Amor à primeira consulta
Tirei um tempinho para ir visitar meu primo Erivelton. Ele me ligou superempolgado, disse que está namorando. A notícia deixou-me perplexo. Meu primo é dentista, ele sempre foi um cara meio estranho, como posso explicar… tipo “nerd”, sempre estudando, passou quase dez anos de sua vida investindo na formação: primeiro a graduação e depois as especializações. Embrenhava-se nos livros, enquanto nós curtíamos as meninas e as baladas. Deve ser por isso que hoje ele é um renomado dentista enquanto eu sou um mero auxiliar escritório…
Cheguei ao consultório. Uma garota linda recebeu-me com um “boa tarde, pois não?”. Apresentei-me e disse que meu primo estava me esperando. Ela avisou pelo telefone e me mandou entrar.
— Oi, primo, tudo bem? E então, me conta, quer dizer que está namorando? Mas, antes me diz uma coisa, quem é a gatinha que está trabalhando na recepção?
— Gatinha? Cara, você precisa procurar um oftalmologista, a menina é simpática, sim, mas tem os dentes todos encavalados… Bom, deixa eu te contar… Cara, eu estou apaixonado, conheci uma menina linda…
— Meus parabéns, fico feliz por você! Como foi que se conheceram?
— Ela veio até aqui para fazer uma aplicação de flúor.
— Tem alguma foto? estou curioso…
— Só tenho a foto do cadastro de clientes, mas já dá para ter uma noção… — disse ele, enquanto procurava o arquivo de cadastro na tela do computador. — olha aqui, a minha princesa!
Aproximei-me da tela e tive um sobressalto, esperava ver uma princesa e o que vi foi praticamente um duende: orelhudinha, narigudinha e "zoiudinha".
— E então, o que achou, não é linda? — disse ele.
— Você não me contou como se conheceram… — disse eu tentando disfarçar.
— Ela veio ao consultório para fazer uma aplicação de flúor… Quando abriu a boca… cara! fiquei louco! que dentes! pareciam pérolas enfileiradas, que brilho! a gengiva saudável… a língua tinha uma aparência macia e rosada! Então peguei minha lente e vi aquelas papilas gustativas todas ordenadas e diligentes, como um campo de girassóis… O céu da boca… que céu… e a úvula!
— A quê? — perguntei perplexo.
— A úvula, primo, a “campainha”! Mais parecia o sino reluzente de um templo! Fiquei louco! Ela não é linda? — disse ele com brilho no olhar.
— Ela é perfeita… pra você! — respondi com uma pontinha de inveja. — Desculpe, mas preciso voltar para o escritório, o meu chefe deve estar chegando.
Saí perturbado, batendo a porta sem querer. Já na rua imaginei o êxtase de meu primo ao ver a namorada usando fio-dental… No bom sentido, é claro!
©Diana Margarita
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