Espiga, Milo Taboada, Pablo Adán, Pedro G. Marzo, Pepa Pedroche, Roger Casamajor, Sebastián Haro, Sergi López Nacionalidade Espanha, México, EUA
O cineasta mexicano Gillermo del Toro apresenta uma obra com características de fábula, em que o imaginário incorpora-se ao real num ambiente gótico e onírico em que o sonho parece real e a realidade parece pesadelo.
O filme começa com uma narração sobre uma princesa que abandonou seu reino subterrâneo para conhecer a realidade humana e as consequências de seu ato. A voz é da menina sonhadora Ofelia (Ivana Baquero), fascinada por fábulas e contos de fadas.
A história está ambientada na Espanha, na época de pós-guerra, em 1944. A Guerra Civil terminou há cinco anos, mas, nas montanhas de Navarra um grupo de insurgente não desiste de lutar contra o regime fascista. Ofelia viaja com sua mãe grávida e convalescente, Carmen (Ariadne Gil), para o campo para conhecer seu padrasto, Vidal (Sergi Lopez), capitão das forças fascistas do general Franco. Vidal é um homem extremamente frio e não demostra nenhum afeto pela menina.
A menina sente-se solitária e procura companhia e amizade na cozinheira Mercedes (Maribél Verdú) que trabalha para as tropas do padrasto, mas que, em segredo, apoia a guerrilha liderada por seu irmão.
Enquanto o cruel capitão Vidal tem a missão de acabar com os insurgentes, Ofelia embrenha-se pela floresta e descobre um labirinto que a leva a uma trilha subterrânea. Lá ela encontra um mundo mágico e conhece o fauno, uma intrigante criatura (o mímico Doug Jones) que lhe faz uma revelação: Ofelia é na realidade a princesa do mundo mágico que precisa realizar três tarefas para retornar para seu reino.
A fantasia talvez seja uma forma da menina escapar da crueldade que a rodeia, pois não há como não associar as criaturas horripilantes do mundo mágico à violência dos tempos de guerra.
Assim como o capitão que é completamente detestável e dominador, o fauno também manipula a menina e exige desta o maior dos sacrifícios: o sangue de uma criança inocente para que ela possa voltar ao reino. Essa criança é o irmão que está prestes a nascer e que está destinado a carregar o legado de Vidal.
Uma história intrigante e comovente com elementos sobrenaturais, imagens belíssimas, cenas fortes e atuações envolventes. Vale a pena conferir!
Lançamento:1 de dezembro de 2006
Duração: 1h 52min
Gênero: Fantasia, drama, terror.
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro
Elenco: Álex Angulo, Ana Sáez, Ariadna Gil, César Vea, Chani Martín, Chicho Campillo, Doug Jones, Eusebio Lázaro, Federico Luppi, Fernando Albizu, Fernando Tielve, Francisco Vidal, Ivana Baquero, Maribel Verdu, Mario Zorrilla, Mila Espiga, Milo Taboada, Pablo Adán, Pedro G. Marzo, Pepa Pedroche, Roger Casamajor, Sebastián Haro, Sergi López Nacionalidade Espanha, México, EUA
O cineasta mexicano Gillermo del Toro apresenta uma obra com características de fábula, em que o imaginário incorpora-se ao real num ambiente gótico e onírico em que o sonho parece real e a realidade parece pesadelo.
O filme começa com uma narração sobre uma princesa que abandonou seu reino subterrâneo para conhecer a realidade humana e as consequências de seu ato. A voz é da menina sonhadora Ofelia (Ivana Baquero), fascinada por fábulas e contos de fadas.
A história está ambientada na Espanha, na época de pós-guerra, em 1944. A Guerra Civil terminou há cinco anos, mas, nas montanhas de Navarra um grupo de insurgente não desiste de lutar contra o regime fascista. Ofelia viaja com sua mãe grávida e convalescente, Carmen (Ariadne Gil), para o campo para conhecer seu padrasto, Vidal (Sergi Lopez), capitão das forças fascistas do general Franco. Vidal é um homem extremamente frio e não demostra nenhum afeto pela menina.
A menina sente-se solitária e procura companhia e amizade na cozinheira Mercedes (Maribél Verdú) que trabalha para as tropas do padrasto, mas que, em segredo, apoia a guerrilha liderada por seu irmão.
Enquanto o cruel capitão Vidal tem a missão de acabar com os insurgentes, Ofelia embrenha-se pela floresta e descobre um labirinto que a leva a uma trilha subterrânea. Lá ela encontra um mundo mágico e conhece o fauno, uma intrigante criatura (o mímico Doug Jones) que lhe faz uma revelação: Ofelia é na realidade a princesa do mundo mágico que precisa realizar três tarefas para retornar para seu reino.
A fantasia talvez seja uma forma da menina escapar da crueldade que a rodeia, pois não há como não associar as criaturas horripilantes do mundo mágico à violência dos tempos de guerra.
Assim como o capitão que é completamente detestável e dominador, o fauno também manipula a menina e exige desta o maior dos sacrifícios: o sangue de uma criança inocente para que ela possa voltar ao reino. Essa criança é o irmão que está prestes a nascer e que está destinado a carregar o legado de Vidal.
Uma história intrigante e comovente com elementos sobrenaturais, imagens belíssimas, cenas fortes e atuações envolventes. Vale a pena conferir!
Indicar-lhe ou indicá-lo?
Qual é a forma correta: indicar-lhe
ou indicá-lo?
Depende. O verbo “indicar” tem
várias regências, ou seja, depende do sentido que se quer dar ao verbo.
Vejamos algumas regências possíveis:
“Indicar” no sentido de “mostrar” ou
“apontar”:
Pode ser transitivo direto “O
cliente indicou os livros que desejava comprar”.
Também pode ser transitivo indireto
no sentido de “mostrar” ou “apontar” algo a alguém. Nesse caso, pode-se dizer: “O
guia indicou os pontos turísticos aos visitantes.” ou “O guia indicou-lhes os
pontos turísticos”.
“Indicar” no sentido de “recomendar”
ou “prescrever”:
Nesse caso o verbo é transitivo
indireto regido pela preposição “a”:
“O farmacêutico indicou-lhe (a ele
ou a ela) um comprimido para dor de cabeça”.
“O taxista indicou-lhe um bom hotel”.
“Indicar” no sentido de “denotar” ou
“revelar”:
Nesse caso o verbo é transitivo
direto, dispensa preposição:
“Essa cara indica decepção?”
“O seu sorriso indicava satisfação”.
“As nuvens indicam a possibilidade
de chuva”.
“Indicar” no sentido de designar
alguém para algo:
Nesse caso o verbo é transitivo
direto: “O diretor indicou seu suplente”.
Ou transitivo direto preposicionado:
“O diretor indicou-o como seu suplente”.
“Indicar” no sentido de “especificar”:
Nesse caso o verbo é transitivo
direto, dispensa preposição:
“Indique três pessoas que possam dar
referências”.
“Este guia indica os melhores roteiros
de viagem”.
A expressão “ao que tudo indica”
significa “ao que parece”, “aparentemente”, “pelo visto”:
“Ao
que tudo indica, ele será eleito o próximo presidente da República”.